As misturas de fibras têm sido um dos desafios mais difíceis de ultrapassar na indústria da moda, com as misturas algodão/poliéster a representarem 50% de todos os resíduos têxteis. Os métodos de reciclagem convencionais normalmente dão prioridade à preservação dos polímeros, resultando na perda das fibras de algodão. São também habitualmente onerosos, complexos e produzem resíduos devido à utilização de catalisadores metálicos.
«A indústria têxtil exige, urgentemente, uma solução melhor para lidar com têxteis com misturas, como poliéster/algodão. Atualmente, há poucos métodos práticos capazes de reciclar tanto o algodão como o plástico – normalmente é um cenário de um ou outro. Contudo, com a nossa nova técnica, podemos despolimerizar o poliéster nos seus monómeros, e, simultaneamente, recuperar o algodão numa escala de centenas de gramas, usando uma abordagem incrivelmente direta e amiga do ambiente. Esta metodologia de catalisador sem resíduos pode mudar tudo», explica Yang Yang, investigador pós-doutorado no grupo de Jiwoong Lee no Departamento de Química da Universidade de Copenhaga, que é o autor principal do artigo recentemente publicado na revista científica ACS Sustainable Chemestry & Engineering, publicada pela American Chemical Society.
No processo, o bicarbonato de amónio é decomposto em amónio, dióxido de carbono e água. A combinação de amónio e dióxido de carbono funciona como um catalisador, dando origem a uma reação de despolimerização seletiva que quebra o poliéster ao mesmo tempo que preserva as fibras de algodão.
Embora o amónio seja tóxico sozinho, quando combinado com dióxido de carbono, torna-se seguro para a saúde e o meio ambiente. Devido à natureza suave dos químicos envolvidos, as fibras de algodão permanecem intactas e em excelente condição, referem os investigadores.
«Inicialmente, estávamos entusiasmados por ver que funcionava tão bem em apenas garrafas PET. Depois, quando descobrimos que funcionava também em tecido de poliéster, ficámos extáticos. Foi indiscritível. Era tão fácil de fazer que quase parecia demasiado bom para ser verdade», revela Carlo Di Bernardo, estudante de doutoramento e outro coautor.
Embora o método tenha apenas sido testado a nível laboratorial até agora, os investigadores acreditam que pode ser escalado e estão agora em contacto com empresas para testar o método a nível industrial.
«Esperamos comercializar esta tecnologia que tem um enorme potencial. Manter este conhecimento dentro das paredes da universidade seria um enorme desperdício», conclui Yang Yang.