As notícias alarmantes sugerem que os retalhistas de vestuÁrio estão a ser dizimados, mas os números evidenciam que o sector estÁ a sofrer menos do que o retalho em geral. Mas, Mike Flanagan, director-executivo da Clothesource Sourcing Intelligence, uma conceituada empresa de consultoria do Reino Unido, acredita que as verdadeiras vítimas são as fÁbricas dos países em desenvolvimento e que os compradores ocidentais vão ter as suas cadeias de fornecimento gravemente afectadas, como resultado da forma como reagiram a um simples abrandamento das vendas. ExistirÁ algum prémio para o título de notícia mais alarmante? Porque houve alguns bons pretendentes quando os EUA anunciaram a queda das vendas no retalho em Setembro. Foram diversos os títulos que preconizavam uma destruição completa,e tudo por causa de uma queda de apenas 1,4% em relação ao ano anterior. No meio de toda esta agitação, poucos foram os que salientaram que os números oficiais evidenciavam que as vendas dos retalhistas de vestuÁrio sofreram menos do que as vendas a retalho em geral, caindo apenas 0,4% em relação a 2007. Na Grã-Bretanha, onde as notícias das quebras nas vendas de Setembro causaram uma situação de quase colapso nos preços das acções, as vendas dos retalhistas de vestuÁrio subiram oficialmente 0,8%. Com efeito,, os dados publicados são para os retalhistas de vestuÁrio. Eles não incluem casos como o Wal-Mart, cujas vendas se mantêm melhores do que as dos retalhistas especializados em vestuÁrio. Mas não existe qualquer dúvida de que, para muitos retalhistas, a situação estÁ terrível e que provavelmente vai tender a piorar. Contudo, a situação não estÁ mÁ porque ninguém compra roupa; as vendas estão terríveis apesar da surpreendente capacidade de resistência da globalidade do retalho de vestuÁrio. Se achamos, no entanto, que as vendas estão mesmo mÁs, que dirÁ uma companhia aérea ou um concessionÁrio de automóveis? Basicamente, os retalhistas de vestuÁrio estão descontentes porque: •Expandiram a sua capacidade (através de novas lojas, novos países ou pela Internet) mais rapidamente do que o crescimento das suas vendas. Portanto, os seus custos têm crescido mais rapidamente do que os rendimentos. •Existe uma enorme diferença entre o desempenho nas vendas dos melhores e dos piores. •Os bancos (mesmo que tenham dinheiro para emprestar) não têm a paciência que tinham hÁ um ano atrÁs com as empresas de desempenho insatisfatório. Até agora, os retalhistas ocidentais de vestuÁrio que jÁ eram fracos – quer devido a uma oferta pobre ou porque estavam financeiramente debilitados – foram abaixo mais rapidamente à medida que os credores cortaram o fornecimento. E existem ainda muitos retalhistas que estão a fazer tudo o que podem para evitar seguir o mesmo caminho. Mas quem realmente estÁ a sofrer são as fÁbricas localizadas nos países em desenvolvimento. Como exemplo, comparemos os processos de falência de duas cadeias norte-americanas: Steve & Barry’s e Mervyn’s. A Mervyn’s devia dinheiro principalmente a grandes marcas, sendo responsÁvel por causar um prejuízo à Hanesbrands no valor de 5,5 milhões de dólares. Mas o anúncio da perda pela Hanesbrands apenas originou a queda das suas acções, em linha com diversas outras acções em Wall Street. E para a maioria dos outros grandes credores da Mervyn’s, como a Levi Strauss, os prejuízos são pouco mais do que um incómodo. Esta situação contrasta com os grandes credores da Barry Steve’s. O maior foi a Zheng Yong da Suazilândia, com uma divida de quase 3 milhões de dólares (o total das exportações de vestuÁrio de todo o país para os EUA nos primeiros seis meses deste ano foram de apenas 56 milhões de dólares). A Zheng Yong foi devastada pela perda, que atingiu também outras fÁbricas do país. Os trabalhadores ficaram sem salÁrios durante meses. Mas a Barry Steve’s não arruinou apenas a Zheng Yong, prejudicou ainda os seus vizinhos HOs’ Enterprise e FTM Garment. No outro lado do continente africano, também a CAMI Apparel da Tanzânia ficou com uma dívida de 600.000 dólares, valor que corresponde a praticamente o total das exportações de vestuÁrio da Tanzânia para os EUA no primeiro semestre do ano. Não foram apenas os trabalhadores da CAMI que ficaram sem os seus salÁrios, mas toda uma cadeia de outras empresas a quem a CAMI devia dinheiro – e eles também estão em dificuldade. Na segunda parte deste artigo vamos analisar a situação no caso de países de origem que têm sido beneficiados ao nível das exportações, como o Vietname.