Os laços entre a publicidade dita sexista e as marcas de vestuário parecem cada vez mais fortes. Um artigo recentemente publicado no Journal du Textile aborda este tema, que é actualmente um dos mais discutidos no mercado dos têxteis e vestuário. Segundo a referida publicação francesa, foi um anúncio da marca de roupa interior Sloggi que veio reacender uma velha polémica em torno da utilização das imagens de jovens mulheres e homens! em campanhas publicitárias de artigos de vestuário. Os dois anúncios da marca em questão, integrada no grupo Triumph International, retratam duas raparigas fotografadas de costas e usando apenas dois slips estilo fio dental, e o outro três raparigas também vestidas com lingerie mais ou menos sexy, e foram colocados no início de Outubro em 15.000 outdoors espalhados por toda a França. Esta campanha publicitária foi amplamente discutida em França, nomeadamente na imprensa (o prestigiado Le Monde dedicou-lhe um artigo de página inteira) e na televisão, através de uma reportagem de largos minutos difundida pela estação France 2. Além disso, a BVP (Comissão de Regulamentação da Publicidade) classificou a campanha da Sloggi como retratando uma cena erótica que mais parece passar-se numa qualquer boite de strip-tease. A campanha em causa chegou mesmo a suscitar duras críticas por parte de Ségòlene Royal, deputada socialista e ex-ministra da Família e Infância, polémica que não podia ter vindo em pior altura para a BVP, que defende firmemente a auto-regulação no sector da publicidade, nomeadamente quando estão em cima da mesa temas e valores queridos da maior parte dos consumidores franceses. Antes de ordenar o cancelamento da polémica campanha, na véspera do dia previsto para o seu final, a BVP havia já apresentado uma reclamação formal junto da direcção da empresa. Por seu lado, a Triumph International reagiu a toda esta polémica através de Antoine Dumais, director da empresa em França, que afirmou tratar-se de uma campanha sexy e não sexista, acrescentando que a Sloggi está no mercado há mais de 25 anos e se há alguma coisa que nos importa e preocupa é a imagem da mulher. Antoine Dumais reforçou esta ideia, recordando que a referida marca vende anualmente em França cerca de 10 milhões de peças, e que as suas campanhas de publicidade provocam quase sempre uma enorme corrida às lojas por parte das consumidoras daquele país, que buscam avidamente as novidades de cada estação. A BVP minimiza este caso, considerando-o como uma excepção num universo em que a maior parte dos anunciantes respeitam os códigos vigentes. Entre as multas aplicadas pelo organismo que supervisiona a actividade publicitária em França, apenas 0,29% são relativas a produtos de têxteis e vestuário. Para Jacques Bille, vice-presidente da AACC (Associação das Agências de Comunicação), a BVP não deve actuar como polícia desta actividade, dado que há apenas dois anos os textos e artigos dos códigos da publicidade foram revistos e actualizados, tendo em conta o actual contexto. Gérard Nöel, vice-presidente da UDA (União dos Anunciantes Franceses), que agrupa cerca de 400 empresas, entre as quais a Dior Couture, Hermès, Galerias Lafayette e 3 Suisses, considera que há um problema a resolver e a bola actualmente está no campo das agências de publicidade e das próprias empresas anunciantes.