Projeto da Euratex coloca Portugal no centro da reciclagem

O RegioGreenTex prevê a criação de hubs industriais para a reciclagem em cinco regiões europeias, entre as quais o Norte de Portugal. CITEVE, Sasia e Tintex são as entidades portuguesas envolvidas.

Sasia

O RegioGreenTex, explica a Euratex, pretende ser uma ferramenta para atingir o objetivo de tornar a Europa num exemplo para o resto do mundo no que diz respeito à reciclagem têxtil.

«Com a criação dos RegioGreenTex Regional Hubs, vão juntar-se parceiros – incluindo empresas, investigadores, associações e legisladores – em cinco regiões europeias para definir a estratégia, o roadmap e as atividades relacionadas para criar ecossistemas tangíveis de têxteis circulares», indica a confederação europeia dos têxteis e vestuário.

O projeto «foi desenhado para promover a colaboração em I&D ao nível da UE destinada à criação de modelos de negócio circulares. Entre outras metas, pretende-se que com este projeto nasçam Hubs (não centros) de reciclagem em vários países europeus, envolvendo uma ou várias empresas, construídos em articulação regional e europeia, com partilha de boas práticas e mecanismos logísticos que permitam a especialização de alguns», explica, ao Portugal Têxtil, António Braz Costa, diretor-geral do CITEVE. «Portugal não participou na iniciativa ReHub da Euratex, contudo essa iniciativa acabou por não atingir os resultados inicialmente previstos e, ao ser lançado o RegioGreenTex exatamente para permitir perseguir os objetivos não atingidos, já Portugal tinha demonstrado capacidades de I&D e industriais tão relevantes em matéria de reciclagem que a sua inclusão no presente consorcio foi natural», acrescenta.

Estão previstos cinco hubs e cada um vai «desenvolver o seu tipo específico de ecossistema de reciclagem têxtil que será passível de ser replicado noutras regiões». No nordeste da Roménia, o foco estará no design para evitar o desperdício e a pensar na reciclagem, enquanto nas chamadas Terras Baixas – que incluem o leste dos Países Baixos, a Flandres e Altos-da-França –, as atividades irão concentrar-se na reciclagem de misturas de resíduos têxteis com destaque em vestuário de trabalho com retardantes de chama e para-aramidas. Em Itália, que terá uma localização na Toscânia e outra em Piemonte, vão concentrar-se na reciclagem de têxteis com elevada percentagem de lã e no sul de França, em Auvérnia-Ródano-Alpes, o objetivo será promover a reciclagem de têxteis técnicos.

O papel de Portugal

No Norte de Portugal, explica a Euratex, o foco estará na reciclagem de têxteis com elevada percentagem de algodão.

Segundo António Braz Costa, «a construção de um verdadeiro hub industrial para a reciclagem (recolha, separação, desmantelamento, descontaminação, reciclagem) em Portugal está em curso, impulsionado pela iniciativa empresarial e pela dimensão das atividades em I&D neste momento em execução, com destaque para o be@t – Bioeconomia na Têxtil, para o GIATEX – redução do consumo de água através da sua gestão inteligente, e outros».

Sasia

Este projeto europeu «veio reposicionar Portugal na dinâmica europeia para a reciclagem, colocar o país no mapa das capacidades de reciclar», sublinha.

Para Mariana Silva, diretora comercial e de marketing da Sasia, «este projeto é de extrema importância porque irá fomentar a criação e desenvolvimento de novos produtos reciclados, bem como a instalação de novos equipamentos produtivos direcionados para este desafio».

No caso da Sasia, a empresa «irá utilizar as suas tecnologias e know-how para criar e desenvolver fibras sustentáveis e inovadoras com novas misturas e novas matérias-primas, que posteriormente irá dar origem a vários novos produtos. O grande desafio irá ser o pós-consumo, nomeadamente a sua triagem, porém já estamos a estudar as melhores opções e temos já alguns projetos em andamento», assume.

Hata (Tintex)

«A Tintex procura estar sempre na linha da frente da inovação têxtil, especialmente no que se refere aos seus processos chave – tingimento, acabamento e revestimento. Assim, poder capitalizar estes conhecimentos com a presença num projeto ambicioso de escala europeia e que pretende mudar o paradigma a nível continental na obtenção de têxteis reciclados com base em cadeias de valor locais e europeias é crucial para os objetivos de futuro da empresa», aponta Pedro Magalhães, diretor de inovação da Tintex.

Neste projeto, a empresa «estará envolvida com os seus conhecimentos de tricotagem (com a intervenção da Hata), tingimento e acabamento. Por um lado, numa aplicação direta destes nas soluções inicialmente desenvolvidas e por outro na possibilidade de scale up de todo o processo», desvenda Pedro Magalhães.

Quanto ao papel do CITEVE, o centro «está a difundir conhecimento tecnológico entre os parceiros e em particular está a coordenar o workpackage que visa dar suporte às PME para a implementação de pilotos industriais que, uma vez articulados com outros, constituirão os tais hubs de reciclagem no contexto de cada região e como um todo na UE».

CITEVE