São estas prioridades que deverão ajudar a indústria têxtil e vestuário a prosseguir um caminho de crescimento, permitindo uma maior rentabilidade dos negócios e da produtividade e contribuindo para a competitividade das empresas.
Capitalização
Segundo o estudo da ATP apresentado no Simpósio da ITV, entre 2019-2020 e parte de 2021, as dificuldades provocadas pela crise mostraram e agravaram ainda mais as fragilidades das PME, com os seus níveis de endividamento a aumentarem consideravelmente. Por isso mesmo, «é necessário aumentar os capitais próprios e a solvabilidade das PMEs e melhorar a estrutura financeira para as organizações», ao mesmo tempo que se reduz «também o nível de dependências dos capitais alheios», apontou Ana Paula Dinis. «É fundamental financiar o crescimento», salientou.
Com o aumento do endividamento, «esta capacitação é agora mais premente do que era no passado», acrescentou a diretora-executiva da ATP.
Os fundos comunitários são, por isso, «uma oportunidade» e «poderão ajudar a ultrapassar alguns destes problemas», considera. «Poderá eventualmente ser fundamental definir aqui um programa, por exemplo, para apoiar meios para a capitalização das PMEs que são viáveis e também transformar empréstimos e outros apoios que foram concedidos às empresas com garantias do Estado em instrumentos de capital», avançou Ana Paula Dinis.
Diferenciação
A capacidade de diferenciar a atividade da indústria têxtil e vestuário portuguesa e acrescentar valor aos produtos e serviços é algo que há muito tem sido apregoado e onde tem havido um forte investimento. No entanto, realçou Ana Paula Dinis, «com certeza que é preciso continuar a investir nesta diferenciação pela inovação tecnológica, pela criatividade e pelo design. É fundamental ascender na cadeia de valor e encontrar novos segmentos de mercado e novos clientes, apostar e continuar a apostar na intensidade de serviço. Isto já era fundamental e tornou-se ainda mais vital com a crise pandémica».
Esta diferenciação terá agora de integrar as tendências emergentes, de que são exemplos a digitalização da indústria, a sustentabilidade e a economia circular, enumerou a diretora-executiva da ATP.
Sustentabilidade
Assumindo que a sustentabilidade «não é nada inovador», tendo em conta que já há muito se fala neste tópico, a verdade é que este tema «acabou por intensificar-se no âmbito desta crise», reconheceu Ana Paula Dinis, «e neste momento é necessário encontrar novos modelos de negócio que estejam assentes na inovação e na sustentabilidade», acrescentou.
Economia circular, energias limpas, utilização inteligente de recursos, métodos mais eficientes e inovadores são alguns dos conceitos fundamentais para responder a esta prioridade, a que se soma o design. «O design está aliado à economia circular e um não vive sem o outro. Temas como a durabilidade, a reparabilidade, a adaptabilidade para reutilização e reciclagem estão hoje na ordem do dia – daí a importância do design para se continuar a investir nestas questões», indicou, assinalando que «existem aqui um conjunto de oportunidades no âmbito da sustentabilidade».
Digitalização
Segundo Ana Paula Dinis, «temos vindo a fazer algum trabalho» na área da digitalização, «mas é necessário continuar a investir ao nível de todos os processos da cadeia de valor, desde o design ao retalho, produção, embalagem, distribuição», afirmou.
Rapidez, integração e tomada de decisão apoiada em dados e, por isso, mais eficiente são algumas das mais-valias de uma cadeia produtiva digital. «É necessário também utilizar esta tecnologia mais digital como forma de fazer esta transição para uma economia mais circular e ainda, de forma também a melhorarmos o nosso posicionamento no modelo de negócios B2C, apostar cada vez mais no e-commerce», adiantou a diretora-executiva da ATP.
Cooperação
«O individualismo acaba por ser um dos nossos pontos fracos e, portanto, é muito necessário apostar em cooperação – cooperação entre as empresas, cooperação entre as empresas e os centros de competências e também cooperação em toda a cadeia de valor – como forma de conseguir melhorar e promover o nosso valor acrescentado», resumiu Ana Paula Dinis.
Entre esta ideia de colaboração e cooperação destaca-se a área dos projetos de I&D com entidades do sistema científico-tecnológico para o desenvolvimento de novos produtos, materiais, processos e tecnologias, assim como de novas formas de organização do trabalho.
A cooperação poderá ainda ser fundamental para as empresas ganharem escala, «através de fusões e aquisições», salientou.
Capacitação dos recursos humanos
As revoluções fazem-se com pessoas e a concretização das prioridades também só se consegue fazer com a capacitação dos recursos humanos, existentes e futuros. «É necessário promover a capacitação para que os trabalhadores nestas organizações possam ser capazes de responder a estes novos desafios. São necessárias novas competências, novas competências que não se ficam pelas questões dos processos produtivos mas também do design, finanças, desenvolvimento de produtos, logística, marketing, vendas, atendimento ao cliente num negócio que é cada vez mais digital», esclareceu a diretora-executiva da ATP. «É necessário atrair conhecimento e ter talentos e é necessário apostar numa interdisciplinaridade, quer na formação académica, quer na formação profissional», reforçou.
Internacionalização
A última prioridade enumerada é já uma “velha” conhecida da indústria têxtil e vestuário portuguesa e, apesar do trabalho já efetuado neste âmbito, «é a única forma do nosso sector continuar», acredita Ana Paula Dinis. «Temos uma vocação para concorrer globalmente, temos uma capacidade produtiva que é excessiva para as nossas capacidades e para o nosso mercado, portanto a internacionalização é a única saída», justificou.
Esta terá de ser, contudo, uma internacionalização diferente, mais focada na comunicação dos novos valores da indústria têxtil e vestuário e numa oferta alinhada com as grandes tendências, nomeadamente da sustentabilidade.