Tal como o ano 2000 era um marco esperado nos anos 80 do século XX, também 2020 surge com a mesma carga de renovação e de inspiração, sendo rotulado há muito como “o futuro”. Este futuro, contudo, é abordado de forma diferente por cada um e, à medida que fica mais próximo, torna-se mais evidente que será uma altura para moldar e encontrar soluções que permitam resolver problemas atuais e garantir, efetivamente, a sobrevivência e prosperidade das próximas gerações.
De acordo com a visão do WGSN, em 2020 «vamos abraçar a importância de novas vozes, perspetivas intergeracionais e um mundo onde as nossas necessidades emocionais não poderão ser preenchidas por um smartphone. Vamos afastar-nos de estruturas corporativas tradicionais gastas e do consumo em massa. Vamos arranjar o que está partido em vez de estragar o que está a funcionar».
Os designers irão adicionar personalidade à inteligência artificial – a Alexa, da Amazon, já se ri e a Siri, da Apple, em breve irá sussurrar. Será ainda acrescentada empatia ao local de trabalho, sendo que a inteligência emocional será tão ou mais valorizada que o quociente de inteligência (QI) nos trabalhadores.
A idade vai deixar de dividir e embora as gerações sejam diferentes, com acentuadas divergências regionais, vão trabalhar em prol de um futuro melhor. Em muitas áreas emergentes, o futuro é jovem, com África, Índia e Brasil atingidos por uma vaga de otimismo que irá resultar numa era de mudança social e política. Já na Europa, nos EUA e em partes da Ásia, a Geração X (nascida nos anos 60 até aos anos 80) e os Baby Boomers (os bebés do pós II Guerra Mundial) estão a liderar a mudança corporativa para resolver problemas sociais mais vastos, desde os cuidados de saúde à habitação.
O ano de 2020 será ainda, segundo o WGSN, uma era de pós-consumismo. Nos mercados maduros, vai comprar-se menos e investir-se mais em novos sistemas que alterem o ciclo de vida dos produtos de descartáveis para renováveis. Nos países emergentes, a valorização cultural irá sobrepor-se às importações ocidentais, com designers e artistas a darem mais valor à sua herança e o consumo local criativo a tornar-se mais apetecível.
Tendo esta visão como premissa, o WGSN desenvolveu três tendências que, acredita, irão moldar o design já na primavera-verão 2020: Code Create, Designing Emotion e Empower Up!.
Code Create

Dos códigos biológicos, como o ADN, aos códigos de vestuário e de comportamento, em breve será possível redesenhar praticamente tudo. A natureza e a tecnologia vão ser intimamente combinadas para criar novos sistemas, materiais e produtos que fundem os mundos físico e digital.
Com o consumo consciente a ganhar cada vez mais dinamismo, novas tecnologias de customização irão responder à necessidade de “melhor design, não novo design”, com produtos feitos para satisfazer amplamente as necessidades e, como tal, a terem um ciclo de vida alargado.
Além disso, organismos como algas e cogumelos passarão a fazer parte das soluções da moda – em Portugal, a Tintex está a desenvolver processos de acabamentos neste âmbito – e os materiais circulares irão ganhar aceitação generalizada. Os próprios processos de reciclagem estão a ser redesenhados para os tornar mais acessíveis e úteis. Uma das vencedoras do prémio Global Change Award 2018 da Fundação H&M é a The Regenerator, uma tecnologia revolucionária que separa as fibras de tecidos em mistura algodão/poliéster de forma a que cada fibra possa ser reciclada.
Designing Emotion
Os humanos vão exigir mais da tecnologia e deles próprios. A inteligência emocional e as ligações – tanto reais como digitais – serão pilares do futuro. Haverá uma integração crescente das necessidades humanas de toque no mundo da tecnologia invisível e, ao mesmo tempo, isto dará à tecnologia um sentimento de emoção. Os humanos irão tornar-se mais digitais enquanto a tecnologia será cada vez mais humana.

À medida que o interesse em experiências imersivas cresce, os designers vão alargar, testar e aumentar o poder dos sentidos. Desde o calor corporal ao toque imaginado, estamos apenas no início da compreensão da ciência sensorial, dando margem à exploração dos criativos. Uma nova pulseira wearable Embr Wave aumenta a energia do corpo, fornecendo impulsos quentes ou frios para rapidamente regular a temperatura. Em 2020, Marina Abramović irá levar o poder sensorial ao extremo para a sua performance na Royal Academy of Arts, em Londres. A artista vai eletrocutar-se para adicionar energia suficiente ao seu corpo de forma a sercapaz de apagar uma vela simplesmente apontando o dedo.
Uma vez que a tecnologia digital permite designs cada vez mais perfeitos, os criativos vão investir na imperfeição, nas texturas e elementos estranhos que nos tornam humanos e, ao mesmo tempo, especiais.
Empower Up!
Um novo sentido de vitalidade e mudança vai surgir, impulsionado mundialmente pela juventude, nomeadamente pela Geração Z, e por grupos que anteriormente não tinham voz. Estes indivíduos com novo poder, muitas vezes otimistas e aspiracionais, vão exigir transparência, ética e consciência social tanto por parte de países como de empresas. No gigante chinês Alibaba, a cultura corporativa já mudou, com a performance dos funcionários a ser classificada de acordo não com os números das vendas mas com a forma como estes incorporam os valores da empresa: o cliente primeiro, trabalho de equipa, abraçar a mudança, integridade, paixão e compromisso.
O design irá focar-se em fazer em vez de apenas produzir e assumirá um novo propósito. A etnografia irá influenciar os criativos e o design colaborativo ganhará força. O continente africano regressará ao centro das atenções, graças a uma população jovem e ao redobrado interesse por parte do mundo. O filme da Marvel Black Panther é um dos sucessos de bilheteira do ano e trouxe ideias e uma estética de afrofuturismo (que mistura a cultura africana com tecnologia futurista e influências da ficção científica) para o palco global.