Quando a cadeia de moda Primark se estreou nos EUA, em Boston, no passado mês de setembro (ver A invasão da América), os retalhistas americanos de vestuário estremeceram, recorda a Quartz.
Na Europa, a Primark vende moda surpreendentemente barata, mesmo para os padrões de especialistas da fast fashion como a H&M. Agora que a Primark revelou que pretende abrir oito pontos de venda nos EUA até ao final do ano, a Morgan Stanley mostrou quão ameaçadora esta estratégia de expansão pode ser para as forças de retalho implementadas no “novo mundo”.
A Morgan Stanley realizou uma pesquisa em 100 artigos de 14 lojas na área de Boston para comparar os preços praticados pela Primark com os propostos por outros grandes retalhistas de vestuário. Em média, os outros retalhistas nos EUA praticavam preços até 202% mais caros do que a Primark. Mesmo a Walmart, o epíteto da poupança nos EUA, tinha preços mais elevados – cerca de 36%.
O diferencial foi ainda mais pronunciado quando a Morgan Stanley dividiu os preços de acordo com duas categorias – vestuário homem e vestuário mulher. A moda feminina – uma categoria com vendas mais acentuadas do que a masculina – apresentava, em média, preços 242% mais elevados na concorrência da Primark.
A Morgan Stanley não comparou artigos específicos, mas uma comparação de preços da Keybanc no ano passado mostrou que os vestidos sweater da Primark custam 14 dólares (aproximadamente 12,40 euros), em comparação com os 16,88 na Walmart e os 49,90 na Uniqlo.
Os preços da Primark dão-lhe uma vantagem significativa entre o grupo crescente de millennials e junto dos seus sucessores, a geração Z. A Morgan Stanley ressalvou mesmo que os retalhistas dedicados aos guarda-roupas dos adolescentes, como a Hollister e a American Eagle, bem como a Old Navy e a Forever 21, são as marcas que a Primark mais poderá afetar.
Nos próximos 12 a 18 meses, estima-se que a Primark possa retirar cerca de 325 milhões de dólares em quota de mercado aos retalhistas norte-americanos, apenas com as oito lojas planeadas.
De acordo com o relatório anual de 2015 da empresa-mãe da Primark, a Associated British Foods, os preços baixos da retalhista de moda são mantidos porque compra em grandes quantidades. A marca também não faz publicidade, ao contrário de rivais como a H&M, e não procura replicar as margens de lucro da concorrência.
Como outras retalhistas de preços baixos, a Primark também efetua o seu sourcing em fábricas de países com baixos salários, como o Bangladesh – algo que continuamente lhe tem valido críticas sobre padrões éticos e ambientais, sobretudo desde o colapso do Rana Plaza, em 2013 (ver Da fábrica para a universidade). Já a empresa defende que mantém um rigoroso código de conduta para fornecedores e que todas as suas fábricas são cuidadosamente inspecionadas (ver A ética da Primark).
E, resume a Quartz, ainda que os ambientalistas possam opor-se à fórmula da Primark, que incentiva os consumidores a comprar roupa em quantidade, os norte-americanos têm vindo a comprar mais e a gastar menos há anos.