Primark investe no online, mas não no e-commerce

A retalhista da fast fashion lançou um novo website com novas funcionalidades, como a possibilidade de saber se uma determinada peça existe numa dada loja física, mas continua avessa ao comércio eletrónico, não permitindo ao consumidor comprar diretamente online.

[©Primark]

A Primark desvendou a última fase da sua estratégia digital com o lançamento do seu novo website no passado dia 7 de abril. A retalhista de moda a preços baixos afirma que este canal foi criado para conectar melhor a jornada entre as pesquisas online e as compras na loja, com o website a mostrar milhares de produtos das gamas mais vendidas da Primark e com uma novidade: a possibilidade dos consumidores verificarem online a disponibilidade de um produto na sua loja local.

Para já a funcionar apenas no Reino Unido – a expansão para 13 outros mercados será feita nos próximos meses – o novo website representa, segundo a Primark, uma mudança no papel do digital no seu negócio e reconhece o papel crítico que o online pode ter para apoiar as vendas em loja, num altura em que procura impulsionar o tráfego e chegar a novos consumidores.

A Primark refere que o site terá uma maior proporção das suas gamas de produto e irá albergar mais informação sobre os artigos e aquilo que afirma ser uma melhor imagem.

Como parte da sua expansão no digital, a retalhista britânica revela que está a fazer testes com o marketing digital para apoiar o website. Pela primeira vez, destaca um artigo do Just Style, a Primark vai recolher dados dos consumidores para criar estratégias de marketing mais direcionadas, já que os clientes vão poder criar uma conta, subscrever uma newsletter e criar uma “lista de desejos” com os seus artigos favoritos.

A Primark acredita que o website vai tornar a marca e as suas gamas de produto muito mais visíveis online quando as pessoas estão a fazer pesquisas.

«Este lançamento representa um marco importante para a Primark, mudando a forma como usamos o digital para conectar as nossas lojas», afirma Matt Houston, diretor do digital e de estratégia da Primark. «Sabemos que os consumidores atualmente decidem uma grande parte das suas compras de vestuário com pesquisas online. Vemos uma oportunidade significativa de gerar mais tráfego e mais vendas nas nossas lojas melhorando a nossa posição no digital e assegurando que o que oferecemos está mais visível online. O nosso website dá-nos a oportunidade de chegar a novos consumidores que podem não estar a entrar atualmente nas nossas lojas e tentá-los com os ótimos produtos e valor que oferecemos», realça.

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Andrew Brothers, diretor de informação da Primark, indica que «sabemos que o nosso website é algo que os nossos clientes queriam ter de nós há algum tempo e reconhecemos que chegamos mais tarde do que a maioria a este espaço. Contudo, isso traz-nos uma oportunidade, já que pudemos gastar tempo a compreender o papel que o digital pode ter a melhorar o nosso negócio. O novo website está apoiado numa arquitetura tecnológica moderna e flexível para dar aos nossos clientes a melhor experiência de utilização».

O diretor de informação da Primark sublinha ainda que a retalhista reforçou a equipa por detrás do website nos últimos meses para fornecer as fundações para dar aos consumidores «uma experiência digital que melhore continuamente a experiência digital nos próximos meses e anos».

Impacto no negócio

Os consumidores ainda não poderão fazer compras online da Primark, algo que Louise Deglise-Favre, analista de vestuário na especialista em inteligência de mercado GlobalData, acredita que irá ter impacto no crescimento da retalhista. «Embora o novo website eleve a presença online da Primark e traga uma modernidade adicional à marca, a falta de um website transacional vai continuar a ser um enorme obstáculo ao crescimento futuro da Primark», afirma ao Just Style.

«A atualização do website parece ótima e acrescenta muito mais funcionalidade ao website original, sobretudo com a verificação de disponibilidade, mas não dá aos consumidores a conveniência e facilidade de comprar online, algo a que já começaram a ficar acostumados», salienta Louise Deglise-Favre.

Para a analista, «abrir um canal digital representa um grande investimento, o que acredito que a Primark não está pronta para fazer. A Primark teria de investir em capacidades logísticas e de envio de encomendas adicionais, o que pode ser muito caro. Além disso, a Primark consegue manter os seus preços baixos porque tem margens baixas nos produtos, apostando em vez disso no volume para conseguir ter lucro. Os aumentos substanciais dos custos ligados ao investimento de abrir um canal online pode fazer desaparecer estas margens já baixas e baixar a rentabilidade da marca. Além disso, ter uma presença online vai também significar lidar com devoluções, o que pode representar grandes custos e pesar nas margens de lucro».

[©Primark]

Louise Deglise-Favre está convicta, contudo, que o novo website vai provavelmente ajudar as vendas, já que os consumidores vão poder ver mais produtos e saber se estão disponíveis em determinada loja.

«Os consumidores vão conseguir pesquisar mais facilmente e potencialmente ver algo que queiram para ir à loja. Contudo, ao pedir aos consumidores para irem fisicamente às lojas, a Primark está a perder para os seus concorrentes em termos de conveniência. O novo website vai ajudar a sua imagem de marca, quanto mais não seja porque quando os consumidores procuram a marca, vão finalmente encontrar um website funcional, bem organizado e com um visual moderno, em oposição ao website arcaico e desconjuntado que viam antes», conclui a analista.