Primark bate recordes e devolve ajudas do Estado

Depois de ter fechado portas e registado perdas significativas com a pandemia, a Primark bateu recordes de vendas na reabertura das lojas de Inglaterra e no País de Gales, motivo pelo qual a retalhista vai devolver as ajudas que pediu ao Estado.

[©Instagram/@primark]

A Associated British Foods (ABF), proprietária da cadeia de moda irlandesa, anunciou que vai reembolsar os 121 milhões de libras (140 milhões de euros) em ajudas obtidas do Estado, uma vez que a reabertura das lojas na Inglaterra e no País de Gales bateu recordes de vendas apenas na primeira semana.

De acordo com declarações da ABF, mais de metade das lojas de Inglaterra e do País de Gales bateu os próprios recordes de vendas, dada a movimentação significativa e a quantidade de compras por consumidor.

«A procura por nightwear, lingerie e leisurewear continuou forte. No entanto, em comparação com as reaberturas anteriores, desta vez vimos uma excelente procura pelas nossas linhas de moda, principalmente em womenswear», destaca a ABF.

Mesmo assim, os avanços na Zona Euro foram condicionados por algumas datas de reabertura adiadas e, embora muitas lojas tivessem de portas abertas, as vendas estiveram submetidas a muitas restrições como o número controlado de clientes no interior. Nas lojas dos Países Baixos, Alemanha e da Bélgica, a retalhista implementou um sistema de reserva prévia precisamente para controlar a afluência, permitindo que as vendas prosseguissem, embora a um nível bastante menor.

No ano passado, a Primark foi obrigada a fechar lojas várias vezes, o que resultou em perdas superiores a três mil milhões de libras de vendas e mil milhões de libras em lucro.

«Durante este período, recorremos aos programas de manutenção de empregos oferecidos pelos governos do Reino Unido e da Europa para pagar aos funcionários que não trabalhassem enquanto as lojas estavam fechadas. Essas medidas permitiram-nos preservar todos os postos de trabalho dos 65 mil funcionários da Primark», afirma o presidente Michael McLintock, citado pelo just-style.com, acrescentando que a ABF não planeia mais utilizar apoios e vai reembolsar os 121 milhões de libras recebidos até à data, incluindo a devolução de 72 milhões de libras ao Governo do Reino Unido. No ano fiscal anterior, a retalhista recebeu 98 milhões de libras em programas de manutenção de empregos.

Resultados e otimismo

As vendas da Primark registaram um declínio de 41%, para 2,23 mil milhões de euros, nas 24 semanas terminadas a 27 de fevereiro. A retalhista de moda foi particularmente afetada pela pandemia, tendo em conta que não possui canal de vendas online. Por sua vez, o lucro operacional ajustado baixou 90%, dos 441 milhões para os 43 milhões de libras, em comparação ao ano anterior.

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A ABF destaca ainda que maioria das lojas Primark continuou fechada em novembro e dezembro e estima que a perda de vendas foi de 1,1 mil milhões de libras. Quando as lojas reabriram, as restrições resultaram em vendas comparáveis de -15% em relação ao ano passado.

O desempenho comparável no Reino Unido foi menos seis pontos percentuais no primeiro semestre, enquanto o desempenho comparável da Zona Euro no primeiro semestre foi de menos 20%. Já nos EUA, a detentora da Primark, revela que os negócios evidenciaram uma boa performance e são rentáveis, visto que nenhuma loja teve de fechar e o desempenho das vendas comparáveis foi de menos 11% e menos 3%, à exceção da loja no centro da cidade de Boston.

No final de abril, a Primark espera que 275 lojas, que representam 68% do espaço de venda no negócio da retalhista, estejam abertas, uma percentagem que pode aumentar para 79% se as lojas com comércio restrito forem incluídas. Baseada nas datas de reabertura conhecidas até ao momento, a ABF estima que as vendas perdidas durante a segunda metade do exercício financeiro sejam agora de 700 milhões de libras. O período pós-reabertura será muito lucrativo com a venda do stock disponível superior ao habitual. «Alinhado com a nossa prática normal, colocamos pedidos substanciais de pedidos para a próxima época de outono-inverno», adianta a ABF.

Depois de ter aberto em março uma nova loja em Chicago, a retalhista planeia inaugurar mais oito pontos de venda, nomeadamente na Praga Wenceslas Square na República Checa, Poznan na Polónia, Roma Est em Itália, três novas lojas em Espanha, Tamworth no Reino Unido e Rotterdam Forum nos Países Baixos. «Continuamos a estar muito otimistas no que diz respeito às oportunidades de crescimento nos negócios da Primark», admite a ABF.

A mais procurada

Segundo Pippa Stephens, analista de retalho da GlobalData, a oferta de valor aumenta a popularidade. «Em Inglaterra e País de Gales, como já esperado, tem sido uma das retalhistas mais procuradas desde a reabertura das lojas não essenciais a 12 de abril, com filas fora dos principais locais, movimentação ao nível do pré-pandemia e vendas recordes alcançadas», indica a especialista.

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«A popularidade é o resultado das vastas gamas de artigos apelativos e do posicionamento do preço, com este último a tornar-se cada vez mais favorável aos consumidores neste período de incerteza económica. Porém, com muitos dos mercados europeus a introduzirem recentemente novos bloqueios, a Primark estima perdas de vendas no valor de 700 milhões de libras no segundo semestre», explica Pippa Stephens, salientando que a presença da Primark em mercados internacionais, fora do Reino Unido, foram a «tábua de salvação» durante o primeiro semestre do ano fiscal de 2020/2021.

Darren Shirley, analista da Shore Capital, reforça a notoriedade da Primark e a procura reprimida na reabertura das lojas na Inglaterra e no País de Gales, gerando, por isso, vendas recordes. «Acreditamos que este seja o facto mais importante nos resultados de hoje que demonstra, claramente, a potência contínua da oferta da Primark, apesar dos desafios mais amplos nas ruas principais», resume. «Também observamos que o desempenho recorde de vendas foi impulsionado pela combinação do aumento do tamanho do cesto de compras e pela recuperação da movimentação para o nível pré-covid nas ruas comerciais, shopping centers e retalhistas», conclui Darren Shirley.