Prego a fundo no 3D

A impressão 3D pode mudar radicalmente a relação dos consumidores com o vestuário muito mais cedo do que se esperava – pelo menos é assim que pensa Ray Kurzweil, o visionário da secção de inteligência artificial da gigante Google.

Ray Kurzweil, diretor de engenharia na secção de inteligência artificial da Google, à margem da recente conferência Global Leaders, promovida pelo jornal The New York Times em Washington, alertou para os avanços na área da impressão a três dimensões (3D).

Kurzweil foi o futurista que previu com precisão o crescimento explosivo do uso mundial da Internet nos anos 1990, a ascensão dos dispositivos móveis nos anos 2000 e o domínio dos veículos autodirigidos na corrente década. Agora, acredita que os consumidores vão poder imprimir o seu vestuário em 3D, à medida e a partir de casa até 2020.

Embora tenham sido feitos consideráveis avanços nos últimos anos na impressão 3D de produtos não-plásticos, nomeadamente sapatilhas e óculos de sol, a impressão de artigos à base de tecido permanece na sua infância devido à qualidade rígida e sintética das matérias-primas que as impressoras atuais precisam de usar. Em apenas uma década, antecipa Kurzweil, isso vai começar a mudar.

«À medida que a variedade de materiais disponíveis para imprimir em 3D se torna mais vasta e menos dispendiosa, quer os designs de vestuário open-source e gratuitos, quer os privados vão estar disponíveis online em menos de 10 anos», afirmou Kurzweil à audiência, repleta de executivos da indústria da moda. «Até 2020 haverá uma série de produtos disponíveis para compra por um centavo de dólar para imprimir imediatamente. As pessoas terem impressoras em casa vai ser a norma», explicou.

Uma vez descrito por Bill Gates como «a melhor pessoa que conheço na previsão do futuro da inteligência artificial», Ray Kurzweil defendeu que as marcas de moda teriam, então, de se ajustar a um nível de controlo decrescente sobre o design, a produção e a gestão de stocks, numa revisão tecnológica da indústria do vestuário semelhante à já experimentada pelos sectores dos media e da música. O que não é necessariamente uma má notícia.

«O valor dessas indústrias subiu, não desceu, e a mesma coisa vai acontecer com a moda», advogou. «Há um mercado open-source com milhões de produtos gratuitos, mas as pessoas ainda gastam dinheiro para ler “Harry Potter”, ver o último blockbuster ou comprar as músicas do seu artista favorito. Alimentado pela facilidade de distribuição e promoção, temos a coexistência de um mercado open-source e de um mercado privado. Essa é a direção que o vestuário também deverá seguir», apontou.

As marcas vão continuar a oferecer artigos de autor e a desenvolver tendências, referiu Kurzweil, mas o processo de fabrico será transformado.

O diretor de engenharia na secção de inteligência artificial da Google, de 68 anos, especulou também sobre como o mundo do luxo poderá ser reforçado pela fusão da mente humana com a inteligência artificial. O rápido progresso na nanotecnologia e na sequenciação de genes levou-o a prever que os seres humanos serão híbridos até 2045 e que os cérebros serão conectados à “nuvem” através de nanorrobots do tamanho das células sanguíneas que aumentarão a inteligência e as capacidades humanas de criatividade e emoção.

«As máquinas inteligentes vão saltar dos nossos bolsos para dentro dos nossos corpos e cérebros», afirmou. «Poderemos transcender as nossas limitações atuais e multiplicar o nosso pensamento um milhão de vezes. Isso, por sua vez, vai tornar-nos mais criativos e mais imaginativos nos nossos projetos, particularmente em campos como a arte, a música e a moda», acrescentou Ray Kurzweil.