Pós Covid-19 traz novo perfil de consumidor

O preço assume um peso determinante nas opções dos consumidores, mas vem agora aliado à segurança, rastreio, cuidados de saúde e alimentação reforçados. O canal online veio para ficar.

Depois de quase dois meses fechados em casa, os consumidores revelam um novo perfil. A primeira preocupação surge com o fator preço, a exemplo, do que já acontecera com a crise económica, em que a sensibilidade ao fator preço subiu de 52% para os atuais 67%. Um regresso à normalidade, ou a uma nova normalidade, intensificará a preocupação com o controlo das despesas, de acordo com um relatório da consultora Nielsen, citado pelo jornal espanhol El Economista.

A orientação para o fator preço será, assim, uma das características do consumidor pós-pandemia, mas não será a única. A esta deve somar-se um fator que, embora já existisse, assume agora um papel determinante: a segurança e o rastreio.

Para a consultora, estes fatores podem levar a uma deslealdade por parte do consumidor, até agora impensável.

A vertente emocional e social do consumidor será mais afetada. Por um lado, surge um consumidor frágil e vulnerável, que procura garantia de refúgio na proximidade. Um refúgio em que se converteu a sua casa, intensificando a tendência já sentida em 2019, passando mais tempo em casa e mais tempo conectado e, sobretudo, mantendo a distância social.

Outra das tendências que se acentuará no pós Covid-19 será o recurso às tecnologias e ao omnicanal.

Apesar de continuarem a existir compras físicas, deverá haver um incremento do recurso ao online, sobretudo no que diz respeito à saúde, bem-estar e cuidados pessoais. Também o segmento de bebidas e alimentação deverá crescer neste canal, sendo esperado um crescimento de cinco a seis pontos.

Em Espanha, o crescimento online, desde que começou a crise da pandemia provocada pelo novo coronavírus, já atingiu os 86,6%. Na semana de 20 a 26 de abril, o aumento em relação ao período homólogo do ano anterior foi de 149%.

O exemplo da China

Na hora de procurar respostas como será o consumidor do pós-confinamento, a China poderá ser o “modelo”, uma vez que está numa fase mais avançada. No caso da China, 60% dos consumidores estão a impulsionar o online e a entrega, 53% estão a fazer expandir o conceito saúde e quatro em cada 10 procuram potenciar o consumo de frescos na busca de uma melhor alimentação.

Isto implica alterações do ponto de vista do mercado, sobretudo do distribuidor, que terá que desenvolver uma cadeia mais ágil e digital, num acelerar do omnicanal e em atender novas necessidades. Neste último caso, surgem oportunidades como desenvolver dentro da loja um espaço dedicado inteiramente à saúde e à especialização de produtos frescos de produtores locais.

«Há dois meses, discutíamos mudanças estruturais como a deslealdade do consumidor, a proximidade e o refúgio em casa. Três mudanças que agora parecem estar em aceleração com a crise da saúde», afirma Patricia Daimel, «A estas mudanças devemos acrescentar a segurança e o rastreamento, exigidas por um consumidor mais frágil e a expansão de um comércio eletrónico, pois parece que o medo da pandemia supera o medo das compras on-line», explica a CEO da Nielsen Iberia.