Portugal na estreia de FOB na Kenzo

Felipe Oliveira Baptista estreou-se hoje na passerelle da Kenzo e não deixou de lado as raízes: as suas e a as da marca. O diretor criativo da casa de moda do grupo LVMH trouxe Júlio Pomar e a história criada por Kenzo Takada para a ribalta, num cenário labiríntico e reutilizável concebido pelo Bureau Betak, de Alexandre de Betak.

Felipe Oliveira Baptista

“Going places” foi o mote da primeira coleção de Felipe Oliveira Baptista para a Kenzo, que foi apresentada hoje de manhã em Paris. As viagens do designer ao Japão, o contacto com o fundador da marca e a vontade de escrever um novo capítulo foram visíveis na passerelle, transparente e cheia de especialistas em moda, imprensa, apoiantes e curiosos, incluindo o próprio fundador, Kenzo Takada, que encheram os túneis criados pelo Bureau Betak, de Alexandre de Betak – há muito parceiro de Felipe Oliveira Baptista na cenografia dos seus desfiles – no Institut National de Jeunes Sourdes.

As mudanças eram esperadas, não tivesse o designer português redesenhado já o logótipo da marca. «Entusiástico, nómada e aberto ao mundo» são alguns dos adjetivos usados para descrever a nova imagem da marca, um K que parece fruto da junção de peças de um jogo de construção. «Há um espírito nómada na Kenzo», confirmou Felipe Oliveira Baptista ao Financial Times na semana passada. «Penso que a Kenzo procura [inspiração] em todo o lado. Tem uma mente muito aberta, otimista e livre. Foi uma das razões pelas quais retiramos “Paris” [do logótipo] e mantivemos apenas “Kenzo”», explicou.

De todos os lugares

Esta liberdade de inspiração fez-se sentir na coleção para o próximo outono-inverno. O moodboard incluiu imagens de arquivo da era de Kenzo Takada, fotos abstratas tiradas nas ruas do Japão, Argélia e EUA e imagens de trajes tradicionais dos Açores, a terra natal de Felipe Oliveira Baptista.

Estes últimos refletiram-se nas capas com capuzes envergadas por alguns dos manequins esta manhã, com propostas caracterizadas por silhuetas amplas, mas estruturadas, tanto para homem como para mulher, de onde se destacaram parkas, gabardines, túnicas, vestidos compridos com fechos, muitos acessórios, como chapéus e bolsas para usar à cintura, e, ao longo de toda a coleção, uma tónica sportswear. «Adoro a mistura entre as coisas formais e desportivas, o conforto esteve sempre na base do vestuário Kenzo. A ideia era revolucionária quando Kenzo chegou a Paris, onde se usavam fatos e peças mais estruturadas», confirmou o diretor criativo à AFP.

Além dos trajes açorianos, a inspiração lusa traduziu-se igualmente nos tigres que foram omnipresentes em muitas peças e beberam inspiração nos trabalhos de Júlio Pomar, nos anos 80, cedidos pela fundação do pintor. «Estes são vestidos-pintura, tirados do trabalho do pintor neorrealista Júlio Pomar. Um pintor lisboeta, que viveu em Paris durante muito tempo e é considerado como uma das grandes figuras da arte portuguesa do século XX», refere um comunicado da marca citado pela Lusa. Tons naturais e padrões camuflados estiveram também em evidência.

Uma coleção ovacionada num cenário, que tal como as peças desenhadas por Felipe, Oliveira Baptista, também “vai a lugares”. «O cenário será reutilizado noutras formas em eventos nas próximas estações, como lojas pop-up ou apresentações», revelou o designer à Wallpaper. O Bureau Betak, de resto, anunciou que está a alinhar a sua estratégia pelos valores da sustentabilidade, tendo sido, a nível mundial, a primeira grande empresa a receber a certificação da ISO 20121 para gestão de eventos sustentáveis.