Sem incentivos públicos e com metade do orçamento habitual, o Portugal Fashion voltou para a 52.ª edição, numa «edição de compromisso» que trouxe a moda nacional para a ribalta. «Esta edição é marcada por fortes constrangimentos financeiros, só possíveis de minimizar com o esforço da ANJE e dos nossos parceiros privados e institucionais. Um esforço que mostra que o Portugal Fashion continua a mobilizar muitas entidades e atores da fileira moda, e não só, que acreditam convictamente na validade, pertinência, interesse e necessidade do projeto», afirma Mónica Neto, diretora do Portugal Fashion. «Adiar esta edição não era, para nós, hipótese. Isso seria uma desconsideração para com os criadores e marcas cujo sucesso do trabalho depende, em boa medida, do apoio do Portugal Fashion. Não os quisemos desiludir, nem ao público que nos acompanha há mais de 25 anos. Sentimos que a moda portuguesa tem confiança em nós e, por isso, não vamos baixar os braços», salienta.
Entre os designers nacionais, os primeiros a subir à passerelle foram mesmo os mais novos, na plataforma Bloom, incluindo Andreia Reimão e Kaya Magalhães, distinguidas na última edição do concurso Bloom.
Já entre os consagrados, a dupla Marques’Almeida abriu a passerelle, com uma coleção que, descrevem os designers, «é uma ode à cultura pop, ao futurismo e a uma visão da moda que é maximalista, fresca e colorida», a acompanhar as necessidades da comunidade que a dupla criou à volta da marca. Pela segunda estação seguida, a Marques’Almeida mostrou ainda a coleção M’A Kids, para os mais pequenos.

Susana Bettencourt, por seu lado, trouxe Pechisbeque, um conceito que, tal como a liga de cobre e zinco que imita ouro, desafia as perceções. Os tons de laranja, terracota, vermelho, azul, preto e cru combinam-se, criando uma espécie de regresso ao passado. Os grafismos em jacquard refletem o conceito de pechisbeque, em peças tricotadas manualmente, com efeitos 3D e formas triangulares, numa coleção onde se destacam ainda as malas e chapéus feitos à mão.
As artes e a vida na moda
Numa interligação entre diferentes artes, a música e a poesia foram igualmente fontes de inspiração para os designers portugueses.
“Ne me quitte pas”, canção de Jacques Brel, é o tema da nova coleção de Miguel Vieira, num apelo do designer para que a moda não seja esquecida, não deixe de ser consumida e para que eventos como o Portugal Fashion continuem a acontecer, assumiu em declarações ao jornal Público. A frase em francês foi estampada por sublimação, em peças onde contrastam formas estruturadas e outras mais fluídas, numa paleta dividida entre o branco, o cinzento glaciar, o preto caviar e o amarelo.
Num desfile no Grande Hotel do Porto, Katty Xiomara trouxe propostas monocromáticas em vermelho, uma cor que, sublinha a criadora, tem múltiplos significados. «O vermelho representa o Deus da Guerra, oferece coragem aos guerreiros e celebra a vitória. Exprime vida, mas também morte, transmite alegria, mas também violência, revela ódio, mas também amor. O vermelho arde e queima, mas também estimula e vibra. É uma cor sem meias medidas, faz-nos sentir bem ou mal de forma profunda», explica. Os contrastes estão patentes em Vermilion, como batizou esta coleção, que teve também uma missão de consciencialização. «Na nossa parceria com a ANSR – Associação Nacional de Segurança Rodoviária, decidimos incorporar a temática da nossa coleção, escolhendo um sinal vermelho, o STOP, como ponto de partida, no sentido de vincar a vontade de parar com a sinistralidade nas estradas, com o desmazelo e com a intolerância ao volante, dando mais importância à vida», conclui.
