Portugal desvaloriza produtos

Foi ontem apresentado no Porto durante o 5º Fórum da Indústria Têxtil, um estudo realizado pelo economista Daniel Bessa e pelo director-geral da APIM, Paulo Vaz, intitulado “Um plano estratégico para a ITV portuguesa”. Durante o referido fórum foi dito que «o problema da ITV está nas suas empresas». Sobre isto não resta qualquer dúvida para Daniel Bessa e Paulo Vaz, já que segundo os mesmos, «a indústria têxtil e do vestuário (ITV) portuguesa encontra-se a viver uma crise séria». O jornal Público refere que segundo os especialistas, esta é uma conclusão polémica, mas real, e que para os mesmos «a solução para o sector passa, precisamente e entre outras coisas, pelas empresas». Assim, o ex-ministro da Economia apontou para a necessidade de ganhar agressividade comercial, o que só se consegue «ganhando dimensão, por via de acções de cooperação ou por integração de estruturas empresariais – fusões, aquisições ou alianças». O estudo refere ainda que, no futuro, «uma larga maioria (das têxteis portuguesas) poderá não resistir à implacabilidade das leis do mercado, que determinará o acentuar de um cenário de definhamento sectorial». Para o Diário de Notícias, esgotado o modelo de desenvolvimento assente nos baixos custos, a indústria têxtil e do vestuário tem de encontrar um novo paradigma, que nas palavras de Daniel Bessa terá de passar pela «terciarização das actividades», introduzindo valor nas pontas do ciclo produtivo: na concepção e desenvolvimento e na logística. Quanto à produção, o DN conclui da apresentação do estudo, que é preciso centralizar-se nas pequenas séries de maior valor acrescentado. Tudo o que tenha a ver com grandes volumes e produções menos sofisticadas deverá ser deslocalizado. Ainda segundo o coordenador do estudo, Daniel Bessa, «a marca Portugal desvaloriza os produtos. Se nos pusermos de acordo quanto a isto, temos de pedir ao Governo para acabar com ela. No vinho, faz sentido, mas não no têxtil. O Estado poderia poupar muito dinheiro.» Paulo Vaz, da Associação Portuguesa das Indústrias de Malha e de Confecção reforçou esta ideia, ao afirmar que «o made in Portugal prejudica as vendas e devemos mesmo fazer passar a origem por outras geografias». Ao Jornal de Notícias e à margem desta conferência, Paulo Vaz reforçou as afirmações contidas no estudo e reforçadas por Daniel Bessa e por ele próprio, afirmando que «a marca Portugal é um disparate no caso da indústria têxtil, sobretudo no segmento da moda. Você conhece moda alemã ou dinamarquesa? Portugal não tem um estilo de vida imitável, ao contrário dos EUA ou da Itália. O Governo já deve ter gasto, seguramente, mais de um ou dois milhões de contos». No entanto, e conscientes da situação de crise, Daniel Bessa e Paulo Vaz salientaram que nem tudo está perdido, desde que os empresários aproveitem as oportunidades, como é o caso dos têxteis técnicos. Inserido na ITV os responsáveis pelo estudo destacaram positivamente o segmento dos têxteis-lar que conta «com uma quota de 6,7 por cento no volume das importações mundiais, de 8,5 por cento na Europa e de 25 por cento nos Quinze».