Portugal conquista a China

Quatro anos depois da sua estreia na Intertextile Shanghai Apparel Fabrics, o pavilhão português passou com distinção a sua última prova: uma imagem a condizer com a sua oferta topo de gama. Com menos duas empresas que na edição precedente, a qualidade sobrepôs-se todavia à quantidade e nunca se tinham visto tantos olhos a voltarem-se para contemplar os stands nacionais engalanados pela Associação Selectiva Moda, que assumiu a organização desde a primeira hora. «Tudo o que é diferenciação seduz este mercado», sublinha Manuel Silva da TMG, que integrou o pavilhão nacional conjuntamente com a Gierlings Velpor e as três empresas do grupo Paulo Oliveira – Paulo Oliveira, Tessimax e A Penteadora. «A organização foi muito boa», acrescenta Alexandra Oliveira, administradora do grupo Paulo Oliveira. Para as cinco resistentes nacionais, conquistar o mercado chinês é, todavia, uma árdua tarefa, à qual os consecutivos adiamentos da abertura das candidaturas ao novo programa de incentivos, o QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), agendada agora para 15 de Novembro, têm acrescido dificuldades. Deste modo, fica mais difícil competir com os tecidos alemães (22 expositores), japoneses (29), ambos comparticipados governamentalmente em 50%, ou italianos (51), cuja comparticipação do pavilhão nacional chega aos 70%. «O governo considera que a ITV japonesa deve aproveitar as oportunidades que oferecem o mercado chinês», sustenta Hajime Satow, director da divisão das feiras internacionais da Jetro (a equivalente à nossa Aicep). «Esta feira tem crescido significativamente de ano para ano. Hoje, é uma espécie de Meca da ITV na Ásia e, em particular, para o mercado chinês».Com efeito, os números de expositores (mais de 2.000) e de visitantes (cerca de 50.000) propulsam a feira de tecidos de Xangai, organizada pela Messe Fankfurt, para o lugar cimeiro do seu sector. Em particular, vários são os expositores que realçam a qualidade dos visitantes: «Nota-se uma presença mais forte do confeccionador chinês, que procura libertar-se da subcontratação e criar a sua própria marca», afirma Manuel Silva. «Apareceram mais contactos com quem poderemos fazer negócio e menos os que vinham com o objectivo de copiar», complementa Constantino Silva, CEO da Gierlings Velpor.Ter um, ou até vários agentes, é essencial para entrar no mercado chinês, que se reveste de particularidades tanto em termos administrativos como comerciais. Algumas empresas vão mesmo mais longe e apostam em filiais, como é o caso da italiana Marzotto que, após sete anos no mercado, decidiu há três abrir um escritório em Xangai. «Foi o tempo necessário para ser conhecida no mercado», declara Matteo Dal Pra, responsável pela Marzotto Shanghai. «No entanto, não é interessante produzir aqui já que os nossos clientes privilegiam o "Made in Italy"». Esta opinião é partilhada pelo seu compatriota Ferdinando Botto, do grupo Botto, que possui também um escritório em Xangai e uma rede de agentes por toda a Ásia. «Começámos primeiro por participar na Intertextile Beijing, depois passamos para a Première Vision Shanghai e finalmente optamos por esta feira, porque é simplesmente a melhor», explica Ferdinando Botto.Para além do "Made in Italy", o que trava o investimento italiano em unidades de produção é também o "peso" que o mercado tem no volume de negócios de uma empresa italiana de lanifícios, raramente ultrapassando o 1%. Sem "Made in Italy" e com quotas de exportação bem mais elevadas (8-10%), os produtores de denim não hesitam em instalar fábricas no Império do Meio. Durante esta 13ª edição da Intertextile, a Cone Mills inaugurou a sua unidade de produção na China e a "nova empresa" Tavex/Santista equaciona a possibilidade. «Neste momento estamos a avaliar dois cenários: construir uma fábrica de raiz ou comprar uma já existente», revela Marcos Prata, director de exportação da Santista.