O estudo “Visão Prospetiva e Estratégias ITV 2030” foi apresentado por Ana Paula Dinis, diretora-executiva da ATP, que assinalou que «o objetivo destes exercícios não é oferecer uma solução mágica que cada empresa tem que seguir. A ideia é sensibilizar para uma reflexão, realizar o levantamento de constrangimentos, oportunidades para que, contando com as suas competências, com as suas capacidades, com os seus recursos e com o seu potencial, cada empresa possa desenhar e construir o futuro à medida da sua ambição».
Analisando o passado recente da indústria têxtil e vestuário, Ana Paula Dinis assinalou que 2019 foi já um ano «que sofreu um arrefecimento económico nas principais economias mundiais», que se sentiu na indústria têxtil e vestuário portuguesa.
«Este sector começou a crescer em 2009 até 2019, tivemos, portanto, sensivelmente 10 anos de crescimento consecutivo no sector, nos diferentes indicadores: valor acrescentado, exportações, inclusivamente no emprego, que a partir de 2012 começou a crescer. Foi considerada uma década de ouro, com desenvolvimento a todos os níveis e também a consolidação da reputação deste cluster têxtil e vestuário português», frisou Ana Paula Dinis.
Considerando o período entre 2014 e 2019, o volume de negócios da indústria têxtil e vestuário nacional cresceu 14%, as exportações 13%, a produção 15% e o valor acrescentado bruto 22%.
Ao nível têxtil, no entanto, na comparação com os seus pares, Portugal «não foi o único país a conseguir esse crescimento», sublinhou a diretora-executiva da ATP. Enquanto Portugal viu o valor acrescentado bruto e o volume de negócios aumentar, respetivamente, 26,7% e 17,3% entre 2014 e 2018, a Polónia, por exemplo, teve um crescimento de 39,8% no valor acrescentado bruto (VAB) e de 32,2% no volume de negócios, os Países Baixos subiram 19% e 23,3% e Espanha registou incrementos de 21,3% e 16,8%. «Apesar de tudo, Portugal ainda manteve uma quota de 5% no total da indústria têxtil europeia», afirmou Ana Paula Dinis.
No caso do vestuário, a situação é semelhante, com Portugal a ocupar o quinto lugar no ranking ao nível do volume de negócios, com uma quota de 6%, da produção e do valor acrescentado bruto (também com 6%), subindo para o terceiro lugar ao nível do emprego, com 10%. Mas também aqui «nós crescemos, mas os outros também cresceram», como indicou a diretora-executiva da ATP. Entre 2014 e 2018, a indústria de vestuário portuguesa registou um aumento de 15% no volume de negócios, de 16,4% na produção e de 8% no valor acrescentado bruto, enquanto para a Polónia, esses mesmos crescimentos são de 39%, 31,2% e 32%. «Itália também cresceu, aumentou 10% no volume de negócios e 16% no VAB», salientou.
Vantagens nacionais
Na atualização da análise SWOT – que avalia as forças, fraquezas, ameaças e oportunidades – para a indústria têxtil e vestuário portuguesa, Ana Paula Dinis realçou que «o nosso sector é reconhecido pela sua especialização industrial, pela sua capacidade de resiliência, pela sua flexibilidade, pelo seu know-how, ainda também por custos de redução relativamente moderados, sobretudo se tivermos de comparar com o contexto europeu. Temos vindo a melhorar e a criar muito valor e, assim, a ganhar pontos ao nível da reputação do “made in Portugal”. Somos reconhecidos e temos feito um grande trabalho ao nível do private label e, portanto, temos aqui uma especialização a este nível. Temos uma fileira organizada em cluster que é uma das grandes mais-valias deste sector e temos uma indústria que, nos últimos tempos, se tem preparado e está apta, e tem vindo a responder ao desafio da sustentabilidade e da economia circular».
O sector tem também debilidades, que passam, entre outras, pela insuficiente capitalização das empresas, falta de dimensão crítica e baixa produtividade, e entre as ameaças contam-se a contração do mercado de consumo de moda, o aumento dos custos energéticos e ambientais, dificuldades de captação de mão de obra, saída das grandes marcas de fast fashion de Portugal e o risco de desagregação do cluster.
Já do lado das oportunidades, além da estabilidade social, política e económica, a indústria têxtil e vestuário pode capitalizar «ao nível da sustentabilidade e da economia circular» e da aposta «na incorporação de fatores de competitividade como o design, a criatividade e a inovação», apontou Ana Paula Dinis. «Naturalmente, sentimos que a mudança de geração nas empresas também pode criar aqui muitas oportunidades pela atração de novas lógicas e novos conhecimentos», assim como «a diversificação através, por exemplo, dos têxteis técnicos ou da utilização das matérias-primas», acrescentou.
Sem «uma solução mágica» que sirva a todas as empresas, Ana Paula Dinis reforçou que «todos os caminhos são viáveis menos os que já se encontram esgotados, nomeadamente quando queremos competir pela questão do preço. É necessário apostar na diferenciação face à concorrência e no aumento do valor, quer pela via do private label, da marca, do têxtil de alta tecnicidade aplicado ou não à moda ou numa combinação destes. Assim, é fundamental ter estratégia, plano de ação suficientemente flexível, recursos financeiros e muita determinação para vencer e se superar».