«Temos uma equipa especificamente dedicada à supply chain e à indústria e, portanto, é quase que obrigatório estarmos sempre muito próximos da indústria», explica o fundador da PlatformE. Segundo Gonçalo Cruz, a empresa está baseada em três pilares: digitalização de produto, mais ligada às marcas; tecnologia para ligar às lojas e aos sites de comércio eletrónico; e a produção. «Isto não funciona se os três pilares não estiverem ligados, se as marcas, a tecnologia e a indústria não estiverem ligadas», afirma ao Jornal Têxtil.
Aliás, adianta, «do meu ponto de vista, a maior inovação de todas não vem das marcas nem de tecnologia, vem da produção» e, por isso mesmo, a empresa tecnológica está a investir em parcerias com o tecido industrial. «Estamos a alocar recursos nossos, bastante dinheiro, em novas fábricas. Não queremos ser donos de fábricas, porque a nossa praia é tecnologia, mas queremos associar-nos a industriais para acelerar novas células de fabrico, novos modelos de produção muito mais ágeis, a redesenhar modelos produtivos, ser muito mais equiparável a logística», explica Gonçalo Cruz. Isso pode traduzir-se em inovações a nível do corte e da própria confeção, nomeadamente no planeamento, exemplifica o fundador da PlatformE. «Estamos claramente empenhados em estar muito próximos do tecido industrial – para nós é absolutamente chave», sublinha.
A subir na cadeia produtiva
Esta aproximação faz-se inclusivamente mais a montante da cadeia produtiva. «Hoje temos inovação na confeção, temos alguma inovação no corte, mas o planeamento tem de chegar muito mais a montante, ou seja, tem de começar na fiação, estar muito mais próximo das malhas e dos tecidos, das tinturarias, porque é aí que o lead time está. Confecionar uma t-shirt são cinco ou sete minutos. Fazer fiação, fazer uma malha, fazer tinturaria, são semanas, às vezes meses, e, portanto, se queremos uma indústria ágil, temos que estar mais ligados e temos que ter este processo a montante muito mais oleado, trabalhando eventualmente com muito mais previsibilidade para termos stock service ou plataformas de materiais, porque a jusante é tudo muito mais rápido», indica.
De acordo com Gonçalo Cruz, «a indústria da moda tem uma arquitetura muito complexa», uma vez que «99% das marcas não controlam a produção», não possuindo unidades produtivas, apenas parceiros, e em que mais de metade das vendas ocorre fora das lojas próprias das marcas, com exceção habitualmente das marcas de luxo e da fast fashion, como a Hermès e a Zara, respetivamente. «Se pela arquitetura não controlo a minha produção nem o meu ponto de venda, não consigo agilizar a informação que vem do mercado para informar rapidamente a fábrica», aponta Gonçalo Cruz, que realça que isso cria «ciclos longos e desajustados», com a produção a acontecer muito antes da chegada ao mercado e, consequentemente, a poder falhar. «Se não conseguir vender, vai ter de fazer descontos, vai ter de destruir», acrescenta.
Parcerias no desenvolvimento
Para resolver este problema, a PlatformE está a desenvolver soluções tecnológicas com «parceiros que conhecemos, que identifica informação de mercado em lojas que não são as da marca – no El Corte Inglés, na Farfetch, … – e essa informação em tempo real é transmitida para toda a cadeia de valor, para reagir e adequar. Portanto, os ciclos de desenvolvimento de produto e venda vão ser encurtados, e em muito, porque a tecnologia vai informar melhor», revela o fundador.
A tecnologia usa data federation, que permite que, através de um plugin, a informação seja partilhada pela rede. «Não diz de quem é a informação, mas conseguimos informar e dizer “está a vender-se mais preto do que branco” e a fábrica pode desacelerar a produção de branco e acelerar a produção de preto, para dar um exemplo simples», esclarece Gonçalo Cruz.
Ao nível do 3D, os softwares são cada vez mais intuitivos, o que deverá «democratizar [a utilização], vai ser cada vez mais fácil», acredita o fundador da PlatformE, e a rastreabilidade será igualmente facilitada. «A tecnologia já existe, agora temos de implementar e criar plataformas para medir essa rastreabilidade», assegura Gonçalo Cruz, salientando que «não somos especialistas, mas conhecemos alguns e temos parceiros, alguns deles portugueses, muito bons nessas áreas, que são áreas que, claramente, vão crescer».