Parlamento Europeu aprova Estratégia para os Têxteis Sustentáveis

O Parlamento Europeu aprovou ontem, 1 de junho, a proposta de recomendações para tornar os têxteis e vestuário vendidos no mercado único mais sustentáveis. A Euratex já criticou o documento por o mesmo não destacar o papel estratégico da indústria europeia.

[©Parlamento Europeu]

O texto final do Relatório sobre uma Estratégia da UE em prol da Sustentabilidade e Circularidade dos Têxteis recebeu 600 votos a favor, 17 contra e 16 abstenções. O documento apela a que os produtos têxteis vendidos na UE sejam mais duradouros, mais fáceis de reutilizar, de reparar e reciclar. «A sua produção deve respeitar os direitos humanos, sociais e laborais, o ambiente e o bem-estar dos animais ao longo de toda a cadeia de abastecimento. Os eurodeputados também querem que as medidas da UE e nacionais ponham fim à “moda rápida”», refere um comunicado do Parlamento Europeu.

Para isso, os eurodeputados consideram que os consumidores devem dispor de mais informações para fazer escolhas sustentáveis e pede a proibição da destruição de produtos têxteis não vendidos e devolvidos na próxima revisão do regulamento relativo ao eco-design. Combater o greenwashing e incluir metas específicas para a prevenção, recolha, reutilização e reciclagem de resíduos têxteis são outras das medidas específicas apontadas.

Delara Burkhardt [©Parlamento Europeu]
«Os consumidores, por si só, não podem reformar o sector têxtil global através dos seus hábitos de compra. Se permitirmos que o mercado se autorregule, deixamos a porta aberta para um modelo de moda rápida que explora as pessoas e os recursos do planeta. A UE tem de obrigar legalmente os produtores e as grandes empresas de moda a trabalhar de forma mais sustentável. As pessoas e o planeta são mais importantes do que os lucros da indústria têxtil. Os desastres que ocorreram no passado, como o colapso da fábrica Rana Plaza no Bangladesh, o cultivo de aterros têxteis no Gana e no Nepal, a água poluída e os microplásticos nos nossos oceanos, mostram o que acontece quando não seguimos este princípio», acredita Delara Burkhardt, eurodeputada alemã.

Euratex aponta falhas

Para a Euratex, o documento falha ao não reconhecer o papel estratégico da indústria têxtil europeia para aumentar a sustentabilidade, nem a ameaça competitiva que as empresas da UE enfrentam.

Dirk Vantyghem

«Nós acolhemos favoravelmente o forte interesse do Parlamento Europeu na indústria têxtil e da moda, mas encorajamos os eurodeputados a desenvolver uma visão equilibrada que combine a sustentabilidade e a competitividade. Desenvolver um novo modelo de negócio para a nossa indústria exige legislação cuidadosamente formulada a nível global e um diálogo aberto entre a indústria, as marcas e o consumidor», sustenta Dirk Vantyghem, diretor-geral da confederação europeia de têxteis e vestuário.

No comunicado, a Euratex afirma apoiar a estratégia que foi apresentada há mais de um ano pela Comissão Europeia. «As nossas 160 mil empresas têxteis europeias estão empenhadas em investir na sustentabilidade, desenvolver novos modelos de negócio circulares e produzir artigos têxteis de elevada qualidade – não apenas na moda, mas também nos têxteis-lar e artigos para a saúde, construção, agricultura ou automóveis. Para isso, precisamos de um novo quadro regulamentar, com definições claras, regras coerentes e controlos efetivos. Mas também precisamos de ter a certeza que as empresas conseguem realmente cumprir essas regras e manter-se competitivas em termos mundiais», aponta.

Para a Euratex, o documento, em vez de equilibrar sustentabilidade e competitividade, sugere mais restrições que não têm em conta os desafios económicos atuais, causados pelo aumento dos custos energéticos e diminuição da confiança por parte dos consumidores. Além disso, sublinha, o relatório não diferencia produtos têxteis, misturando moda e têxteis técnicos, artigos produzidos na Europa e fora da Europa, e «refere-se simplesmente a “têxteis” como uma causa geral de preocupação, sem reconhecer, por exemplo, a elevada qualidade dos produtos feitos por empresas europeias de têxteis e moda».