Parabéns Citeve! (II)

O director-geral do CITEVE divide o balanço da actividade destes 15 anos em três períodos fundamentais. Um primeiro compreendido entre 1989 a 1994, que envolve a criação do Centro, o seu arranque, o auscultar das necessidades da ITV e a pouca experiência que Portugal tinha relativamente aos aspectos tecnológicos que interessaria tratar. «Tudo começou com um conjunto de serviços que supririam as necessidades explícitas das empresas. Aí surgiram as intervenções na área laboratorial, vocacionada sobretudo para a área de controlo de qualidade. E havia ainda a herança da actividade do Instituto dos Têxteis». Foi um período de grande instabilidade e o grande desafio colocado à instituição foi o da afirmação.

Seguiu-se o período de 1994 a 1999, em que o CITEVE se debruçou fundamentalmente sobre o repto da auto-sustentação financeira. Contou então com a intervenção de José Miguel Fiadeiro como director-geral. «Este período foi marcante para o que o CITEVE é hoje, pois conseguiu, em termos de gestão interna, encontrar uma forma de tornar o Centro numa estrutura auto-sustentável, ainda que tendo acesso a subsídios para reduzir o risco das actividades pré-competitivas, pois estas funcionam por antecipação (são criados serviços sem se conhecer o mercado para os mesmos, mas de necessidade comprovada)». O CITEVE alargou também as suas áreas de intervenção para novos segmentos como a higiene e segurança, o ambiente e a energética de instalações industriais, por exemplo. «O centro tornou-se numa estrutura credível e começou a fazer incursões mais robustas no cenário europeu. Já não fazia apenasbenchmarking, mas começava a aparecer como um parceiro».

A partir de 1999, Braz Costa considera que o CITEVE entrou numa terceira fase, que começa com toda uma reflexão sobre as futuras necessidades do sector em termos de serviços, o que envolveu uma análise SWOT do Citeve e de um estudo da KSA, tendo ainda como pano de fundo a situação europeia dos outros centros no âmbito do V Programa Quadro de I&D. Estegrupo de trabalho concluiu então que a necessidade de serviços na área da inovação iria ter um crescimento exponencial, a procura de actividades laboratoriais se iria manter até 2007, e as necessidades na área da Consultoria e Assistência Técnica iriam decrescer continuamente, decréscimo este que em 2007 seria abrupto, tendo em conta a futura falta de programas de incentivo ao investimento das empresas. «Já era claro para nós que esta seria a década da inovação, e o crescimento da procura nesta área compensaria aquele decréscimo. Este plano era essencialmente vocacionado para a inovação (não incluída no serviço de Assistência Técnica), razão pela qual, aliás, foi criado o Departamento de Vigilância Tecnológica e Inovação. A realidade provou que estávamos certos, à excepção da velocidade a que se desenrolaria este processo, pois foi mais rápido do que o previsto. O saldo final é o mesmo: a compensação verificou-se». O director-geral do CITEVE adverte contudo que ainda há muito trabalho a fazer, pois «a criação de competências leva tempo. O investimento em inovação foi mantido, mas a transferência de competências ainda não está concluída. Recordemos, no entanto, que ainda estamos em 2004».

Depois de na entrevista ao presidente deste organismo, ter ficado evidente a importância da auto-sustentabilidade, e lidos os resultados financeiros do CITEVE, Braz Costa revela que ambos se têm conseguido «com quatro directrizes fundamentais: com rigor de gestão e a olhar para o CITEVE como se fosse uma empresa, pois o facto de ser uma entidade sem fins lucrativos não implica que não seja gerido como uma empresa. A terceira é conseguir manter um equilíbrio na sua relação com os clientes, permitindo que sejam mais parceiros do que fornecedores. E a quarta é a antecipação no diagnóstico dos problemas da ITV: quando as empresas os descobrem já nós os devemos estar a estudar…».

Como o CITEVE não tem aumentado, nos últimos anos, os preços dos serviços e o número de trabalhadores, para os bons resultados também contribuíram os ganhos de eficiência. «O CITEVE fez investimentos na área das tecnologias de informação e em equipamento que lhe permitiu um aumento de eficiência. Para além disso, tem havido uma redução de custos, de prazos dos serviços e um controlo apertado dos custos em fornecimentos e serviços externos».

Mas a grande novidade são as três iniciativas nos três segmentos a privilegiar no futuro próximo para melhor assegurar um aumento da competitividade da ITV nacional. Vão assim ser criados o Centro de Moda portuguesa, o Centro de Competências em Nanomateriais e Soluções Inovadoras para a ITVC e o Centro de Recursos em Conhecimento. O director do CITEVE crê que a ITV se consciencializou «da necessidade de diminuir o peso da transformação, e então elegemos duas áreas prioritárias: novos materiais – e novas funcionalidades desses materiais -, e a área do design, em todas as suas possíveis acepções e aplicações. A moda e o design são importantes não só no vestuário e nos têxteis-lar, como também nos têxteis técnicos. Ela deve existir nestes três segmentos, e nós queremos dar as ferramentas que permitam às empresas incorporá-la, dar-lhes essa competência técnica. É uma alavanca para que as empresas incorporem mais moda. Temos assim estas duas áreas a montante da fileira em que é importante investir para que as empresas se situem futuramente noutro patamar. Há ainda uma outra área, que ainda é uma lacuna para a ITV, que é a informação e a capacidade das empresas de a saber utilizar. E aí oCENESTAP tem feito um trabalho importante nas suas áreas de especialidade».

Numa altura em que algumas das publicações de referência se questionam sobre o fenómeno da moda – como o suplemento da ultima edição do Economist ou um recente artigo na Time – ou depois de assistirmos às iniciativas mais experimentalistas da moda nacional no Moda Lisboa, Braz Costa elucida que «o Centro de Moda não vai preparar desfiles nem eventos semelhantes, mas sim assegurar que os artigos vão para as estantes, e se vendem. Podem não ser o “ultimo grito” da moda, mas que a tenham e, sobretudo, que tenham muitos clientes. E que se coadunem com a capacidade de produção das nossas empresas».

Para além destas três iniciativas, o futuroby CITEVE ainda inclui a aposta em novas áreas laboratoriais, como a do conforto e da multifuncionalidade. «Vamos ter aqui, nas instalações de Famalicão, um manequim térmico de nova geração para ensaios de conforto», anuncia Braz Costa ao JT. As iniciativas apresentadas vão ser financiadas por vários programas e envolvendo várias entidades, pois abrangem varias áreas, como os programas nacionais do Ministérios da Economia (Prime), do Ministério da Segurança Social e do Trabalho (na área da formação) e do Ministério da Ciência e Ensino Superior, e programas europeus como o InterReg IV (incentivos em zonas trans-fronteiriças como a Covilhã) e o VI Programa Quadro, entre outros. E fundos do próprio do CITEVE.

No recorrente comentário ao estado da nação na ITV, frequentemente divulgado numa semana em que a comunicação social acompanhou o sector na semana das marcas, na opinião de Braz Costa existe um binómio importante a destacar: «A prazo, vamos ter na Europa duas correntes: os países com mais tradição tecnológica que defendem que o sector vai ser de alta tecnologia, privilegiando os Têxteis Técnicos e o vestuário funcional. E outros países para os quais a aposta da Europa deve ser a criação e a inovação não-tecnológica. Há estas preocupações pan-europeias, e dentro destas, é obvio que Portugal tem a suas especificidades. O CITEVE defende que se deve investir nas duas vertentes, pois a Europa deve funcionar como a locomotiva das inovações tecnológicas do sector, em segmentos de ponta como o automóvel ou o da saúde; mas sabendo nós que a Europa é o espaço maisfashion do mundo, faz todo o sentido capitalizar tudo o que construímos nessa matéria. Mas neste âmbito é preciso realçar que corremos o risco de perder as ideias, ou o trabalho que daí advém, para os países que nos copiam, sobretudo com o actual crescimento das economias do oriente. Assim se justifica o nosso interesse em defender a Propriedade Industrial, como os americanos procederam com osoftware. Os europeus, neste aspecto, ainda estão desprotegidos…E temos que defender as nossas ideias, um dos nossos principais activos».