O pólo do Citeve de Vila Nova de Famalicão está duplamente de parabéns: festejou em Março o seu 15ª aniversário e inaugurou as suas novas instalações, recebendo o ministro da Economia Carlos Tavares e o ex-ministro da Indústria Mira Amaral, entre outras ilustres personalidades do sector. Na efeméride foram apresentadas três iniciativas para o fortalecimento da competitividade da ITV nacional, nas consideraras três vertentes a privilegiar, tendo sido criados o Centro de Moda Português, o Centro de Competências em Nanomateriais e o Centro de Recursos de Conhecimento, cujos pormenores o Jornal Têxtil apresentará brevemente. A essencial componente moda no produto nacional, a nova tecnologia aplicada e o conhecimento são os activos que o Centro Tecnológico vai disponibilizar às empresas, na sua missão de criar competências de resposta aos actuais desafios da ITV. O CITEVE – Centro Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Portugal, resulta da associação, por complementaridade de interesses, de empresas e associações industriais do sector com organismos públicos, e conta actualmente com cerca de 600 associados e 1500 clientes. Tem como missão o apoio ao desenvolvimento das capacidades técnicas e tecnológicas das indústrias têxtil e do vestuário, através do fomento e da difusão da inovação, da promoção da melhoria da qualidade e do suporte instrumental à definição de políticas industriais para o sector.Com instalações em Vila Nova de Famalicão e na Covilhã, no seio das indústrias têxteis e do vestuário, o CITEVE desenvolve a sua actividade de apoio técnico e tecnológico à indústria em seis grandes áreas de intervenção: Actividade Laboratorial (indutora da qualidade), Consultoria e Assistência Técnica (indutoras da melhoria do desempenho), Vigilância e Desenvolvimento Tecnológico, (indutores da inovação), Valorização de Recursos Humanos (indutora da excelência), Cooperação com a Administração Pública (na definição e implementação de políticas para o sector e para as regiões de forte implantação do sector) e Consultoria Internacional (ferramenta de reconhecimento e ligação a actores emergentes). «Autonomia financeira está assegurada» O presidente do Citeve faz um balanço extremamente positivo dos 15 anos do Centro Tecnológico, reafirmando a preocupação na especialização e na qualidade, sem esquecer os três centros que constituirão a sua maior aposta no futuro próximo: excelência da Nanotecnologia, Recursos de Conhecimento e Moda JT- Qual o balanço que faz da actividade do Citeve nestes 15 anos?António Amorim -O balanço é extremamente positivo, dado que é uma infraestrutura de apoio tecnológico que tem de assegurar a sua sustentabilidade, e tem conseguido fazê-lo. O Citeve quando nasceu, há 15 anos, teve grandes dificuldades de afirmação. Há sempre uma grande desconfiança em relação a tudo o que é novo, e o Citeve teve de se afirmar vencendo todas as adversidades «a pulso». E mostrou às empresas que estava ali para as ajudar. Hoje é reconhecido como um centro exemplar, até pela forma como é gerido. Obviamente que tem aproveitado os apoios que têm dado ao sector, e seria um erro se não o fizesse. Mesmo assim, podia ser um organismo deficitário, mas não é. Não chega servir bem o sector. É necessário suprir as necessidades das PMEs portuguesas que são as que têm mais dificuldades de estrutura e necessidades de apoio – prestar um bom serviço a um bom preço, sem nunca pôr em risco a autonomia financeira.JT -O Citeve pratica preços caros?AA -Acho que não. Alguns associados falam em preços muito altos, sobretudo quando vêm os bons resultados financeiros do Citeve, mas quando comparamos os nossos preços com os dos nossos concorrentes internacionais, verificamos que somos mais baratos. E há vários anos que não aumentamos os preços. JT- Como tem evoluído a procura de serviços das empresas?AA -No início da actividade do Citeve os serviços eram mais vocacionados para a área laboratorial, que eram os mais procurados na altura, até pelas solicitações no segmento da qualidade. Entretanto a ITV foi tendo vários apoios que lhe permitiu evoluir tecnicamente e o Citeve acompanhou as solicitações mais tecnológicas. Nos últimos dois anos essas necessidades diminuíram, tal como tínhamos previsto, o que tem sido compensado com serviços de acreditação, da área ambiental, de higiene e segurança no trabalho, de investigação e desenvolvimento de novos produtos e de têxteis técnicos , a acreditação tem sido até uma área que tem permitido a internacionalização é o caso do nosso «braço» no Brasil, e mostrar novos conceitos e abrir novas janelas às empresas.JT- E como tem sido a resposta do Citeve a esta evolução da procura?AA -Temos melhorado continuamente a resposta na qualidade dos serviços prestados, nos prazos e na disponibilização dos mesmos – alargámos o horário de atendimento – , na qualidade da formação dos nossos elementos, e na capacidade de antecipar os problemas da ITV para mais rapidamente conseguir uma solução. JT – Não tem sentido necessidade de aumentar os recursos humanos?AA -Temos respondido sempre às solicitações sem precisarmos de aumentar a estrutura, e temos recorrido a consultoria, mas assegurando sempre a autonomia no know-how e nas decisões de fundo. Para além disso, o mercado tem as suas vicissitudes e temos nos prevenir e de ter capacidade de, em caso de eventuais dificuldades, rapidamente nos adaptarmos, para isso temos uma grande preocupação em termos de estrutura flexivel , mas é importante que a consultadoria nos deixe ficar o know-how , tudo isto tendo sempre em consideração o facto de nunca pormos em causa a autonomia financeira . JT- Qual a sua opinião sobre os recursos humanos do sector e do Citeve?AA -Há uma grande falta de mão-de-obra de qualidade. Durante muitos anos abandonou-se o ensino técnico só se formaram doutores e engenheiros. E as empresas, que tem uma grande componente tecnológica, não tinham técnicos. Mas ultimamente tem havido um esforço para melhorar esta situação. Em relação ao Citeve, a manutenção dos seus recursos tem sido uma aposta que tem sido ganha, pois temos sabido formar, actualizar e mantê-los. Para além do aspecto remuneratório, o Citeve efectivamente dá outras realizações profissionais.JT Como avalia a relação que têm tido com o poder politico?AA -Tem sido uma relação excelente. As pessoas com quem trabalhamos têm sido muito profissionais e têm servido de interlocutores com o poder político, sem nunca ter havido favoritismos. E o poder politico, ao aperceber-se da importância que o Citeve tem para o sector, e deste para o país, ouve cada vez mais o Citeve. JT – Qual o papel das associações neste processo e o que pensa das recentes fusões?AA – O Citeve está solidário com as associações e elas devem estar solidárias com o Citeve nos seus objectivos comuns de servir o sector. A fusão mostra o início de um caminho, o de se formar uma voz mais forte, mas há ainda muitos interlocutores JT- E qual é o papel do Cenestap?AA – O Cenestap tem um papel muito importante para o sector. Vejo-o como um centro de inteligência a produzir informação, que é fundamental, embora as pessoas ainda não a valorizem devidamente. O Cenestap tem sido um bom e importante parceiro a servir a ITV nacional.JT – E por ultimo, qual a contribuição das universidades nesse serviço à ITV?AA – As universidades têm realizado algumas actividades específicas nesse sentido, mas não é suficiente. Dado o meio em que se inserem, há muito mais a fazer JT Queria que comentasse as recentes iniciativas de aproximação do Governo à ITV, como as semanas têxtil e das marcas AA – O Governo compreendeu que estas iniciativas ajudam a criar as condições para que este sector tenha futuro. E foi importante em termos de impacto para a comunicação social, que tem de estar agora sensível para com este esforço de um sector tão importante para a economia nacional. Temos que ser todos mais nacionalistas, como os espanhóis, que mesmo quando perdem têm um discurso vencedor. No governo socialista de António Guterres falava-se muito na nova Economia, mas faltou o discurso de aproveitar a tradição industrial e oknow-how da ITV nacional, um sector que se deve aperfeiçoar e renovar continuamente.JT O que se «lê» no futuro da ITV?AA -Vejo que há actualmente uma necessidade de especialização que será uma das mais importantes apostas no futuro, e a cooperação é muito importante nesse âmbito, iniciativa à qual os empresários portugueses têm estado fechados. Somos individualistas, mas não faz sentido, sobretudo no contexto actual. Mas acredito que vamos conseguir fazê-lo, pois o mercado o impõe. Não nos podemos esquecer que entrámos para a UE que é um mercado altamente exigente, que já tem os seus nichos e que paga o preço da qualidade que quer. E é nesse sentido da especialização e da qualidade (qualidade de produto e de serviço) que temos de trabalhar todos, aliadas à distribuição e às marcas próprias. Acho que vamos conseguir. Há muito tempo que vaticinam o fim do sector e temos conseguido sempre responder, e cada vez com mais força. É preciso não confundir dimensão do sector com o valor do sector. JT- Mas nesta questão do lançamento das marcas, a falta de dimensão das empresas era um sério obstáculo?AA – O lançamento de uma marca no mercado é difícil, é preciso testar, adaptar, desenvolver até à maturidade; é como acompanhar o crescimento de uma criança A dimensão pode não ter a ver só com a dimensão da empresa, mas tem a ver essencialmente com a dimensão do mercado, o mercado português é um mercado pequeno. Já a vizinha Espanha tem 40 milhões. Por isso deve-se pensar num mercado ibérico, e para fazer testes deve-se usar esse mercado. JT E o futuroby Citeve?AA -O Citeve tem novas apostas para o futuro, como o Centro de Excelência de Nanotecnologia, o Centro de Recursos de Conhecimento, e o Centro de Moda, que é fundamental para a ITV. A moda não é só realizar desfiles, tem de estar presente em toda a fileira, com novas matérias-primas, novas cores e novos acabamentos, entre outros, é preciso investigar, trabalhar o produto, educar e até criar uma cultura de criatividade, é um trabalho que tem de envolver as associações, o Citeve, as empresas, para que se consiga até obter uma imagem forte . É fundamental apostar neste activo para não estarmos sempre com os produtos valorizados 20 a 30 por cento abaixo dos artigos italianos, quando temos a mesma qualidade que eles. Estas três iniciativas vão permitir melhorias significativas para um cada vez melhor e mais eficiente serviço à ITV nacional.