Para o metaverso e mais além

Riopele e Adalberto são duas das empresas nacionais que já introduziram o metaverso e a inteligência artificial nos seus processos de desenvolvimento e produção, numa mostra de que a digitalização está a seguir a bom ritmo na indústria têxtil e vestuário portuguesa.

Rui Oliveira, César Lima e João Oliveira

As duas empresas foram os exemplos escolhidos para uma das Talks by CITEVE que tiveram lugar na mais recente edição do Modtissimo e, segundo o moderador João Oliveira, diretor do departamento de transição digital do CITEVE, mostram que «o mundo move-se e nós vamos com ele».

A coleção no metaverso apresentada pela Riopele no passado mês de junho foi, de acordo com Rui Oliveira, diretor de sistemas de informação da empresa, «uma maneira de aparecermos», mas também de «não só sermos melhores na parte criativa, como na parte produtiva e industrial termos maior certeza daquilo que estamos a fazer. Para nós, o metaverso não é só um mundo virtual onde os jovens passam cada vez mais tempo, como é um conjunto de tecnologias que pode melhorar a eficiência da nossa organização», sobretudo numa altura em que «os nossos clientes querem cada vez mais rapidez».

João Oliveira

Em declarações ao Portugal Têxtil no final desta Talk, Rui Oliveira sublinhou que «a nossa capacidade de entregar tecnologia e serviço ao cliente é reforçada com este tipo de iniciativa, porque os clientes sabem que quando precisam de algo tecnológico mais inovador podem bater à porta da Riopele que seremos os primeiros a embarcar». Aliás, revelou o diretor de sistemas de informação da Riopele, «este projeto veio na sequência de um outro projeto que iniciámos com um dos nossos maiores clientes em que, palavras deles, fomos bastante inovadores e estamos à frente de toda a indústria têxtil a nível mundial. Portanto, isto é mais uma forma de apresentar serviços de valor acrescentado ao cliente de tecido tradicional, porque o nosso foco não é a tecnologia, mas sim vender tecido e vender tecido com um serviço de excelência e valor acrescentado».

Entre as vantagens de utilização deste tipo de tecnologia, onde se inclui inteligência artificial e machine learning, está a redução de custos e a maior eficiência, mas também «ter mais informação para a decisão e prestar um serviço muito mais célere ao nosso cliente». De igual forma, «a inteligência artificial é que nos vai dar as respostas para a melhoria da eficiência energética, para o consumo de água, para toda a parte de sustentabilidade, e nas operações no mercado, quer a montante, quer a jusante, os dados vão ajudar-nos a ser mais assertivos nas ofertas que vamos providenciar aos nossos clientes, no que vamos pedir aos nossos fornecedores e na maneira como vamos surpreender o mercado», assegurou Rui Oliveira.

Rui Oliveira

Os próximos passos da Riopele neste caminho da digitalização, que começou há várias décadas, deverão ser mostrados em breve. «Não posso revelar muito, mas estamos a preparar algo para os próximos meses. A aposta no digital é permanente na Riopele, portanto vamos continuar a surpreender, quer os nossos clientes, quer os nossos stakeholders, com tecnologia que nos ajuda a ser melhores, mais produtivos e mais eficientes e também mais conhecidos no mundo da moda», garantiu o diretor de sistemas de informação.

Adalberto na inteligência artificial

Já a Adalberto criou uma coleção com recurso a inteligência artificial. «Concretamente, o que fizemos foi combinar duas técnicas – por um lado introduzir algumas palavras-chave, por outro lado alimentar também o algoritmo com imagens, em que dizemos que é este tipo de imagens que queremos e pedimos imagens parecidas. O resultado são centenas de imagens numa hora, portanto, uma capacidade de produção muito grande. Podem ser usadas e selecionadas aquelas que entendemos que fazem sentido ou podemos dá-las às nossas designers e servirem também como fonte de inspiração», explicou César Lima, CEO da empresa.

Como afirmou ao Portugal Têxtil à margem da Talk by Citeve, «temos uma ferramenta que vai ser afinada e vai cada vez funcionar melhor, a própria máquina vai aprendendo, consegue perceber que imagens vão mais ao encontro daquilo que pretendíamos» e que, como tal, «pode ajudar-nos a nível de qualidade do nosso design. E acreditamos que tendo um design melhor, à partida temos um produto melhor e conseguimos entrar mais facilmente no cliente».

César Lima

A digitalização vai igualmente ajudar a Adalberto a fazer a «monitorização de todos os consumos energéticos, de água ou do que quer que seja, no processo produtivo. Isso permite-nos, por um lado, ter os dados e saber quanto é que gastamos efetivamente, mas vai-nos permitir também construir padrões e saber o que será o normal determinado tipo de processo gastar. E permitir-nos-á, em tempo real, saber se estamos acima ou abaixo daquilo que seria o normal e criar e espoletar alertas em tempo real. Quer dizer, a partir do momento em que começamos a recolher os dados com a ajuda da inteligência artificial, começamos a conseguir antever, se calhar, até problemas com uma máquina», apontou.

Um projeto que vai prosseguir na empresa, garantiu César Lima, que definiu como prioridades «trabalhar no sentido de ter dados fidedignos sobre o que gastamos a nível energético e produção de carbono no nosso processo produtivo», até para responder às exigências da UE, que se prepara para implementar o conceito de passaporte de produto, que poderá ser uma vantagem competitiva para os artigos feitos na Europa em comparação com os produzidos na Ásia. «Acreditamos que para clientes que realmente podem conferir valor a isso, esta medida pode, de alguma forma, equilibrar os pratos da balança quando pensamos o que são os custos de produção em países como a Turquia ou em regiões como a Ásia», concluiu o CEO da Adalberto.