Na Pangaia, uma startup britânica fundada em 2018 que combina moda e ciência para criar peças de streetwear funcionais e sustentáveis, os materiais têm um papel principal.
A empresa, que é também uma marca, tornou-se célebre em 2019 graças ao apoio de várias figuras públicas, contando já mais de 700 mil seguidores no Instagram, e tem vindo a expandir a sua gama de produto. Em abril de 2020, em plena pandemia, lançou mesmo uma coleção para os mais pequenos que, à semelhança das propostas para os adultos, se apoia em matérias-primas inspiradas pela natureza e com características sustentáveis.
No início de dezembro, a Pangaia lançou uma versão alargada de produtos com Flwrdwn (que se pronuncia “flower down”), uma fibra para isolamento que deriva parcialmente de flores selvagens, que a empresa descreve como uma alternativa à tradicional penugem e aos enchimentos sintéticos derivados de combustíveis fósseis. Com recurso a poliamida reciclada, a coleção inclui casacos, um gorro, um cachecol e chinelos, todos com enchimentos, em cores com nomes como vermelho hibisco, roxo orquídea e verde jade.
O Flwrdwn, que começou como uma exploração da utilização de resíduos, levou uma década a ser desenvolvido e aprimorado no seu laboratório em Itália. O material está protegido em termos de propriedade intelectual, mas ainda assim a Pangaia mantém-se vaga em relação aos pormenores, incluindo o tipo de planta usada. É «basicamente uma erva daninha» que não exige cultivo e «cresce melhor quando é simplesmente deixada num campo», explica Amanda Parkes, diretora de inovação da empresa, ao Sourcing Journal. A planta é ainda benéfica para o habitat natural das borboletas monarca, que estão em risco.
Diversificar matérias-primas
Esta «erva daninha» é combinada com um biopolímero e depois a mistura é infundida com um aerogel celulósico para criar o que a Pangaia acredita ser «o futuro do calor»: isolamento que é leve, respirável, sem produtos de origem animal, sem produtos derivados de petroquímicos e biodegradável sob condições específicas. «[O Flwrdwn] toca todos os pontos», sublinha Parkes.
Quanto ao preço, deverá baixar com o aumento da produção e a adoção por parte de outras marcas. Atualmente, um casaco com este material tem preços entre 550 e 810 euros. «Estamos no topo dos preços agora, mas podem baixar», acredita a diretora de inovação «Não há nada na fórmula ou na maquinaria que necessite de ser realmente dispendioso», garante.
Além do Flwrdwn, a Pangaia já desenvolveu tecidos com fibra completamente biodegradável de liocel e algas marinhas e couro vegan fabricado a partir dos restos sólidos de uvas provenientes da indústria vinícola italiana. Recentemente, investiu na Kintra, uma empresa sediada em Brooklyn que produz fios bio-sintéticos 100% compostáveis. Em vez de petróleo, a Kintra usa açúcares derivados de milho e trigo para fazer resinas e fibras, que depois passam por um processo semelhante ao do poliéster e poliamida para serem transformadas em fios.
«Estamos entusiasmados por sermos parcerias da cadeia de valor da Kintra e ajudá-los a comercializar a sua tecnologia de resina e fios, trazendo uma verdadeira mudança sistémica de possibilidades de materiais à indústria. Esperamos que este material se torne um modelo não apenas para a Pangaia, mas para toda a indústria», refere Amanda Parkes em comunicado.
«Os padrões da Pangaia baseados na ciência, em termos de sustentabilidade, não têm paralelo e o seu contributo para o planeta é visível em cada passo da sua cadeia de aprovisionamento. Estamos desejosos de colaborar com a equipa da Pangaia e integrar a nossa tecnologia nos seus tecidos e peças de vestuário», garante Billy McCall, cofundador e CEO da Kintra.
Os primeiros artigos da Pangaia com fios da Kintra deverão chegar ao mercado no final deste ano.
Parcerias e cores em sintonia
A concretização de parcerias não é algo novo para a Pangaia, que tem colaborado com artistas e designers alinhados com os seus valores. Depois de ter colaborado com o artista japonês Haroshi, um trabalhador da madeira autodidata que cria esculturas com o reaproveitamento de pranchas de skate, a marca lançou uma edição limitada com Nadya Hutagalung, embaixadora da Boa Vontade do Programa das Nações Unidas para o Ambiente, e com o artista canadiano Raku Inoue.
As cores são, de resto, uma das imagens de marca da Pangaia, que, tal como no desenvolvimento de materiais, se apoiou na ciência para definir as tonalidades que mais transmitem os seus valores, ligados ao mundo natural.
Recorrendo à psicologia das cores, a marca associa os tons à fauna e flora, que são as suas fontes de inspiração ou mesmo a origem direta para extrair os corantes. A Pangaia usa ainda o Instagram para sondar os seus seguidores sobre as cores e coleções preferidas, adaptando em tempo real os artigos que produz. Ao dar crédito aos seus seguidores pela decisão de produzir e aumentar o stock da sua coleção Coral Reef, inspirada pelas «cores vibrantes e encantadas do mundo subaquático», os produtos esgotaram em apenas algumas semanas.