Os retalhistas alemães registaram uma quebra acentuada no negócio em dezembro, sugerindo um período de Natal desapontante, de acordo com os dados oficiais, mas o sector está a projetar uma recuperação para este ano. As vendas a retalho, uma medida da confiança das famílias, caiu 2,5% em dezembro em comparação com novembro, segundo o gabinete federal de estatística Destatis. Isso significa que em 2013, como um todo, as vendas a retalho subiram apenas 0,1% no ano inteiro, calcula o Destatis. Os dados mensais que são conhecidos por serem voláteis e sujeitos a revisão frequente parecem ser uma contradição face aos recentes índices de confiança do consumo que subiram fortemente em dezembro e em janeiro. A federação da indústria de retalho HDE calcula que as vendas do sector, no geral, aumentaram 1,1% em 2013 e o crescimento deverá recuperar para 1,5% este ano, impulsionado sobretudo por fortes aumentos nas vendas de produtos alimentares e no comércio eletrónico. «Raramente as condições de consumo na Alemanha foram tão favoráveis», revela o diretor da HDE, Stefan Genth. «Contudo, os retalhistas não estão a beneficiar disso porque o aumento dos preços da eletricidade está a pesar no poder de compra dos consumidores», acrescentou. O plano para aumentar as pensões do novo governo de coligação e a introdução do salário mínimo também representam riscos, acrescentou. No retalho alimentar, é esperado um forte crescimento porque «muitos consumidores estão preparados para pagar mais por qualidade e serviço. A procura por produtos biológicos e de comércio justo está a aumentar», sustenta Genth. Os retalhistas de relógios e joalharia, livros e brinquedos, contudo, deverão ver o negócio afetado. Já os retalhistas online deverão registar um aumento acentuado de 17% no negócio este ano, prevê a HDE. Os analistas parecem, de igual forma, céticos em relação aos dados das vendas a retalho em dezembro. «A queda acentuada contradiz tanto todas as evidências sobre o consumidor alemão que pode ter de ser significativamente revista», afirma o economista Christian Schulz, do Berenberg Bank.«A confiança dos consumidores pode ter atingido novos níveis recorde, os salários continuam a subir, o desemprego está a descer e a inflação está muito baixa devido à estabilidade dos preços da energia. Este é um forte cocktail de elementos fundamentais que devem impulsionar o consumo em 2014», explica Schulz. Segundo os dados do Destatis, as vendas a retalho caíram acentuadamente em quase todas as categorias em dezembro, em termos anuais. As vendas de mobiliário e produtos de bricolagem, que foram uma das categorias mais fortes nos últimos anos com a recuperação do mercado imobiliário alemão, tiveram a pior performance. As vendas de produtos farmacêuticos foram a única exceção positiva. Schulz considera que os dados das vendas a retalho «não são um bom indicador do consumo no PIB, que provavelmente aumentou 1% durante o ano. Os consumidores parecem estar a gastar o seu dinheiro noutros sítios que não as lojas inquiridas no estudo do gabinete de estatística. As vendas de automóveis, que têm vindo a recuperar mas não entram nos dados das vendas a retalho, podem também ter um papel». O economista Johannes Gareis, da Natixis, foi mais cauteloso, referindo que a quebra nas vendas a retalho «deve pesar mais no consumo privado, que tem vindo a perder dinamismo ao longo do último ano». Contudo, «para o primeiro trimestre de 2014, estamos otimistas e esperamos que o consumo privado continue a ter um papel proeminente na economia alemã. Este cenário é apoiado pelo aumento da confiança do consumidor, elevado emprego, baixa inflação e baixas taxas de juto», indicou Gareis. Já Annalisa Piazza, da Newedge Strategy, sublinhou que «não fazemos muitas leituras a partir dos dados de um mês. Dito isso, a imagem da atividade de retalho do quarto trimestre certamente que não é muito forte. Excluímos a possibilidade dos dados de hoje serem o primeiro sinal de um período de quebra do consumo pessoal, mas temos de considerar alguns riscos negativos para o crescimento do PIB».