Os novos homens – Parte 1

O homem multidimensional contemporâneo experimenta e, por vezes, destrói, os padrões comportamentais tradicionais do género e está a redefinir os seus próprios standards, segundo um estudo do WGSN. As mulheres “millennial” ultrapassam, frequentemente, os homens nas salas de aulas e, lenta mas seguramente, estão a diminuir a diferença no cuidado das crianças e salários. Um estudo de 2014 da Pew Research concluiu que 40% das mulheres da geração “millennial” nos EUA estão a ganhar o mesmo ou mais que o salário dos seus parceiros homens e quase um quarto é responsável pelo principal rendimento da família. Esta é a primeira vez, na era moderna, que as gerações mais jovens têm níveis mais elevados de dívidas relacionadas com empréstimos de estudantes, pobreza e desemprego e níveis mais baixos de riqueza e rendimentos pessoais em comparação com as duas gerações precedentes na mesma fase da vida. A mudança para a igualdade coincide com as barreiras sociais e económicas únicas à Geração Y e à sucessora Geração Z. Em todos os níveis de educação, em 2013 as pessoas entre os 25 e os 32 anos enfrentavam maiores taxas de desemprego do que as gerações anteriores antes de entrarem no mercado de trabalho. O livro, muito citado, de Hanna Rosin, “The End of Men”, de 2012, afirma que os homens estão a perder terreno, o patriarcado está a cair e estamos a chegar «ao fim de 200 mil anos de história humana e o início de uma nova era» na qual as mulheres – e as suas características e traços – estão a ganhar ascendente. As mulheres em todo o mundo, sustenta a autora, são cada vez mais dominantes no trabalho, na educação e na família – e mesmo em termos de amor e casamento. Ela adverte para o “cardboard man”, que é rígido, perdido em velhos hábitos e incapaz de se adaptar às rápidas mudanças sociais, económicas e tecnológicas da via contemporânea. Embora acusações de sexismo tenham sido (justificadamente) suavizadas por Rosin, o seu argumento – de que o homem alfa agressivo e tradicional se sente ultrapassado em economias que valorizam cada vez mais a comunidade, fluidez, adaptabilidade e partilha – não deixa de ter fundamento. Estas mudanças sociais levantam questões fundamentais sobre o homem “millennial”: a ambição das mulheres cria mais jovens homens feministas ou gera hostilidade? E como é que a falta de segurança económica ou posição social segura tem impacto nos conceitos da masculinidade? Um estudo dos EUA em 2014 da Mayflower Transit concluiu que os homens da Geração Y não se importam de ficar “no banco de trás” na carreira da sua parceira. 72% estão dispostos a mudar de cidade pelo trabalho da sua parceira, em comparação com 59% dos “Baby Boomers”. Os dados são, alegadamente, apoiados por um relatório do Working Mother Research Institute, que concluiu que a Geração Y tem mais probabilidade do que as gerações mais velhas de expressar orgulho nas escolhas de carreira da mãe e a dar-lhe crédito pelo trabalho que elas fazem fora de casa. O relatório de 2014 da JWT London, “Masculinidade e modernidade: investigando o homem da Grã-Bretanha hoje”, concluiu que os homens são mais livres do que nunca de rejeitar os traços tradicionais em favor de uma versão mais multifacetada e fluída de masculinidade. Os homens estão alegadamente contentes por assumir papéis tradicionalmente femininos, orgulhando-se das suas capacidades de decorar a casa (77%) e de cozinhar (74%). Uns substanciais 71% afirmam sentir orgulho quando concluem tarefas domésticas. Aptidões para bricolagem (78%) e a capacidade de arranjar tecnologia (75%) também estão no topo do ranking, enquanto carregar artigos pesados e interessar-se por desporto (ambas com 61%) também entram no top 10 de coisas que os homens se orgulham. Os dados sugerem que homens modernos são mais multidimensionais do que é talvez normalmente assumido pelas marcas e os meios de comunicação social. Tradições reinventadas Embora haja muita discussão sobre o esbater das fronteiras do género e a feminização dos homens, a masculinidade não saiu da agenda. Há um desejo de revisitar valores masculinos tradicionais como força e poder e reinterpretá-los através de um filtro contemporâneo que está um pouco mais iluminado. É uma atitude resumida numa recente entrevista com Dan Crowe, diretor da revista Port. «É simples, é masculina, um pouco old-school», afirma em relação à revista. «Muitas das nossas filosofias em relação à revista estão enraizadas nos anos 60. E por isso pensamos a Port como sendo desavergonhadamente masculina – mas não de uma forma patética», acrescenta. Esta atitude foi apoiada por fações inesperadas. A conhecida feminista Camille Paglia argumenta que ignorar as diferenças biológicas entre homens e mulheres em nome do politicamente correto vai gerar mais mal do que bem. Numa entrevista em dezembro de 2013 ao Wall Street Journal, ela levantou preocupações sobre deixar os homens «sem modelos de masculinidade». «A masculinidade está a tornar-se algo que é imitado dos filmes. Não resta mais nada. Não há espaço para nada masculino atualmente». A masculinidade está, assim, a ganhar mais nuances – e muitas vezes contraditórias. Embora uma nova sensibilidade seja aceitável para os homens, os elementos retro da masculinidade estão, simultaneamente, a regressar, juntamente com um conceito multidimensional de masculinidade. Isso pode ser visto em novas tendências de fitness para homem, como discutido no último relatório “Fit for Life”. Duas tendências estão a desenvolver-se em simultâneo: percursos de obstáculos extremos como Tough Mudder e Rat Race Dirt Weekend, e a entrada em exercícios habitualmente dominados por mulheres como ioga e pilates. Nos últimos anos, atletas como LeBron James, Ryan Giggs e a equipa de rugby All Blacks da Nova Zelândia atribuíram ao ioga o facto de estarem focados e serem flexíveis. Esta tendência espelha atitudes femininas, como debatido no relatório “Novo Feminismo”: há um certe deleite em aderir a clichés de género contraditórios, muitas vezes em simultâneo. Os extremos são apreciados, em vez de comprometedores. A ascensão do estilo de dança jookin, descendente do gangsta walking dos anos 90, alarga e desafia as ideias tradicionais sobre masculinidade. Os bailarinos fazem rodopios e equilíbrios vertiginosos nas pontas dos dedos com um toque hip-hop – embora seja elegante e fluído, o trabalho em pontas que fazem é tudo menos efeminado. Uma das maiores estrelas deste tipo de dança, Lil Buck estreou-se no New York City Ballet em maio. Na segunda parte deste artigo, fique a conhecer melhor este novo homem, sem complexos e capaz de, apesar da mudança de comportamentos, não perder a sua masculinidade.