Na carta, as organizações, que aplaudem a Estratégia da UE para os Têxteis Sustentáveis e Circulares, afirmam acreditar que «há um risco de que as Regras de Categoria da Pegada Ambiental do Produto (PEF-CR, na sigla em inglês) para o vestuário e calçado forneçam uma imagem limitada e não holística do impacto do produto», pelo que apelam a que não sejam usadas como «único método para sustentar a etiquetagem, as reivindicações verdes no marketing ou quaisquer outras medidas europeias anunciadas como parte da Estratégia da UE para os Têxteis Sustentáveis e Circulares».
As organizações agruparam as suas preocupações em seis áreas. Em termos de governança, lembraram que o desenvolvimento das PEF-CR é feito principalmente por representantes de grupos sectoriais, com baixo envolvimento das organizações da sociedade civil e até mesmo dos deputados do Parlamento Europeu e de representantes dos Estados-Membros, e que os múltiplos intervenientes da cadeia de valor, como as pequenas indústrias locais e fornecedores, não estão representados de forma justa.
As organizações apontam ainda que as PEF-CR estão a ser desenvolvidas com base na comparação de dados de diferentes avaliações do ciclo de vida dos produtos atualmente disponíveis, mas que os mesmos têm por base amostras pequenas e/ou dados desatualizados ou fornecidos pelos próprios produtores. «Além disso, o método PEF é, em grande medida, baseado no uso de dados secundários mundiais médios, que não captam as variações locais nos impactos ambientais».
Fast fashion de fora
As organizações manifestam igualmente preocupação por os impactos sociais não estarem incluídos. «Os estudos de ciclo de vida do produto não nos dizem nada sobre as condições sociais em que um produto específico foi produzido», salientam, nem sobre os impactos socioeconómicos, culturais e na saúde de recomendar uma fibra em detrimento de outra. «Uma visão tão limitada da sustentabilidade do produto não é coerente com os próprios compromissos da UE nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável», consideram.
Na perspetiva destas 12 organizações, o método que está a ser avançado pela Comissão Europeia corre o risco de compensar a reciclagem de embalagens plásticas para fabricar fibras de poliéster – quando a própria Estratégia para os Têxteis Sustentáveis e Circulares identificou que utilizar polímeros de garrafas de plástico recicladas pode enganar os consumidores e que esta prática não se coaduna com o modelo circular de garrafas de plástico – e, por último, não responde ao problema da fast fashion, até porque «se mostrou ineficiente a captar a durabilidade não física (ou durabilidade “emocional”) de um produto, isto é, a ideia que não são apenas as propriedades físicas de um produto (como a resistência das fibras) a determinar se vai ser usado por muito tempo; fatores como o preço e temporalidade das tendências têm também um papel».
As limitações mencionadas são ainda mais significativas à luz da decisão da Norwegian Consumer Authority (NCA), em junho, de que os dados médios globais por detrás do po Sustainability Index não constituem evidência suficiente para alegações específicas do produto e que quaisquer alegações efetuadas por empresas que se baseiam nessa ferramenta são vistas pela NCA como enganosas.