Optimismo a longo prazo

Numa altura em que conseguir pagar a renda ou o empréstimo bancário parece, só por si, um luxo, os vendedores de jóias, moda e carteiras de gama alta estão a enfrentar os maiores desafios de sempre. As vendas de artigos de luxo, que deverão cair 10% este ano, não irão recuperar completamente até 2012, de acordo com um novo estudo da Bain&Co, com a austeridade e discrição a manterem-se como os conceitos “must-have” dos ricos e fabulosos. Tendo em conta esta retracção, os principais grupos mundiais do luxo tentam encontrar as receitas de sucesso para combaterem a crise. Para já essas receitas incluem gerir cuidadosamente os custos e planear de forma conservadora. Mas para além de apenas navegar na tempestade, há uma questão que está na boca de toda a gente: será que os dias de glória alguma vez vão voltar? Claudia D’Arpizio, sócia da Bain, revela que não espera que as vendas de artigos de luxo recuperem para os níveis de 2007 – antes da recessão se ter instalado nos EUA – até 2012. «Os consumidores estão a fazer compras nos seus armários», afirma D’Arpizio no seu relatório, «reutilizando artigos adquiridos em anos anteriores». E quando compram, afirma, estão a investir em artigos «intemporais» em vez de peças de moda trendy. «A austeridade está na moda, mesmo para os consumidores mais abastados», constata D’Arpizio. Após a quebra de 10% em 2009, D’Arpizio afirmou que espera que as vendas de luxo aumentem 1% em 2010, 4% em 2011 e 7,5% em 2012. Embora todos estejam sob pressão, os piores declínios registaram-se nos relógios, seguidos da joalharia. Os artigos em pele e as casas de moda populares mantêm-se como os mais resistentes. A longo prazo, D’Arpizio e outros optimistas do luxo acreditam que as vendas irão voltar quando a economia mundial melhorar, até porque as empresas de artigos de luxo têm ainda de entrar completamente em muitos mercados na Europa de Leste, na América Latina, na ásia e no Médio Oriente. «Acho que a indústria do luxo irá voltar», afirma Scilla Huang Sun, que gere um fundo de luxo de 30 milhões de euros na Julius Baer. Estes analistas apoiam as suas opiniões afirmando que a crise não afectou as perspectivas de crescimento a longo prazo nem o modelo de negócios atractivo, baseado em margens relativamente elevadas. As carteiras Louis Vuitton, que se mostraram relativamente resistentes ao abrandamento do consumo, deverão gerar margens brutas de cerca de 45% – um número que o Lvmh se recusa a confirmar oficialmente. Mas não foram apenas as gamas altas a sofrerem com a quebra do consumo. A recessão, a queda do valor do imobiliário e dos portefólios de acções tiveram impactos psicológicos nos consumidores, desde o “high end” ao nível mais baixo do espectro de preços. As department stores de todas as gamas enfrentam muitos problemas para atrair compradores, já que a maior parte dos artigos que estão a vender são itens sem os quais os temerosos consumidores não conseguem viver. Embora os consumidores atentos à crise tenham evitado as lojas, recorreram muitas vezes à Internet para procurar descontos. O sector não registou os enormes declínios verificados na indústria de retalho mais generalista e grandes players, como o gigante on-line eBay, estão a contar com o desejo dos consumidores por bons negócios para conseguirem crescer. O eBay espera revitalizar o seu negócio e tem acolhido retalhistas ansiosos por mais um mercado para os seus artigos. Ao mesmo tempo, os retalhistas do luxo têm feito do comércio electrónico uma prioridade, acrescentando elementos de comunicação e criação de redes sociais nos seus sites para gerar um maior sentido de comunidade.