Oportunidades no linho para Portugal

A apresentação da Alliance for European Flax-Linen & Hemp, que decorreu hoje à tarde, revelou que a prevalência da utilização da fibra, produzida na Europa, por marcas de moda no segmento médio-alto pode ser uma oportunidade para a ITV portuguesa.

[©Alliance for European Flax-Linen & Hemp-Sebastien Rande]

A apresentação, promovida em parceria com a ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, foi uma forma de partilhar com as empresas portuguesas o potencial desta fibra, que é produzida na Europa, assim como o trabalho que está a ser desenvolvido pela Alliance for European Flax-Linen & Hemp, que, como sublinhou a sua diretora-geral, Marie-Emmanuelle Belzung, «não tem homólogas» noutras partes do mundo, uma vez que reúne toda a fileira desde a produção agrícola da fibra, num total de mais de 10 mil empresas em 16 países.

«O linho tem vindo a assumir um papel muito importante nas nossas empresas e na nossa indústria, muito graças ao trabalho que está a ser feito pela Alliance for European Flax-Linen & Hemp, e pareceu-nos importante, após o contacto da associação, que ajudássemos a promover as oportunidades que o linho pode trazer. Sendo uma fibra, como vimos aqui, colocada nos mercados médio e alto, que são os mercados que a indústria portuguesa está a trabalhar, fazia todo o sentido que ajudássemos um conjunto mais alargado de empresas a perceber as oportunidades de produzirem produtos com base no linho», explicou, ao Portugal Têxtil, Mário Jorge Machado, presidente da ATP.

Marie-Emmanuelle Belzung

A fibra, apontou Marie-Emmanuelle Belzung, «é uma peróla», mas com uma quota de mercado muito pequena, representando menos de 0,5% das fibras têxteis. Na Europa, principal produtora mundial de fibras longas (quota de 75%), numa região que se estende de França aos Países Baixos, incluindo a Bélgica, foram produzidas no ano passado cerca de 151 mil toneladas de fibras longas, como indicou Damien Durand, responsável pela área de economia na associação. Já este ano foi plantada uma área de 150 mil hectares, mas a expectativa é de queda na produção, devendo ficar-se por cerca de 108 mil toneladas.

Os preços têm vindo a subir, estando o quilo da fibra a ser comercializado, em média, por mais de 6,5 euros em setembro deste ano – em setembro do ano passado não passava dos 4,5 euros.

Damien Durand

De acordo com um estudo realizado em parceria com o Institut Français de la Mode junto de 80 stakeholders, 60% do mercado da fibra de linho está na moda, especialmente no luxo – como comprova a coleção apresentada pela Zegna em Milão para a primavera-verão 2024, composta em 70% por linho – e nas marcas de gama média-alta. 30% das fibras de linho produzidas são usadas na produção de artigos para a casa e as restantes 10% em aplicações técnicas.

A Alliance for European Flax-Linen & Hemp tem trabalhado na informação e apoio às empresas do sector, incluindo na rastreabilidade e certificação, com os rótulos European Flax (quando apenas a fibra é produzida na Europa) e Masters of Linen (para os artigos produzidos completamente na Europa e região Euromed), e na promoção da fibra no mercado, com destaque para a presença em feiras internacionais em Itália, França e Reino Unido, mas também com comunicação direcionada para os consumidores finais, incluindo nas redes sociais.

Os objetivos delineados para o futuro, enumerou Marie-Emmanuelle Belzung, passam por produzir mais e melhor fibra – área onde a inovação e a tecnologia serão essenciais –, desenvolver uma referência comum para classificar a qualidade do linho, mas também desenvolver uma vantagem competitiva para a indústria local, nomeadamente para a fiação, em França, «onde existem unidades muito pequenas», e na Europa em geral, como está previsto em Portugal.

«Há um grande projeto do PRR para se construir uma fiação de linho em Portugal e é também uma das razões por que é relevante, construindo nós capacidade de produzir fio, mostrarmos ao resto da indústria que isto será uma oportunidade. Todos sabemos que sendo o linho uma fibra que tem alguma escassez em termos de mercado, ao ser produzido em Portugal vai ter um LCA [Life Cycle Assessment ou avaliação do ciclo de vida] bastante mais reduzido e isso, mais uma vez, pode ser um fator que ajude a diferenciar os produtos feitos em Portugal», realçou Mário Jorge Machado.