O conselho foi deixado por Christof Weil durante a conferência de apresentação de oportunidades de negócio no mercado alemão que teve lugar ontem, 23 de março, em Vila Nova de Famalicão. O embaixador alemão, em funções apenas desde setembro de 2016, mencionou os argumentos nacionais – como a qualificação da mão de obra e a paz social – como fatores importantes nos investimentos das empresas alemãs em Portugal e, mais precisamente, no concelho de Vila Nova de Famalicão, mas destacou aos jornalistas que o tempo dos grandes investimentos na produção já passou. «Os tempos são diferentes hoje. Portugal provavelmente não vai receber investimentos a grande escala de empresas alemãs para produzir em Portugal», referindo as vantagens da proximidade e preço da Europa de Leste, nomeadamente a Ucrânia.
Uma ideia que foi reforçada por Hans-Joachim Böhmer, diretor-executivo da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã. «O crescimento do investimento alemão vem das empresas que cá estão, que conhecem o país e têm sucesso no país », apontou, dando conta da existência de mais de 400 empresas com capital alemão em Portugal, que empregam 50 mil pessoas. «O grande potencial está nessas empresas», reforçou.
É para essas empresas, e para eventualmente atrair outras, que a Câmara Municipal de Famalicão quer criar um «ecossistema favorável ao investimento», reunindo «as condições que fazem com que um investidor olhe para nós. O concelho de Famalicão tem a ambição de se colocar num lugar cimeiro para atrair esse investimento», afirmou o presidente da câmara, Paulo Cunha, focando o investimento na formação. «A qualificação dos nossos recursos humanos no futuro próximo será a razão maior para novos investimentos», acrescentou.
A confirmação, contudo, de que o principal crescimento será proveniente de empresas já instaladas em Portugal surgiu na “primeira pessoa”, pela boca de representantes de empresas como a Leica. Presente em Vila Nova de Famalicão desde 1973, a empresa, que emprega 693 pessoas e é conhecida pela elevada qualidade das suas lentes e máquinas fotográficas, não só expandiu as suas instalações como, em 2015, criou um departamento de I&D e, mais recentemente, alargou as suas valências à distribuição, com a abertura da primeira loja Leica. «Atrás disto há o potencial para outras empresas, porque usamos fornecedores portugueses», referiu Paulo Maravalhas, responsável de recursos humanos e comunicação na Leica.
O mesmo referiu Pedro Carreira, presidente do conselho de administração da Continental Mabor. «Temos ajudado a desenvolver empresas em Portugal», afirmou, acrescentando que depois de entrarem como fornecedoras, estas empresas são respeitadas pelos alemães.
Essa foi, de resto, uma característica mencionada por todos e que pode contribuir para o sucesso das empresas nacionais na Alemanha, até porque, como destacou o embaixador alemão, «há oportunidades para exportar para a Alemanha, nomeadamente produtos de alta tecnologia», sublinhou. «Portugal deve aproveitar ainda mais a imagem positiva que tem na Alemanha», referiu Christof Weil, que considera que «os produtos portugueses de elevado valor tecnológico não são suficientemente conhecidos» o seu país.
Os números tornam o mercado alemão um dos mais apetecíveis para as empresas: 82,2 milhões de habitantes, a quarta maior economia mundial, com um PIB per capita 37.866 euros. A isto juntam-se oportunidades como condições legais favoráveis e a tendência positiva na importação de produtos portugueses, enumerou Hans-Joachim Böhmer, que, no entanto, deixou uma advertência: «se entrarem bem, têm muitas oportunidades. Se entrarem mal, a porta não se vai abrir outra vez».
António Abreu, CEO da Deinzer, que produz expositores para o ponto de venda, confirmou esta necessidade de cumprir em toda a linha os compromissos assumidos, apontando como fatores críticos a qualidade dos produtos, mas também os prazos. Dentro da empresa, o objetivo é sempre «manter o foco na melhoria contínua e formação dos nossos recursos humanos», destacou.
Luís Reis, representante da AICEP, sublinhou igualmente a importância de conhecer muito bem o mercado antes de avançar, com a visita a eventos comerciais, como feiras, e lançou alguns conselhos, como ter material promocional em alemão, com boas traduções, ter representantes locais e dar resposta às questões e pedidos solicitados. Mas, realçou, «é preciso dar tempo para que haja retorno».
Para ajudar a impulsionar as trocas comerciais entre Portugal e a Alemanha, mais especificamente a partir de Vila Nova de Famalicão, o município, através do Famalicão Made IN, em parceria com a AICEP, a ADRAVE – Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Ave e a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Alemã, conta com os quatro “embaixadores famalicenses na Alemanha” – a Continental Mabor, a Leica, a Olbo & Mehler e a Deinzer –, que assumiram ontem o compromisso de apoiar outras empresas na conquista do mercado alemão, e vai promover nas próximas semanas quatro “oficinas de exportação”. A primeira, a 30 de março, é dedicada ao têxtil e contará com as intervenções de Ana Paula Dinis, em representação da ATP – Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, e da Olbo & Mehler. A participação é gratuita e as inscrições podem ser realizadas no website do Famalicão Made IN.