As Tajiservi Talks regressaram em abril último, depois de um interregno de dois anos, em parte provocado pela pandemia e, em parte, por uma questão estratégica. «Creio que uma periodicidade de dois anos poderá ser suficiente para fazermos um evento desta natureza, em que fazemos uma reflexão, de uma forma mais profunda, sobre aquilo que são as nossas preocupações», afirmou Júlia Petiz, CEO da empresa tecnológica. «Da primeira vez, os clientes ficaram muito bem impressionados com a qualidade das conversas e isso permitiu-lhes refletir um pouco sobre aquilo que estacam e fazer e o que poderiam, ou deveriam, fazer para o futuro. Creio que isso voltou a acontecer desta vez», explicou ao Jornal Têxtil.
Contudo, como realçou a CEO durante a sua intervenção, «as Tajiservi Talks não visam dar soluções. Não trazemos soluções, trazemos ideias para que cada um possa refletir e definir as suas estratégias. E planifiquem, porque se não planificarmos, estamos, seguramente, a planificar um desastre». E é nessa planificação que pode entrar o on-demand. «Depois desta tarde, já estamos todos mais ou menos especialistas naquilo que é o on-demand e das muitas soluções que podemos ter no on-demand, mas para mim as palavras-chave são menos stock, menos desperdício, reutilizar, renovar aquilo que já foi anteriormente usado, personalizar, fazer único, produzir para durar mais tempo, fornecer equipamentos que durem mais tempo e, obviamente, esta nova realidade que a pandemia acelerou e que nos faz sentir a necessidade de produções de proximidade – e o impacto que isso tem na redução das emissões de CO2», destacou Júlia Petiz.
Soluções transformadoras

Máquinas de bordar que reduzem o erro humano ou que tingem a linha da cor necessária para o desenho, tecnologias de impressão digital que permitem poupanças de consumíveis, água e energia ou equipamentos para decoração e customização imediata de peças de vestuário são algumas das soluções que estão a transformar a indústria têxtil e de vestuário e a impulsionar o on-demand e, consequentemente, a sustentabilidade da moda.
A Tajima, por exemplo, tem o sistema i-TM, que ajusta automaticamente a tensão da linha e permite «reduzir o erro humano e também reduzir o tempo das produções, especialmente o da preparação das produções», revelou Ryota Sato, diretor-geral da Tajima Europe, adiantando que este prazo pode diminuir em cerca de 30% em comparação com as máquinas convencionais. O sistema «traz mais automatização a todo o processo de bordar», sublinhou. As vantagens expandem-se ainda ao tamanho das produções, já que o próprio equipamento da Tajima pode ser adaptado às necessidades. «Para a maioria das grandes produções, vendemos máquinas grandes com 12, 15, 20 cabeças, mas também podemos fazer modelos especiais para produções mais pequenas», apontou Ryota Sato.
Também a Twine é especialista em bordado, mas numa abordagem diferente, sem necessidade de comprar fio de diferentes cores. «Pegamos em fio branco, colocamo-lo no sistema, vamos à máquina, selecionamos a cor que queremos, clicamos num botão e está feito», elucidou Aviram Vardi, diretor de produto sénior da Twine. «Não precisam de saber absolutamente nada sobre tingimentos, sobre química ou física, nada sobre fios.

E se quiserem algo relacionado com bordados, selecionam o botão do bordado e o fio pretendido, escolhem a cor que quiserem e fazem o tingimento on-demand. Se quiserem apenas 200 metros, pedem só 200 metros. Querem mil metros, pedem mil metros. Isto é o on-demand: a quantidade que querem, na cor que querem», acrescentou. «Temos de ser inovadores, não podemos continuar a usar o mesmo processo de há 30 anos», assegurou.
A solução permite reduzir os quilómetros das peças e, ao mesmo tempo, diminuir o tempo de produção. «Conseguimos fazer uma amostra numa hora», asseverou. Além disso, o sistema permite poupanças superiores a 75% em água. «Com a Twine não há desperdício de água. É tudo digital e on-demand», sublinhou o diretor de produto sénior.
A ascensão da customização

Alexandros Papaioannou, diretor de desenvolvimento de negócio da Pulse Microsystems, destacou, por seu lado, a customização. «Para conseguir fazer personalizações, temos de desenvolver novas tecnologias, porque assim que começamos a responder a esta exigência do mercado, de repente a procura aumenta e é preciso ter a tecnologia para dar resposta a isso», esclareceu Papaioannou, dando alguns exemplos, como a Longchamp.
Mas a customização exige que sejam resolvidas algumas questões, nomeadamente a eliminação de erros, «porque não queremos que se gere desperdício», afiançou. «Ao reduzir erros, reduzimos o transporte e, consequentemente, reduzimos a poluição», resumiu. É nesse sentido que a Pulse Microsystems intervém. «O centro do nosso trabalho tem uma automatização do workflow», indicou. «Para ser possível controlar a produção on-demand, precisamos das ferramentas tecnológicas que nos ajudem a conciliar tudo», reconheceu o diretor de desenvolvimento de negócio.

«Somos a segunda indústria mais poluente do mundo, nada mudou até agora desde 2020. 87% das peças de vestuário que produzimos, que estamos a usar, são incineradas, o que quer dizer que não têm uma segunda vida. Estamos a utilizar uma enorme quantidade de energia, de materiais, de água e, no fim, tudo isso acabou. 35% dos microplásticos que são encontrados hoje nos oceanos vêm das roupas que lavamos todos os dias. E isto é um problema enorme, ainda maior do que aquilo que nos conseguimos aperceber. 10% de todos os gases com efeitos de estufa produzidos no mundo estão ligados à produção têxtil. Isto é imenso,

é mais do que todo o transporte marítimo e aéreo juntos. É uma loucura», admitiu Edoardo Codello, diretor de vendas da Seit Elletronica.
A personalização poderá ajudar a combater o problema. «Hoje em dia, com a personalização, estamos a impactar uma pequena fatia deste problema. Mas se conseguirmos usar essa fatia e impactar de uma forma correta, podemos transformar esta pequena fatia numa fatia maior, porque vamos estar a alterar o comportamento dos nossos clientes e o comportamento dos produtores para melhorar o que fazemos diariamente e o que podemos obter», defendeu Edoardo Codello. «Os novos modelos de negócio em prática, desenhados para a longevidade e o reshore, são o mais importante, o mais difícil de alcançar, mas devem estar na nossa agenda para os próximos 10 anos», acrescentou o diretor de vendas da Seit Elletronica, que tem soluções de decoração de peças para a customização, dos bordados aos cortes a laser, incluindo uma solução que permite fazer bordados, vinil, estampados e gravações com um único equipamento.
A estamparia digital tem igualmente um papel importante no on-demand, como apontou um vídeo da Kornit Digital, onde a especialista avançou que «desenvolvemos novas tecnologias que ajudam a salvar os recursos do planeta ao criar têxteis de uma forma mais sustentável.

Tecnologias que colocam a qualidade e a eficiência à frente da quantidade. Nós apoiamos a autoexpressão com uma produção mais inteligente de roupa personalizada. Nós abrimos a porta a marcas e fornecedores para fazerem parte deste mundo mais sustentável e, simultaneamente, aumentarem os seus lucros».
Segundo Sharon Donovich, além da sustentabilidade, a estamparia digital traz vantagens, como as inúmeras possibilidades nos desenhos, a não necessidade de inventário, a reatividade às tendências e a customização. «Acreditamos que as coisas podem ser diferentes e podemos fazê-las on-demand e de uma maneira sustentável», afirmou a diretora de marketing da Kornit Digital. «Estamos a procurar criar novas experiências na moda, quer seja virtualmente, quer seja fisicamente, e proporcionar diferentes experiências ao consumidor», garantiu.

Soluções que podem funcionar também em Portugal, assegurou Paula Zaghetto. «Muitos estão a pensar que isto poderá funcionar no Reino Unido, na Alemanha, mas aqui é diferente. Portugal é um dos mais importantes produtores têxteis da Europa. Vejam, a Massimo Dutti, uma marca premium, é fabricada em Portugal. Portugal tem o maior cluster da indústria têxtil. Vocês exportam 5,4 mil milhões de euros. É enorme. Vocês têm mais procura do que capacidade de produção. Outra marca como a Adolfo Domingues também está a trazer a sua produção para Portugal. Vocês são o número cinco no mundo para todas as grandes marcas de moda. Isto é muito importante», realçou a diretora de transformação de marcas da Kornit Digital.
