Oito empresas nacionais reagem ao 11 de Setembro

Em Portugal, como no resto do mundo, o impacte do 11 de Setembro causou incerteza e necessidade de avaliação de estratégias futuras dividindo-se as previsões entre os mais pessimistas e os optimistas moderados. Luís Mendes (Organtex) «Não sentimos efeitos imediatos» JT – Opinião sobre o impacto dos atentados… Luís Mendes – Temos de dividir este impacto em duas fases distintas no tempo, uma primeira perspectiva de curto prazo e uma outra a mais médio prazo. A curto prazo existem dos efeitos contrários que quase se anulam e tornam um pouco imperceptíveis os verdadeiros impactos no fluxo de encomendas. Se por um lado existe uma retracção do consumo, que é notória na generalidade dos sectores, e à qual o sector têxtil não é imune, por outro lado verifica-se um certo receio, nos clientes, em colocarem produções nos países próximos das zonas de risco, por motivos óbvios. Ou seja, a contracção do consumo é compensada pela fuga de encomendas do oriente, pois acredito que países como o Paquistão, a Índia e até a própria Turquia deixem de receber algumas encomendas, em função de falta de garantias. Em termos de Grupo Organtex, a significativa antecipação com que trabalhamos, faz com que o potencial efeito seja igualmente adiado. A médio prazo, com a normalização das relações comerciais e diminuindo o clima de instabilidade, temo que o impacto seja mais significativo do que actualmente. As perspectivas da têxtil já não eram fáceis, mas quando ao efeito da retracção do consumo for adicionado o regresso da normal concorrência mundial. Sabemos, contudo, dos esforços que estão a ser feitos para a normalização, e temos confiança na continua aposta que fazemos na satisfação completa do cliente, que em conjunto, esperamos, evitem os efeitos negativos. JT – Em relação à liberalização… LM – A questão da liberalização pode ser vista a mesma forma, com os mesmos efeitos anteriormente referidos, numa primeira fase a instabilidade nos países agora beneficiados adia a sua competitividade efectiva, mas a partir do momento que a estabilidade regresse, estando as barreiras eliminadas a condição concorrencial será completamente diferente. Até porque sabemos que estas liberalizações são feitas em termos de tarifas, mas em termos de condições de trabalho e de justiça social continua o desequilíbrio. Paulo Melo (Somelos) «Se o Natal for fraco…» JT – Opinião sobre o impacto dos atentados… Paulo Melo – Para nós aqui internamente na parte de fios e na parte de tecidos houve um impacto muito reduzido. Nós também estamos mais vocacionados para o mercado europeu, por isso não sentimos grande impacto, por acaso até subimos nalguns items, a partir de Julho, Setembro e até Outubro. Por isso não houve no nosso sector de mercado uma grande quebra. JT – Em termos dos acordos que têm vindo a ser feitos, acha que vai alterar alguma coisa? PM – Aí claro, onde vai afectar mais, vai ser naqueles mercados de produção em massa, o que não é o nosso caso. Claro que não afecta tanto em termos de valor acrescentado, mas no segmento médio alto é muito mais o sentimento económico. JT – Não sentiu o consumidor a retrair-se? PM – Isso nota-se. Em vez de irem três ou quatro pessoas, vai agora uma. Há uma expectativa muito grande em como vai decorrer o próximo semestre. As pessoas estão um bocado retraídas, mas tudo depende muito da campanha de Natal. Se houver uma razoável campanha de Natal, acho que as coisas podem não cair tanto como as pessoas pensam. Se a campanha de Natal for fraca, o primeiro semestre será provavelmente complicado. JT – Há alguma deslocalização no sentido de alguma insegurança política a colocar encomendas lá, e que se aposte mais na Europa e nomeadamente em Portugal? PM – Eu sinto que no mercado nacional há algumas encomendas, especialmente no mercado de malhas. São encomendas que deveriam estar nestes países e que estão a ser colocadas cá. Noto aqui uma evolução, agora não posso quantificar em relação aos outros anos. Carlos Branco (Nortenha) «Melhorar produtividade» JT – Impacto dos atentados de 11 de Setembro… Carlos Branco – Desde o dia 11 de Setembro que a América fechou completamente, e como consequência houve pedidos de anulação de encomendas que já estavam a correr porque deixaram de vender durante uma série de dias e mantém-se um grande mutismo em relação ao futuro. Não sabemos o que nos espera pois a actividade dos clientes é neste momento muito pouca. O mercado americano é muito importante. JT – Quanto vende para esse mercado? CB – Vendo em média 1,5 milhões de contos a dois milhões, cerca de 20% da produção da empresa. JT – E depois destes acordos? CB – O problema do Paquistão é de uma gravidade extrema, não diria para a Têxtil Nortenha mas para os Têxteis-Lar. Isto vai funcionar de duas maneiras: Portugal importa muito fio do Paquistão, e vai conseguir ter preços mais baixos, em contrapartida vai ser prejudicado nas peças confeccionadas onde não tem hipótese. Vai perder o controlo do mercado, talvez não já para o ano mas daqui a dois anos as empresas portuguesas vão sofrer imenso. JT – Imagina alguma resposta do sector? CB – Só há uma coisa que o Governo português pode fazer, estando numa situação causada por força maior, é compreensível a politica pela qual a Europa e os EUA estão a optar e o governo não tem saída. Poderá protestar, tem que protestar, tem que fazer sentir que se vai criar uma crise enorme no meio têxtil. Aliás essa crise não é só nos têxteis, já se fazia sentir desde o fim do ano passado ao nível de todas as industrias. Nós temos enfrentado uma crise económica mundial por vários factores que se arrastou e que aumentou agora com este problema. O que eu acho que o Governo tem que fazer para salvar a ITV portuguesa é mexer com a leis laborais e melhorar a baixa produtividade. Não podemos andar a discutir aumentos de ordenados de 4 e 5 % quando devíamos apostar em criar leis para vencer a falta de produtividade que se verifica. A produtividade, o absentismo e as leis laborais são males que não conseguimos vencer. A resposta não está no exterior, está cá dentro, está em aumentar os ordenados de facto mas eu não posso dar uma coisa a uma pessoa que não me dá nada a mim. O trabalhador português vai para o estrangeiro e esfola-se a trabalhar e aqui não faz nada. Estamos a trabalhar a uma taxa de produtividade de 60% que é muito mau, qualquer técnico italiano diz-lhe que com uma produtividade abaixo dos 85% é para abrir falência. Para quê falar em oito horas de trabalho se trabalhamos seis horas por dia? JT – Portugal vai ser beneficiado em termos de colocação de encomendas? CB – É capaz de isso acontecer .Os países vão começar a repensar as colocações das suas encomendas, tem que ter sempre varias fontes dos seus serviços, e com o que está a acontecer nenhuma empresa vai «por todos os ovos debaixo da mesma galinha». François Gros (Tebe) «Menos turismo mais negócio?» JT – Impacto do atentado nos EUA… François Gros – De momento, o que se pode dizer é que as decisões foram atrasadas. As pessoas estão com medo de se comprometerem. Poderá não haver uma baixa das encomendas, basta ver as acções cotadas na bolsa. A distribuição tem recuperado nos EUA, e a procura em alguns casos até é superior. E podíamos imaginar que agora o que se gasta menos em turismo se gasta mais em roupa. É outra possibilidade. JT – E no caso da TEBE? FG – Não exportamos muito para os EUA, mas ainda se reflecte. Mas não sabemos muito bem quais vão ser as orientações. Comprar mais made in USA para já não vai funcio