Oferta e procura em dessintonia

Se as vendas no retalho continuarem em declínio, David Birnbaum, o autor do The Birnbaum Report, uma newsletter mensal destinada à indústria do vestuário, acredita que o mercado vai entrar em ruptura novamente, como explica neste artigo de opinião. Em 2009 todos cortaram nos inventários até ao “tutano”. À medida que 2010 começava, todos viram que os consumidores, cansados da austeridade, estavam prontos a comprar, comprar, comprar – desde que o preço estivesse correcto. Os profissionais posicionaram-se para dar aos consumidores o que eles queriam: mais, mais, mais. A indústria mudou de marcha-atrás para velocidade de cruzeiro. O espaço industrial foi reservado e as matérias adquiridas. Todos os profissionais avançaram a todo o vapor, lutando pela entrega. O preço do algodão subiu rapidamente para a estratosfera. As vendas norte-americanas de vestuário no retalho caíram em Maio, acabando com sete meses positivos. Mais uma vez, os profissionais foram apanhados a dirigirem-se na direcção errada. Porque é que os profissionais sempre se enganam? Não é apenas na indústria do vestuário. É na indústria do petróleo, na indústria da construção civil, no sector bancário também. Parece que no momento em que os profissionais assumem o controlo, o sistema inteiro entra em colapso. As pessoas são expulsas de suas casas, os bancos falham e o Golfo do México começa a parecer o quarto de banho de uma república de estudantes. Existe uma explicação e essa explicação tem mais de 100 anos. Este é um exemplo clássico da Smart Schmendrick Syndrome (síndrome dos espertos insensatos) hipótese apresentada pela primeira por Katzenellenbogen no seu estudo, actualmente quase esquecido, do século XIX em Budapeste, sobre o mercado de futuros do “peixe recheado” (prato típico da culinária judaica). Katzenellenbogen explicou que, num mercado normal, os profissionais sempre prevalecem sobre os amadores. Eles são mais inteligentes, mais experientes, mais instruídos e mais sofisticados. No entanto, quando o mercado fica dominado por esses profissionais, eles falham. O seu próprio intelecto, experiência, educação e sofisticação levam-os invariavelmente a implementar as piores estratégias, enquanto os amadores ficam a ganhar, porque simplesmente não sabem mais. O que é verdadeiro para o “peixe recheado” é igualmente verdade nas t-shirts e nos jeans. Vivemos num mundo controlado pelos profissionais, onde os amadores foram postos de parte. O ano de 2009 foi provavelmente o pior da história para o sector de vestuário mundial. Todos os profissionais, sendo profissionais aproveitaram a oportunidade para reduzir os stocks, agravando colectivamente a situação. Como resultado, enquanto as vendas no retalho caíram 6,2%, as importações de vestuário dos EUA caíram 11,9%. O ano 2010 trouxe uma inversão. A procura dos consumidores começou a recuperar e cada profissional, com base na sua experiência, educação e sofisticação, reconheceu que, num mercado em crescimento, a prioridade é garantir a produção. Assim sendo, todos ao mesmo tempo entraram no mercado em simultâneo, bloqueando as indústrias e o espaço de produção de vestuário, comprando matérias-primas (aumentando o preço do algodão para níveis recorde), criando assim uma escassez em toda a indústria. Estes aumentos não tinham qualquer relação com a procura do consumidor. Era simplesmente um caso de todos os importadores a licitarem contra todos os outros importadores para garantirem que a sua empresa teria bens suficientes para atender à procura crescente dos consumidores, caso a procura dos consumidores aumentasse realmente. Entretanto, as vendas no retalho em Abril não foram tão boas e as vendas de Maio diminuíram. Mais uma vez. Se as vendas de retalho em Junho continuassem em declínio, o mercado entraria em ruptura. Os profissionais vão receber a sua licença de lemingue e mais uma vez levar as suas empresas para o precipício. Os amadores – os schmendricks (insensatos) que não sabiam ler as tendências – poderão escolher os produtores e serão capazes de comprar o algodão e outras matérias-primas a preços de saldo.