Um plissado é apenas um plissado a não ser, claro, que por detrás tenha o nome de Madame Gres. Para esta conhecida criadora, que plissou o seu caminho na moda durante meio século de carreira, a técnica de dobrar meticulosamente o tecido no corpo para criar formas dramáticas esculpidas elevou uma simples técnica a uma verdadeira forma de arte. Cerca de 80 criações da artista, que morreu em 1993, estão em exposição este Verão no Musée Bourdelle na capital francesa. A colecção, retirada dos arquivos do temporariamente fechado Musée Galliera da moda, é a primeira retrospectiva desta lenda parisiense conhecida pelo seu turbante Angora a quem os designers de moda contemporâneos devem muito. Num exemplo espantoso, a seda laranja eléctrica cai em centenas de pequenas pregas acentuadas com uma fita castanha, num vestido de 1977 que é ao mesmo tempo contemporâneo e clássico. Noutra sala, sete vestidos de noite brancos criados entre 1950 e 1970 mostram a versatilidade em volta de um conceito comum. Os vestidos variam da simplicidade grega ao vanguardismo, com um a mostrar o torso e um soutien em forma de torpedo. «Perfeição é uma das metas que procuro atingir», é uma das frases citadas de Gres. «Para um vestido sobreviver de uma era para a próxima, tem de estar marcado por uma extrema pureza», acrescentou. Vestidos inspirados na Grécia nunca saem de moda e celebridades de hoje, desde Anne Hathaway a Natalie Portman, fizeram recentes aparições no tapete vermelho com este estilo de vestido, complementados com dobras em cascata e plissados intrincados. Pureza de forma, aspectos artesanais de topo e uma crença inabalável na sua visão permitiram a Gres encontrar sucesso fazendo essencialmente o mesmo vestido neoclássico uma e outra vez em centenas de formas diferentes. Uma visão singular Com esculturas massivas de Antoine Bourdelle, que dá nome ao museu, em pano de fundo, o primeiro design em exposição é um vestido de noite em seda de jersey branca, assimétrico, de 1945, agora detido pelo editor da Vogue Hamish Bowles. As centenas de pregas intrincadas a cair a partir da cintura criam um look que poderia facilmente sair dos frisos do Parténon. Nascida Germaine Emilie Krebs em 1903, Gres queria ser escultora mas acabou por passar toda a sua vida a explorar uma miríade de possibilidades do tecido drapeado. Adoptou o nome Gres, pseudónimo do seu marido, um pintor russo. Ganhou primeiro notoriedade em 1935, com modelos para a peça do surrealista Jean Giraudoux, The Trojan War Will Not Take Place”, tendo começado a desenhar sob o nome Alix. Fotografados por Cecil Beaton e Horst O. Horst, os seus vestidos foram usados por celebridades desde Marlene Dietrich à Duquesa de Windsor. Gres podia pegar em 2,8 metros de tecido e reduzi-lo através de pregas para 7 centímetros. Isso dava-lhe não só volume mas uma estrutura interna que não exigia reforços ou corpetes. Com o seu uso generoso de tecidos em tempo de guerra enfureceu os alemães, que ordenaram o encerramento da sua loja em Paris. Mas as criações em jersey de seda e tafetá continuaram inflexíveis após a guerra e nas décadas que se seguiram. «Assim que alguém encontra algo com um carácter pessoal e único, a sua execução tem de ser explorada e perseguida sem parar», afirmou Gres, numa citação usada nas notas da exposição. Enquanto outros designers do século XX experimentaram adornos mais dramáticos, com folhos, aplicações ou estampados, Gres centrou-se apenas no humilde plissado. A técnica de moda subaproveitada torna-se mágica num vibrante vestido de noite em tafetá coral, com o trabalho de assinatura de Gres em duas mangas enormes que surgem dos ombros. Um vestido em organza em seda preta de 1977, cujas aberturas verticais ao longo do corpete espelham as dobras verticais de tecido em cascata é, ao mesmo tempo, sofisticado e altamente sensual. A exposição, aberta ao público até 28 de Agosto, tem atraído estudantes de escolas de arte com blocos de desenho em punho. «Gosto que eles descubram coisas para desenhar que emergem da criatividade», afirmou Gres no passado. «Faz com que a sua imaginação voe».