O sonho surreal da Ernest W. Baker

«Nos últimos meses, sentimo-nos nas garras de uma realidade incontrolável. Incerteza, ansiedade e stress têm sido uma constante na nossa vida. Como criativos, isto forçou-nos a analisar o que interessa e o que queríamos dizer, dentro desta estrutura em constante mudança», explicam Inês Amorim e Reid Baker na descrição do vídeo que apresentou a 22 de janeiro, integrada no calendário oficial da Semana de Moda Masculina de Paris.

«Para dar vida à estação, voltámo-nos para o cinema, não pelo seu poder de contar histórias, mas pela sensação estética com que os sonhos de que não nos lembrámos bem, e o ano passado, nos deixaram», acrescentam. No vídeo, «sensação de sonho lúcido, as “sequências oníricas, cores fortes, quadros bonitos e uma pitada de stress” emprestadas do universo de Wong Kar-Wai em Falling Angels, cruzam-se com a “onda de emoção, sentimentos em vez de palavras e uma paleta agridoce” de Wim Wenders em as Asas do Desejo. Tudo ligado nas “perspetivas surrealistas, mal-estar rastejante e memórias ainda por acontecer” de David Lynch em Mulholland Drive», descrevem através do comunicado de imprensa divulgado pelo Portugal Fashion, que apoiou a presença da marca em Paris.

Do sonho surrealista da Ernest W. Baker fazem parte tons fortes, nomeadamente o vermelho, presente em t-shirts estampadas, calças tartan, cachecóis e camisas, assim como os estampados animal, em peças mais clássicas, como os sobretudos, ou mais casuais, como um pijama. Há ainda «um roupão exuberante que se dobra como um casaco», explicam.

«O que acreditamos fortemente na Ernest W. Baker é que reinterpretar o passado serve para inspirar o presente e transformar o futuro. E neste momento temos apenas uma certeza: mesmo o pior dos sonhos eventualmente se desvanece com a chegada de um novo dia», resumem os designers na descrição do vídeo.

Crescer e fazer coleções

Esta foi a segunda participação no calendário oficial parisiense, depois da estreia em 2020. «Foi algo que sempre quisemos e termos chegado até aí foi bastante enriquecedor e importante para a marca», afirmou Inês Amorim ao Jornal Têxtil. A primeira vez no Portugal Fashion era igualmente uma meta, cumprida em outubro. «É muito importante porque já estamos aqui [em Portugal] há dois anos e queríamos conhecer e começar a entrar na moda portuguesa», assumiu Inês Amorim.

A marca, cujo nome e conceito é uma homenagem ao avô de Reid Baker, um dos primeiros publicitários de Detroit, está vocacionada para um consumidor jovem, mas as linhas são clássicas, tais como as usadas pela “musa” da marca, o próprio Ernest W. Baker. Apesar de «dar um pouco para tudo», como descreveu a designer, «quando vemos as pessoas que usam, são consumidores um pouco mais jovens, entre os 20 e os 30 anos», apontou.

Já geograficamente, não há fronteiras. «Vendemos para muitos países. Temos lojas nos EUA, na Europa, no Japão, na Coreia do Sul, na China, em todo o mundo», revelou Reid Baker ao Jornal Têxtil. Entre os retalhistas estão lojas de renome como a 10 Corso Como, Antonioli, Galeries Lafayette, Ssense e United Arrows.

As vendas online cresceram com a entrada em Paris no ano passado, até porque essa presença «ajuda em termos de publicidade, a trazer mais lojas e lojas maiores».

As metas para a marca passam por aumentar as vendas. «Os objetivos são continuar a crescer e continuar com a marca. Com a pandemia, pensamos sempre que nunca nada é certo, pensamos sempre no que vai acontecer a seguir, mas é crescer e continuar a fazer coleções», concluiu Inês Amorim.