Foi o sentimento de que ainda não se tinha expressado completamente no campo da moda em nome próprio que fez com que Pedro Pedro decidisse reverter a decisão que tomou há alguns anos de fazer uma pausa na sua marca epónima. «É o mal de uma pessoa criativa. Não conseguimos estar parados e parece que nos falta um bocado de nós próprios. Acho que ainda continuo a ter qualquer coisa para dizer», confessa ao Portugal Têxtil.
Ainda assim, parar foi importante. «Estava, se calhar, um bocadinho saturado, fazia isto há muitos anos e soube-me mesmo bem desligar. Mas fez-me falta, não vou dizer que não», admite. O tempo que esteve afastado permitiu igualmente ver este mundo «com outros olhos, assentar ideias diferentes», garante o designer. Com desafios que o tempo se encarregou de ultrapassar e substituir por outros, «percebi que era isto que queria fazer e que é isto que gosto de fazer», reconhece.
Apesar de, «basicamente, estarmos a começar do zero», em parte o regresso foi facilitado pela familiaridade que Pedro Pedro encontrou na indústria têxtil. «A Riopele patrocinou-me os tecidos, a Troficolor o denim e as bombazinas, o que agradeço muito, porque é um peso que sai de cima. Fui muito bem recebido. Vejo as pessoas com quem trabalho e os fornecedores como uma família, já os conheço – a minha modelista, que, entretanto, se mudou para Lisboa, a minha própria mãe diz que ela é a minha segunda mãe. Achei que ia ser estranho, mas as pessoas são maravilhosas, são os mesmos, é uma grande família, apoiam-me, ajudam-me, esforçam-se imenso e, portanto, foi maravilhoso voltar a ver toda a gente que trabalhava comigo», revela o designer.
Online na calha
O resultado imediato foi uma coleção com 26 coordenados que traz os anos 90 para o século XXI. «Tem muito a ver com os anos 90, countryside, rave. É como se um hippie dos anos 90 fosse transposto para 2022, com misturas estranhas, coisas feitas à mão. É explorar os erros, é aceitar a individualidade e aproveitar as coisas bonitas», descreve Pedro Pedro.
Mostrada essencialmente por homens na passerelle do Portugal Fashion, a coleção foi, contudo, pensada para ser usada também por mulheres. «É uma coleção unissexo, ou seja, contamos daqui para a frente escalar para tamanhos de senhora, mas mantendo as características oversize», explica.
Uma influência que emerge da própria sociedade atual. «Já tenho alguma idade, mas uma coisa engraçada que aconteceu é que, desde que parei, comecei a notar que há uma geração nova com ideias muito diferentes daquelas que tínhamos na nossa altura. Praticam o ativismo, seja no gender, contra o racismo, contra a xenofobia… Não são de rótulos, são muito individualistas e gostam de coisas daqui e dali e sinto que estamos a viver um momento bonito. Apesar de todo o contexto geopolítico, da guerra terrível que está a acontecer e de virmos de uma pandemia horrível, é quase o Yin e o Yang, no extremo mau há um extremo muito bom também», refere.
Esta nova geração está igualmente a condicionar as novidades na marca ao nível da distribuição. «Há muito negócio que cresceu online durante a pandemia e nós estamos a apontar para aí, para uma loja online. A ideia não é replicar a coleção toda, porque isso tem custos elevadíssimos para quem está a recomeçar, mas é fazer por lançamentos, como faz a concorrência do mercado de massas – a cada mês e meio fazer dois ou três coordenados, com tamanhos, vender e arrumar. Mês e meio depois há novas peças», esclarece.
Isso não quer dizer que a experiência passada seja desperdiçada. «Quando parei, as coisas até estavam a funcionar. Tínhamos a Carla Reis como agente, fazíamos produções pequeninas, já tínhamos quatro ou cinco lojas em Itália. Estava a acontecer. Quando decidi parar foi difícil porque sabia que ia perder isso. Mas a Carla está super entusiasmada, portanto o próximo passo é contactá-la, com esta coleção, para ver se há clientes que ainda queiram pronto moda para entregar rapidamente. O site será em paralelo», adianta.
Perspetivas que se abrem para um futuro para o qual Pedro Pedro se mostra otimista, embora consciente de que a situação do mundo não é a mais favorável. «Temos que ver o lado positivo das coisas», assume o designer.