Em mais um artigo publicado no site Just-style.com, o analista David Birnbaum aborda as consequências do fim do sistema de quotas sobre a indústria têxtil e do vestuário, tanto nos países mais industrializados, como nas nações em vias de desenvolvimento.Mostrando-se apologista da realização de um amplo e profundo debate sobre os efeitos do fim das quotas no comércio de têxteis, já em 2005,David Birnbaum defende que tal discussão é essencial, em especial após uma década em que, nas longas e difíceis negociações do Uruguai, o fim das quotas assumiu foros de uma cruzada moralista, na qual os bons mas pobres exportadores de vestuário, apoiados pelas organizações não-governamentais, combateram os ricos e maléficos proteccionistas dos países importadores do Ocidente.Nesses dez anos, prossegue o referido analista, não foi feito um verdadeiro esforço no sentido de analisar efectivamente como é que as quotas influenciam o comércio internacional, e muito menos como o fim dessas mesmas limitações afectaria as importações e exportações de vestuário a nível global. Neste caso, a única estratégia dos países exportadores e das ONGs (organizações não-governamentais) foi a de criticar as nações mais ricas, cujas quotas estavam a privar esses pobres países exportadores dos seus legítimos direitos de comercializar artigos de vestuário.Todo este debate arrastou-se ao longo de vários anos, tendo finalmente terminado com o abandono, por parte dos países mais industrializados, dos esforços para proteger as suas próprias indústrias do vestuário. Em 1994, as nações mais desenvolvidas deram assim os louros da vitória aos países exportadores.David Birnbaum prossegue a sua análise, afirmando que, como todas as cruzadasmorais, as negociações para a abolição das quotas foram caracterizadas por elevados níveis de ignorância, combinada com baixos níveis de integridade.Assim, nove anos depois, as perspectives não parecem boas, e os resultados do panorama em 2005 não serão os originalmente esperados.Entretanto, os vencedores dessa cruzada anti-quotas começam a compreender que a sua suposta vitória nas negociações de Montevideu afinal não foi uma vitória, tornando-se cada vez mais evidente para esses países que 2005 vai trazer sérios problemas, dado que os exportadores em vias de desenvolvimento perderão quotas de mercado, causando assim prejuízos catastróficos.De facto, o grande e talvez único vencedor das negociações de Montevideu, tenha sido um país que nem sequer esteve presente no Uruguai, ou seja, a China, consideraDavid Birnbaum.O acordo em questão, que decidiu o fim do actual sistema de quotas no comércio de produtos têxteis, envolveu quase todos os países do mundo, e demorou cerca de dez anos a negociar, estando integrado na Organização Mundial de Comércio.Na opinião deDavid Birnbaum, há poucas hipóteses de construir um verdadeiro consenso nesta matéria, no último ano antes da implementação das decisões tomadas há uma década.Certamente que essas hipóteses não serão reais, amenos que todas as partes envolvidas aceitem seguir duas regras básicas: todas as partes devem aceitar os factos tal como existem de forma honesta, e todas as partes devem agir com integridade.
David Birnbaum considera que, no fundo, estas duas regras acabarão por comprovar de forma irremediável o grande defeito de qualquer cimeira ou conferência, ou seja, que qualquer esforço para compreender a situação criada e a crise iminente, deverá sempre começar pela letra E, levando os intervenientes a admitir que estão ERRADOS.No decorrer das negociações em causa, acerca do fim das quotas no comércio de têxteis, os Estados Unidos e a União Europeia foram atacados, sendo acusados de serem imorais e como sofrendo de uma enorme ganância, continuaDavid Birnbaum.Nestas circunstâncias, é obviamente impossível aos mesmos Estados Unidos ou à Europa tomar a iniciativa no que toca à re-imposição de quotas ao comércio global de vestuário.Como é natural, qualquer tentativa nesse sentido seria vista por muitos países como mais uma prova da monumental ganância e ambição daqueles estados.Assim, os países exportadores de vestuário, bem como as ONGs que os apoiaram, tendo vencido a sua grande cruzada, encontram-se agora isolados.Dada a importância que as exportações de vestuário assumem nas economias de muitos países em vias de desenvolvimento, a par do quase universal reconhecimento de que o fim das quotas vai devastar essas mesmas economias, poderíamos pensar que os respectivos governos empreendessem todos os esforços no sentido de encontrar uma solução para este problema. No entanto, tal não se tem verificado…