O novo dandy asiático

Um passeio por qualquer das principais ruas ou por um centro comercial no Extremo Oriente vai certamente alegrar o coração dos produtores de vestuário para homem. Ao contrário do que acontece no Ocidente, onde as lojas de roupa para senhora ultrapassam de forma desproporcional as lojas de roupa masculina, as lojas dedicadas ao público masculino no Oriente estão rapidamente a alcançar a predominância das lojas dedicadas ao público feminino. Esta evolução surge em sequência do aumento significativo dos homens asiáticos metrosexuais. Libertados de imitar as ideias fundamentalmente anglo-saxónicas sobre como desenvolver os negócios e como se vestir para o efeito, os novos homens asiáticos influentes estão a rejeitar os económicos fatos de poliamida e a optar por uma imagem mais agradável e com mais classe, que implica maiores cuidados ao nível da imagem do que anteriormente seria considerado como normal. As mudanças nas atitudes das mulheres também estão a contribuir para a alteração nos comportamentos masculinos, à medida que estas se tornam mais independentes em termos financeiros e o mercado do romance está cada vez mais enraizado na sociedade. De acordo com a opinião de diversos comentadores asiáticos, as mulheres já não anseiam pelo tipo de homem recatado e forte, querem um homem urbano, com estilo, agradável, gentil e, acima de tudo, asseado. O Japão, líder em quase todas as tendências asiáticas de moda e cultura, tem sido o pioneiro dos novos dandies, designação pela qual são conhecidos na região. Independentemente da idade, os homens asiáticos não hesitaram perante a possibilidade de provarem que também eles podem aspirar aos encantos tipo Beckham (idolatrado pelos asiáticos) para impressionar as mulheres, esposas e namoradas. «O papel do homem e do marido na sociedade japonesa mudou completamente durante os anos do pós-guerra. Este novo mundo de incertezas criou o desejo entre os homens por mulheres que aparentam ser inocentes e não ameaçadoras. Agora também os homens têm um papel mais meigo a desempenhar na sociedade», de acordo com a opinião do escritor japonês Kjeld Duits que vive em Tóquio e regista as últimas tendências de moda no seu sítio na Internet: JapaneseStreets.com. Maior consumo na gama alta Apesar dos gastos do consumidor continuarem em baixo no Japão, em resultado de uma prolongada recessão, aparentemente o consumo de vestuário para homem já inverteu a tendência. E o consumo de artigos de gama alta está lentamente a aumentar de novo em resultado do renovado interesse nos artigos destinados ao consumidor masculino. A indústria de retalho já respondeu. Em Setembro, a cadeia japonesa de lojas de retalho Isetan reabriu a sua loja para artigos de homem em Tóquio, no distrito de Shinjuku após completa remodelação. O renovado espaço comercial reflecte a ideia de que os consumidores masculinos estão menos interessados em nomes de marcas do que nas qualidades individuais de uma potencial compra: 70% da área de venda disponível está dividia não por marcas, mas por tipos de produtos. No primeiro andar, onde os clientes formam a sua impressão inicial, as lojas com nomes de marcas foram substituídas por um espaço único para a venda de acessórios no qual os produtos estão organizados por tipo. Antes da renovação, o piso dedicado aos fatos para homem era composto por lojas individuais de marcas específicas, cujas paredes separavam os artigos da Brooks Brothers dos da J. Press, por exemplo. Agora as paredes foram eliminadas e os fatos de todas as marcas estão expostos numa área comum. Os clientes que procuram fatos informais podem agora facilmente procurar e comparar produtos de muitas marcas diferentes, enquanto os que procuram fatos formais podem fazer exactamente o mesmo, mas na área reservada a este tipo de artigos. Mudanças como estas ajudaram as lojas de vestuário masculino remodeladas a fomentar o seu volume de vendas. No caso da Isetan, as vendas para os primeiros dois meses após a abertura registaram uma subida de 30%, relativamente a igual período do ano passado, um volume de vendas que superou as previsões iniciais. Fomentando a tendência para homens conscientes da moda encontramos o crescente número de revistas destinadas ao público masculino, principalmente a homens de meia-idade (entre os 40 e os 50 anos) sensíveis a tendências de moda, assim como espaços televisivos dedicados ao «novo homem» japonês e asiático. Geração dandy As revistas apresentam guias detalhados sobre como conseguir o visual dandy tradicional, onde se enquadra o Primeiro-ministro japonês Junichiro Koizumi, incluindo quais as roupas a utilizar para o efeito. Sendo baseada no estilo dos italianos de meia-idade, esta tendência dandy tem sido uma dádiva para os produtores italianos de fatos e calçado para homem. Outros sectores destinados a beneficiar do ressurgimento do gentleman japonês são os alfaiates da London’s Savile Row. Efectivamente, os fatos por medida nunca passaram de moda para o homem japonês e o próprio nome da rua é conotado no Japão como sinónimo de um fato bem concebido e caro. Mas para os homens metrosexuais das activas e fervilhantes cidades do Nordeste asiático, os gostos tendem para marcas reconhecidas como Armani, Versace e outros designers de renome do Ocidente. As ruas de Xangai, Seul e Tóquio estão repletas das suas lojas e de homens jovens, ansiosos por impressionar as raparigas com, pelo menos no caso da China, um guarda-roupa extraordinariamente caro e completo. Nos centros urbanos da China, estes «novos homens» podem ser vistos em torno das lojas das principais marcas e dos showrooms da Ferrari que têm germinado ao longo dos últimos meses. São conhecidos por «aimei nanren» (algo semelhante a «homens bonitos e amorosos»), e apresentam a mesma obsessão que as suas namoradas pelas principais marcas estrangeiras. Estes jovens, assim como acontece com as suas congéneres femininas, não são adversos a remover os pelos do corpo para mostrar os seus novos visuais. Falsificações no mercado interno Mas os importadores de vestuário não devem contar com grandes mudanças imediatas no mercado chinês, na medida em que um grande número de marcas de designer são falsificações feitas no mercado chinês, conforme foi referido pela editora de beleza da Vogue China, Solo Li. Segundo esta responsável, as cópias estão em todo o lado no mercado chinês de moda, não sendo difícil vestir marcas de renome «da cabeça aos pés». E trata-se de uma tendência que está apenas a começar numa China que está ainda confusa entre a Revolução Cultural de Mão e o mercado capitalista. «Até à data não acredito que o “homem amante da beleza” tenha sido uma tendência significativa na China. Os homens estão mais atentos ao que vestem, utilizam cremes para a cara e produtos de limpeza e até mesmo um pouco de perfume, mas trata-se apenas de rotinas diárias básicas. Os homens compram produtos de limpeza ou hidratantes, mas poucos têm maquilhagem, nem mesmo uma base. Por vezes tingem o cabelo, mas poucos escolhem a cor certa», refere Solo Li. Segundo um recente artigo sobre os novos homens asiáticos publicado na Time Magazine, os sósias na Coreia são os «kkotminam», ou «homens flor», descritos como «grupos de janotas que saltam de bar em bar e que se vestem com artigos de designers». No entanto, a Coreia e o Japão não sofrem do mesmo volume de vestuário de contrafacção como a China, mas independentemente de consumirem artigos contrafeitos ou não, já não existe retrocesso na tendência para o elevado consumo do homem asiático efeminado.