O lado rebelde da Alda Têxteis

Seguir as tendências não é suficiente para a Alda Têxteis. Além das fibras naturais que se enquadram na recente onda de sustentabilidade transversal a toda a indústria, a produtora de têxteis-lar voltou à puberdade, com a marca «rebelde» Fat Pig, dirigida a um público mais jovem.

Carlos Barroso

Há pouco mais de um ano, a Alda Têxteis decidiu dar origem a uma nova vida. O porco que identifica a marca Fat Pig nasceu no verão de 2018 e já deu os primeiros passos na Comic Con, célebre festival de cultura pop, em Lisboa, por duas vezes. À primeira vista, a associação entre o evento e a produtora de têxteis-lar parece invulgar, mas o design da roupa de cama exclusivamente em jersey tem claramente um cariz mais jovial. «Uma vez que a imagem é um porco com traços agressivos, os representantes da Comic Con acharam piada e convidaram-nos a instalar um stand e beneficiar de alguma divulgação da nossa marca, porque consideraram que fazia todo o sentido ligá-la à BD [banda desenhada]», explica Carlos Barroso, CEO da empresa, ao Portugal Têxtil.

Além da roupa de cama, a Fat Pig comercializa vestuário casual como t-shirts, camisolas de capuz, calções, polos e bonés. «A ideia é ter um homewear que seja prático e que as pessoas possam identificar também em malha», esclarece. No sentido de reforçar a ligação ao público mais jovem, Carlos Barroso revela a hipótese de, no futuro, a Fat Pig integrar também uma banda desenhada, criada a partir do respetivo ícone do porco, acompanhado por novas personagens.

Depois de se dar a conhecer ao público português, França, Holanda e Alemanha estão na linha da frente para serem os próximos a receber o porco da Alda Têxteis. «[Os nossos clientes] estão muito curiosos com o possível impacto que [a marca] pode ter, uma vez que assenta toda a sua estrutura em malhas, um tipo de artigo que não é tão reconhecido para roupa de cama, mas que tem vindo a crescer, tem vindo a ganhar algum terreno no mercado», revela o CEO.

Diversificar a oferta verde

Para a Alda Têxteis uma novidade nunca vem só e, este ano, a produtora apanhou o comboio da sustentabilidade, apresentando uma coleção em fibras naturais e recicladas, como o algodão reciclado e orgânico, o linho e o cânhamo. Esta preocupação fez-se acompanhar, na Heimtextil, de um saco produzido a partir de tecidos que iriam ser destruídos, sob a política dos três R’s (reduzir, reutilizar e reciclar) que estão na base dos valores ecológicos. «Julgo que está toda a gente imbuída no espírito de um mundo mais sustentável e, por isso, todos vêm em busca do mesmo fim. [Os nossos clientes] estão a reagir bem a isso [à nossa oferta] e têm proposto alguns desenvolvimentos novos, aos quais estamos atentos», afirma Carlos Barroso.

Dentro das malhas, a empresa estreia-se também com o pelo de camelo. «Acaba por ser mais uma fibra que ajuda a dispersar [as opções de matéria-prima] para contribuir para a sustentabilidade e não haver o esgotamento de uma só fibra», principalmente daquelas que têm origem animal, argumenta.

Esta aposta faz parte da estratégia de investir «no cliente final, ou seja, no desenvolvimento de novos produtos, através da utilização de novas matérias-primas, mas não necessariamente em maquinaria», admite Carlos Barroso. Deste modo, os 45 trabalhadores da Alda Têxteis dividem-se apenas pelo corte e confeção, subcontratando a empresa todos os outros processos produtivos, assentes em «parcerias já bem estruturadas e com um longo histórico», reforça. Por outro lado, o CEO considera que a componente virtual tem representado recentemente uma das principais áreas de investimento da produtora de têxteis-lar, porque «temos perfeita noção de que, hoje, é um cartão de visita e também pode ser um canal de escoamento de algum material».

Fim de um bom ano

Apesar da desaceleração da economia mundial, a Alda Têxteis conseguiu fugir à pressão negativa, fechando o ano de 2019 com um crescimento de 8%. «De forma geral, foi um bom ano», sintetiza Carlos Barroso, para quem o maior desafio foi «evitar que houvesse um pico de produção nas mesmas alturas, ou seja, tentámos tornar a faturação mais regular durante todo o ano» e combater a queda da procura por parte dos clientes. «Infelizmente, nem sempre foi possível, mas este crescimento mostra que o trabalho foi bem conseguido», reconhece.

Exportando cerca de 90% da sua produção, a Alda Têxteis dirige-se essencialmente ao mercado centro-europeu, nomeadamente França, Alemanha e Bélgica, que, em 2019, estiveram na base dos resultados positivos da empresa. «Voltamos a recuperar parte da quota [de mercado] que tínhamos em França. O mercado alemão continua a ser muito importante para nós. O mercado belga também tem beneficiado de algum crescimento», aponta.

Para 2020, a empresa antecipa continuar a crescer, «não em números exagerados, porque queremos evoluir de uma forma sustentada», e consolidar os mercados em que já está estabelecida, principalmente nas mais recentes apostas, onde se incluem os EUA e o Canadá. «Acho que pode vir a ser novamente um ano positivos para nós», acredita o CEO.