O fim da “fast fashion”?

Os preços baixos despoletaram a "fast fashion" – vestuário que é tão barato que se pode deitar fora após usar apenas algumas vezes. Mas os compradores têm de estar atentos: os preços baixos estão a acabar e as compras vão tornar-se mais onerosas. Esta é a conclusão do relatório da Verdict Research, que avisa que «os dias de roupa barata estão contados» uma vez que o período de 12 anos de preços baixos está a reverter-se.De 2008 a 2012, o preço médio do vestuário de senhora – o maior segmento – vai aumentar 4,7%, segundo as previsões da consultora, em comparação com a queda de 9,4% nos últimos 4 anos.O principal factor para a deflação dos preços das roupas foi a decisão dos retalhistas de aumentar a produção em países de baixos custos, principalmente na Ásia. Mas alguns acreditam que a maior parte dos ganhos do sourcing já foi atingida. «Nos últimos cinco a dez anos os retalhistas espremeram ao máximo o circuito de fornecimento», afirma Neil Saunders, autor do relatório da Verdict.Os consumidores ávidos por pechinchas não devem, todavia, desesperar: a Verdict prevê uma inflação gradual, enquanto que outros analistas de renome, como Tony Shiret da Credit Suisse, mostram-se ainda cépticos face a este potencial aumento dos preços. «No sul da China a inflação está a aumentar mas os retalhistas estão a dirigir-se para o norte da China e para o Vietname. Aí mantém-se globalmente uma sobre-capacidade em termos de produção», afirma Tony Shiret.No entanto, a crescente consciencialização dos consumidores por questões ambientais e éticas, incluindo os baixos salários dos trabalhadores e o sourcing a grandes distâncias, pode levar os retalhistas a abastecer-se mais perto, em países mais caros. Mas é pouco provável que abandonem os fornecedores baratos enquanto o sinal dos consumidores não for claro.Kate Ambler, uma consumidora de 27 anos, que trabalha em marketing, diz que pensa em sourcing ético «mas de forma passiva». Ambler evita as lojas mais baratas porque está convencida que as roupas «se desfazem».Neil Saunders acredita que isto é representativo de muitos consumidores da classe média que antes exibiam orgulhosamente produtos baratos mas que agora se preparam para «subir um nível». Os retalhistas gostariam de encorajar esta tendência, persuadindo os consumidores a comprar as suas gamas mais "chiques" e mais caras. Mas a maior parte dos consumidores, de acordo com Tony Shiret, não está convencida. «O facto é que a quota de mercado que mais cresce é a dos especialistas em preços baixos».No entanto, muitos artigos de vestuário são tão baratos que a Verdict acredita que existe agora «uma saturação do produto. As pessoas têm produtos a mais». Mas a ideia que os consumidores abandonarão a "fast fashion" – com o fim da deflação – ainda tem de ser provada no terreno.