Sem excluir propriamente ninguém, Maria Carlos assume que «o padrão [das consumidoras das suas propostas] são mulheres que têm uma voz ativa, que têm uma vontade, que querem, de alguma forma, mudar e contribuir para a sociedade». Além disso, «estão sempre ligadas ao mundo da arte», acrescenta.
Na mais recente coleção que apresentou no Portugal Fashion, a primeira que desenvolveu com a irmã Inês Manuel, explorou a relação entre a mulher e o cavalo. «Informámo-nos e descobrimos que a relação do homem com o cavalo e da mulher com o cavalo é diferente», explica Maria Carlos. No caso masculino, «até em termos históricos, o homem é muito dominante sobre o cavalo», indica a designer, enquanto «entre a mulher e o cavalo há uma espécie de harmonia. Foi exatamente isso que tentámos retratar através de volumetrias, através de leveza e suavidade de alguns dos materiais e dos vestidos que utilizámos. E também através de manipulação têxtil», conta Inês Manuel ao Jornal Têxtil.
Propostas que vão ao encontro das preferências criativas da jovem designer vinda do Bloom e com passagem por Paris, que afirma que «gosto de criar uma imagem muito feminina, mas não é o meu foco, acaba por acontecer naturalmente. Tento também trazer sempre um fator masculino, alfaiataria e casacos».
As duas irmãs começaram o trabalho conjunto apenas nesta coleção. «Muito sinceramente não foi planeado. Queríamos fazer isto há algum tempo, surgiu a oportunidade e decidimos agarrá-la», afirma Inês Manuel. «A coleção era para ser desenvolvida pela Maria, mas ela estava numa fase menos criativa, começou a partilhar ideias comigo e começámos a interagir uma com a outra. Comecei a dar inputs e a coisa deu-se. Foi muito natural», garante.
Uma dupla com pernas para andar
A ideia agora é manterem-se juntas «a longo prazo» nesta área. «Sendo família estamos sempre emparelhadas. Tivemos um percurso muito semelhante, somos muito próximas, e este passo foi natural, é deixar acontecer, ver a recetividade das pessoas, que é algo que estamos muito curiosas para perceber», confessa Maria Carlos.
Até ao momento a trabalharem em separado, com recetividades muito positivas a ambas, até porque «cada uma tem uma identidade muito solidificada», mas que «se complementa muito bem», como destaca Inês Manuel, as perspetivas são positivas para um futuro que se fará, necessariamente, de crescimento das vendas, que se concretizam já também nos mercados internacionais, essencialmente através do canal online.
«O único impedimento, que é o pulo que temos que dar a seguir, é conseguir dar mais resposta. Às vezes tenho pedidos a que não consigo dar resposta, nomeadamente por causa da distância, porque a partir do momento em que não há um sítio onde a pessoa possa experimentar, já é uma limitação muito grande», aponta Maria Carlos. «A ideia será começar a atingir outros mercados e ter uma estrutura também, porque neste momento estamos a trabalhar sozinhas. Às vezes é muito difícil dar conta do recado sozinhas», confessa Inês Manuel.
Por outro lado, esta forma de trabalhar traz uma relação mais forte entre designers e consumidoras. «É um atendimento mais personalizado, acho que é importante e para nós tem funcionado dessa maneira. Há uma conversação, falam diretamente comigo, o que também é muito bom para criar aproximação com o cliente. Não é só vender por vender, estão a ligar diretamente com o criador, o que acho que é uma experiência valiosa que se perdeu de há uns tempos para cá por causa da produção em massa», refere Maria Carlos. «É um processo muito individual e personalizado», remata Inês Manuel.