O desporto da liberdade de escolha

Dos vestidos aos skorts e hijabs, as atletas têm lutado pelo direito de escolher o que querem vestir quando competem no mundo olímpico e o evento em Tóquio foi o palco perfeito para a causa de igualdade, aplaudida pelo público.

Soraya Aghaei [©Instagram/@soraya__aghaei]

Das mais de 30 mulheres que jogaram badminton nos Jogos Olímpicos, incluindo a indiana PV Sindhu e a taiwanesa Tai Tzu Ying, cerca de dois terços optaram por vestir calções, skorts, vestidos, saias ou hijabs. «Tenho sorte de podermos usar o que quisermos», reconhece a jogadora de badminton indiana, medalhista olímpica de prata dos Jogos Olímpicos do Rio em 2016, quando derrotou Cheung Ngan Yi de Hong Kong por 21-9, 21-16, citada pela Reuters.

Soraya Aghaei Hajiagha do Irão usou um vestido, leggings e um hijab, juntamente com a treinadora, no jogo contra a chinesa He Bing Jiao. Saias e skorts foram a escolha mais popular entre as atletas, incluindo a belga Lianne Tan e a japonesa Nozomi Okuhara.

Na esperança de promover a liberdade de escolha e incentivar as mulheres a usarem o que realmente as faz sentir confortáveis, a equipa alemã de ginástica feminina usou macacões de corpo inteiro nas qualificações. No entanto, a seleção norueguesa de andebol de praia foi multada no valor de 1.500 euros por usar calções em vez de biquínis, o que segundo a European Handball Federation e a International Handball Federation prejudica a «apresentação ideal do desporto», já que as regras estabelecem que a parte inferior do biquíni tem de ter uma largura máxima de 10 centímetros e ainda um «encaixe justo e um ângulo de corte ascendente».

Tai Tzu Ying [©Instagram/@tai_tzuying]
Esta situação não é um caso isolado, dado que há cerca de uma década, antes dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012, alguns oficiais da Badminton World Federation (BWF) foram criticadaos por uma regra que defendia o uso de saias nas mulheres para tornar o desporto mais «feminino e apelativo» para os fãs e patrocinadores, uma norma, todavia, cancelada antes desta edição.

«Em retrospetiva, fomos pelo caminho errado, mas aprendemos com isso e os nossos patrocinadores também», explica Nora Perry, duas vezes campeã mundial e membro do conselho da BWF, cujos fornecedores incluem a Adidas e a Yonex.

A atleta, que tem mais de 75 títulos internacionais em competições individuais, revelou que na altura em que jogava, na década de 80, a moda era usar saias e vestidos.

Causas ouvidas

«Foi bom que as vozes das mulheres tenham sido ouvidas», afirma a jogadora britânica Kirsty Gilmour. «Pessoalmente, não me sinto confortável com uma saia, por isso prefiro calções curtos ou compridos. Temos sorte de não sentirmos pressão na forma como devemos ser», acrescenta Tai Tzu Ying.

Simone Biles [©Instagram/@simonebiles]
Além da igualdade subjacente ao poder de escolha das mulheres em vestirem o que quiserem nas competições, os Jogos Olímpicos de Tóquio também acabaram por promover outra causa: a saúde mental. A ginasta norte-americana Simone Biles, qualificada para as cinco finais individuais, renunciou à final individual da prova de ginástica, uma decisão que chamou à atenção do público para esta vertente de saúde.

«O amor e o apoio que recebi fizeram-me perceber que sou mais do que as minhas conquistas e do que a ginástica, algo em que eu nunca acreditei verdadeiramente antes», escreveu a ginasta de 24 anos numa publicação feita através do Instagram após a renúncia.