O Comércio Electrónico português

Recentemente têm sido divulgados diversos relatórios que analisam o mercado do comércio electrónico em Portugal e que demonstram que as empresas portuguesas não estão a aproveitar esse fenómeno.

Num desses relatórios, efectuado pela Andersen Consulting, é «dada a conhecer a percepção dos principais intervenientes da nossa economia relativamente ao comércio electrónico, nomeadamente no que se refere ao seu impacto, ritmo que tencionam aplicar no seu desenvolvimento, e às perspectivas que se podem antecipar para os próximos anos». Algumas das conclusões apresentadas são bastante interessantes:

• Existe um sentimento quase generalizado de falta de noção e de entendimento, por parte das empresas/organizações participantes, do verdadeiro alcance, das potencialidades e das oportunidades e ameaças associadas ao Comércio Electrónico;

• Há uma nítida percepção do potencial impacto, nos actuais modelos e processos de negócio, mas menor no que se refere às oportunidades de criação de novos negócios;

• Existe a ideia que este novo mercado oferecerá oportunidades, ainda que não sejam imediatas e, na generalidade, não se identificam ameaças no horizonte. Não existe, consequentemente, um sentimento de urgência;

• Existe uma perspectiva muito centrada no território nacional;

• A utilização das páginas Web centra-se quase exclusivamente na divulgação de informação.

Do relatório «As Lojas Portuguesas na Internet», elaborado pela UNICRE e pela Plano21.com pelo 2º ano consecutivo, pode-se concluir que houve uma evolução significativa das lojas electrónicas portuguesas, nomeadamente na informação sobre os produtos disponíveis e no apoio ao cliente, se bem que continue a existir um difícil acesso a essas lojas bem como uma fraca internacionalização.

Este relatório, que analisa em detalhe cerca de 102 sites de comércio electrónico portugueses, demonstra que cerca de 70% das compras efectuadas através da internet em Portugal são canalizadas para sites estrangeiros. A inversão desta tendência é então um dos grandes desafios para o mercado português do comércio electrónico. Ao nível do domínio de endereço da loja, o “.pt” está a perder terreno para o “.com”: enquanto que em 1999 cerca de 57% das lojas estavam registadas sob o domínio “pt”, na pesquisa deste ano apenas se detectaram 50%.

A confiança dos consumidores nas lojas electrónicas é fundamental para a promoção deste tipo de comércio. As marcas conhecidas transmitem alguma confiança aos consumidores, mas para quem não possui uma marca conhecida, a solução poderá passar pelos selos de garantia, que são utilizados por 17% das lojas. Outro factor que poderá melhorar a confiança dos consumidores é a divulgação da política de confidencialidade, procedimento que é utilizado por 36% das lojas electrónicas. Luís Novais, o principal responsável pelo estudo em questão, considera que «hoje podemos ter um nível de confiança muito grande nas lojas portuguesas», o que contrasta com a realidade portuguesa de há um ano atrás, considerada desastrosa neste domínio. Embora apenas 44% das lojas tenham políticas de devolução, 41% já indicam prazos de entrega inferiores a 5 dias.

Um dos factores que é apontado como grande responsável pela evolução positiva verificada no comércio electrónico nacional é a explosão dos acesso à Internet, graças aos serviços gratuitos que apareceram como cogumelos no final de 1999. Com um aumento de 175% entre Fevereiro de 1998 e Dezembro de 1999, o número de portugueses com acesso à Internet já se aproxima dos 2 milhões, se bem que o número de utilizadores regulares da Internet e o número de utilizadores do comércio electrónico seja bastante inferior.