Novos materiais captam atenção

Os chamados materiais de nova geração, que incluem alternativas a matérias-primas derivadas de animais, estão rapidamente a conquistar o mercado da moda, de acordo com um novo estudo que mostra um aumento dos inovadores nesta área, com o valor investido no ano passado a mais do que duplicar face a 2020.

[©Pangaia]

De acordo com o mais recente estudo do Materials Innovation Institute (MII), o número de empresas a investir em materiais de nova geração – que incluem alternativas a matérias-primas de origem animal – aumentou para 95 (face às 74 do estudo anterior), 55 foram criadas depois de 2014. A maior parte (41) destas 55 novas empresas trabalham na área da biomimetização de couro – como é o caso da Corkor, a única empresa portuguesa que integra a lista. No mesmo período, entre estas novas empresas, cinco trabalham em alternativas à seda, cinco em opções para a lã, quatro em novas possibilidades para substituir pelos, três na área da penugem e uma em alternativas a peles exóticas e couro, sendo que algumas trabalham em mais do que uma área.

[©Corkor]
O MII revela que o investimento angariado pelas empresas de novos materiais em 2021 mais do que duplicou em comparação com 2020, para 980 milhões de dólares. Além disso, o dinheiro investido só no ano passado é quase o mesmo do total dos quatro últimos anos, mesmo com a pandemia de Covid-19 – no total, o investimento desde 2015 amonta a 2,3 mil milhões de dólares.

O estudo mostra ainda que o número de marcas de moda que estão a atentar adotar materiais de nova geração tem vindo a crescer. «O MII reuniu com 40 grandes marcas de moda e todas, menos duas, estão ativamente a procurar materiais de nova geração para integrar nas suas cadeias de aprovisionamento. Com tantas opções de matérias-primas de nova geração a chegarem ao mercado, as marcas e consumidores terão, em breve, mais escolhas do que couro, lã, seda, penugem, pelo e peles exóticas de origem animal», salienta Nicole Rawling, CEO do MII.

Oportunidades de crescimento

[©Bolt Threads]
De acordo com Elaine Su, diretora de inovação do MII, «muitas marcas da indústria têm objetivos específicos públicos e promessas para atingirem melhorias mensuráveis em sustentabilidade. Tendo em conta o impacto significativo que as matérias-primas têm na pegada ambiental de uma marca, é esperado que estas metas serão largamente atingidas através da transição de materiais incumbentes (e da atual geração) para alternativas da nova geração. Estes compromissos de sustentabilidade, tanto em termos de volume e prazos, são, por isso, uma boa referência para inovadores de materiais e investidores medirem o tamanho do mercado e a taxa de crescimento potencial da indústria de materiais de nova geração».

Contudo, há barreiras à adoção destas matérias-primas alternativas, nomeadamente a sua disponibilidade em grande escala, destaca Jacqueline Kravette, administradora do MII. «A atual indústria de matérias-primas ainda não produz opções sustentáveis à escala para responder à performance, estética e exigências de preços das marcas. Quando ajudamos as marcas a aprovisionar-se com estes materiais de nova geração, encontramos muito poucas opções que respondam às especificações das marcas e aos seus objetivos de sustentabilidade. Continuamos a reiterar que a perfeição não pode ser inimiga do bom. Por outras palavras, embora não estejamos ainda na sustentabilidade a 100% do início ao fim, passar para os materiais de nova geração terá impactos ambientais significativamente positivos», afirma no estudo.

[©Natural Fiber Welding]
O documento acrescenta ainda que a aceleração da indústria de materiais de nova geração está a ser alimentada por avanços na ciência e na tecnologia, pelas preferências dos consumidores e por tendências em termos de legislação.

«Há oportunidades excitantes à espera de serem exploradas, aqueles que forem rápidos a adaptar-se têm a possibilidade de ter grandes benefícios financeiros ao afirmarem o seu lugar na indústria de materiais do futuro», resumem os autores do estudo, acrescentando, como conclusão, que «a colaboração é o caminho do futuro. Agora é a altura de abraçar a inovação sustentável, tanto para criar um futuro habitável na Terra como para criar um futuro próspero para a indústria dos materiais».