Nova geração de materiais capta mercado

Avanços científicos e tecnológicos, mudança nas prioridades dos consumidores e as tendências legislativas são algumas das forças motrizes do mercado das matérias-primas de nova geração, que estão a ser aplicadas à moda, à indústria automóvel e à produção de artigos para a casa.

Mylo [©Mylo]

Segundo o estudo State of the Industry da Material Innovation Initiative (MII), o mercado de matérias-primas de nova geração deverá crescer para uns estimados 2,2 mil milhões de dólares (cerca de 1,87 mil milhões de euros) até 2026, equivalente a cerca de 3% de todo o mercado de materiais, que rondará os 70 mil milhões de dólares.

«À medida que enfrentamos mudanças climáticas potencialmente terríveis, a indústria dos materiais de próxima geração deve ser acelerada», afirma Nicole Rawling, CEO e cofundadora da MII. «Investimentos significativos, parcerias e mais empresas e investigadores de materiais a estudarem os desafios que a indústria enfrenta são muito necessários. A colaboração na inovação sustentável vai resultar tanto num futuro próspero para as empresas de materiais, marcas e investidores bem-sucedidos, como num futuro passível de ser vivido na Terra», explica.

Milhões investidos

A MII registou um aumento significativo no número de empresas de materiais, que chama de inovadores, investidores e marcas que estão a entrar neste mercado dos materiais de nova geração, mas considera que o mercado é ainda emergente – a maioria das empresas foi criada apenas depois de 2014 – e que há muito espaço para mais atores.

Modern Meadow [©Modern Meadow]
A MII refere que as matérias-primas derivadas de animais, sobretudo couro, que são amplamente usadas na moda, no automóvel e em artigos para a casa, contribuem para as mudanças climáticas, para a degradação do meio ambiente e da saúde pública, promovendo ainda a crueldade animal. A existência de materiais alternativos capazes de manter a estética e a performance irá permitir alcançar uma indústria mais sustentável

Nos últimos sete anos, de acordo com o estudo, houve um aumento significativo ao nível dos inovadores, tendo identificado atualmente 74 empresas de matérias-primas de nova geração, 49 das quais centradas na mimetização de couro, nove de seda, sete de lã, seis de penugem, cinco de pelos e uma de peles exóticas.

Embora a maioria dos materiais vegetais ou derivados de plantas esteja historicamente ligada à busca por alternativas de couro, há empresas mais recentes que estão a usar micélio e materiais derivados de micróbios para criar réplicas, tanto estéticas como de performance, das peles animais. Os inovadores que queiram entrar no mercado devem considerar a seda, lã, penugem, pelos e peles exóticas de nova geração, onde há muitas lacunas no mercado, avança o estudo.

Piñatex [©Piñatex]
Desde 2015 foram investidos 1,29 mil milhões de dólares em materiais de nova geração, aplicados por 95 investidores, quer individuais, quer de private equity, capital de risco e marcas de moda. Só em 2020, e apesar da pandemia, foram angariados 504 milhões de dólares, quase o mesmo valor que no conjunto dos anos anteriores, salienta o estudo.

«Vemos a indústria de materiais de nova geração como estando 5 a 10 anos atrás da indústria de proteínas alternativas. O tamanho do mercado para proteínas alternativas é de aproximadamente 2,2 mil milhões de dólares, de um mercado mundial de carne de 1,7 biliões de dólares em 2019. Estimamos que a indústria de materiais de próxima geração vá crescer a uma taxa mais elevada e atingir aproximadamente 2,2 mil milhões de dólares do mercado mundial de matérias-primas de base animal de 70 mil milhões de dólares em cinco anos», afirma Elaine Siu, diretora de inovação da MII e autora do estudo.

Marcas atentas

As marcas de moda têm também revelado um interesse significativo na utilização de novos materiais, como é o caso da Gucci, que anunciou ter desenvolvido couro de nova geração internamente, que batizou de Demetra, um anúncio que deverá ser replicado por outras marcas, acredita a MII.

«As marcas de moda reconhecem a tendência para matérias-primas mais sustentáveis e sem origem animal. Reunimos com 40 marcas de moda, automóvel e de artigos para casa e todas, com exceção de duas, estão ativamente à procura de matérias-primas de nova geração para integrar nas suas cadeias de aprovisionamento», revela Jacqueline Kravette, diretora de marcas da MII.

Gucci Demetra [©Gucci]
Segundo o estudo, as marcas têm vários papéis importantes a desempenhar no ecossistema de matérias-primas de nova geração, desde o financiamento de iniciativas de inovação à adoção desses materiais e colaboração com start-ups para criar novos produtos. Kering, Hermès, Gucci, Adidas, Lululemon, Stella McCartney, Ralph Lauren e Allbirds são algumas das marcas que estão a trabalhar nesse sentido e que têm infraestrutura, capital e redes de distribuição para cooperar com inovadores e colocarem produtos no mercado com matérias-primas de nova geração, conclui a MII.