Norma de qualidade ISO 9001 vai ter um novo referencial

Não se poupam criticas relativamente à norma de qualidade Iso 9001, existente desde 1994, frequentemente apelidada de rígida, burocrática, «pesada». Assim sendo, dado o aparecimento de novas circunstancias, novos casos e outros referenciais e na importância do conceito de «gestão pela qualidade total», a International Organization for Standardization (IOS), vem estudando um novo referencial que será publicado no final deste ano. «Estas orientações derivam da realização de experiências dos últimos anos», sublinha a Agência Francesa para a Normalização (Afnor), acrescentando «daqui em diante as futuras normas Iso 9000 terão como objectivo prioritário a satisfação das necessidades dos utilizadores». Na realidade, os três níveis existentes até ao momento, 9001, 9002 e 9003, são fundidos num só denominado Iso 9001, tratando-se, como anteriormente, duma norma de exigência, onde uma empresa certificada deve corresponder aos critérios estabelecidos.

A melhoria será ainda mais significativa se adicionarmos uma norma 9004, dita de recomendação, que sensibiliza todos os intervenientes (dirigentes, pessoal, accionistas, fornecedores, etc), para a satisfação duradoura do cliente. Acrescente-se que todos os textos foram simplificados «não na linguagem da entidade qualificadora, mas naquela compreendida por todos os utilizadores da norma, incluindo os menos entendidos» refere a Afnor.

Rolf Martin, director técnico e de qualidade da Boussac Tissus d’Habillement (BTH), adianta que «até agora podíamos trabalhar com os métodos normalizados e fazer maus produtos», uma opinião partilhada pelos compradores da distribuição organizada, admirados por não existir uma maior ligação entre a qualidade intrínseca de um produto e a norma Iso 9000. De facto, a norma certificava os processos e não os produtos, e ficava frequentemente hermética aos não especialistas, para além de constituir um processo complexo de se realizar nem sempre permeável ás pequenas empresas.

Refira-se que a BTH não avançou para uma certificação segundo o referencial precedente, investindo antes na nova norma 9001, «porque durante alguns anos trabalhámos no espirito da Iso , mas os constrangimentos documentais pareceram-nos demasiado pesados», refere Rolf Martin, prosseguindo «o novo referencial, contrariamente, inscreve-se numa dinâmica com muito menos constrangimentos documentais, que podem por vezes ocupar, nalgumas empresas, uma pessoa a tempo inteiro». Se tudo decorrer normalmente, o empresário poderá obter a sua certificação no espaço de cerca de um ano.

Considere-se no entanto que a publicação do novo referencial Iso 9001 vai apresentar problemas de adaptação ás empresas certificadas segundo o antigo referencial, mas terão três anos para realizar a transição para a Iso 9001. O interesse pelas normas, não obrigatoriamente concretizadas em certificações, é uma realidade a montante da cadeia textil, pois «os nossos clientes pedem-nos cada vez mais para cumprir os cadernos de encargos» refere André Pouchadon, presidente da estamparia Sotap Carol. «Temos portanto necessidade permanente de recorrermos ás normas, europeias se possível, para falar uma linguagem comum», acrescentou. Este empresário efectuou uma auditoria com o objectivo da certificação Iso 9000, mas entretanto preferiu desistir uma vez que os cadernos de encargos dos clientes preenchem cada vez mais esta função. «Os teste são realizados cada vez mais vocacionados para o produto final confeccionado, pelo que não vamos exigir as mesmas características de elasticidade para uma saia curta ou para uma comprida», sublinha Pouchadon, acrescentando «o nosso laboratório de controlo e de testes reforça-se cada ano, porque há permanentemente novas normas e novos métodos».

De realçar que por vezes as normas estão simplesmente em atraso relativamente aos produtos, problema com o qual se defrontou a tecelagem Avelana, grupo Chargeurs, no que concerne o seu produto Elixir. Este tecido em lã-polyester-Lycra, desenvolvido com a Du Pont, apresenta grandes qualidades anti-rugas. «Se nós enrugarmos o tecido manualmente e o compararmos com qualquer outra mistura a diferença é evidente», assinala Ludovic Rollin, responsável pela qualidade na Avelana. «Mas não temos nenhum meio de quantificar esta evidência. Faltava-nos uma norma para a fazer reconhecer de forma objectiva».

O industrial contactou a Afnor, sendo orientado para o gabinete para a normalização das industrias do STV, o qual por sua vez o remeteu para o Instituto Têxtil de França. Frédéric Real, responsável pela I&D da Avelana, adianta: «nós começámos a trabalhar com o material existente, mas com métodos que não existiam antes». A norma, neste momento em curso de laboração, quando for publicada, deverá ser solicitada à Afnor para todo o industrial que desejar testar e quantificar a qualidade de anti-rugas dos seus tecidos extensiveis.

O passo da Avelana realça a importância de nos interrogarmos sobre a relação entre a moda pró-activa e a normalização, ou pensarmos como trabalhar com a mesma meticulosidade e os mesmos métodos quando em poucos dias saem novas tendencias no circuito curto da moda. É dificil ter tempo de testar os produtos de forma tão completa, sobretudo se considerarmos pequenas peças com numerosas cores, misturas de fibras, etc.