Os recordes de temperatura continuam a ser batidos todos os dias, as diferentes indústrias não estão a fazer o suficiente para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e a moda não é exceção. Apesar dos vários compromissos assumidos, a realidade é que a indústria da moda não está a fazer os progressos necessários para se tornar menos poluente, refere Angeli Mehta, escritora na área da ciência, num artigo publicado na Reuters.
Os especialistas estimam que a indústria da moda seja responsável por 2% a 8% das emissões mundiais de gases com efeito de estufa, dependo de fatores como o tipo de energia usada ou se se contabiliza a lavagem e secagem de roupa feita pelos consumidores.
Uma análise da McKinsey sugere que reduzir em 15% os stocks vendidos em saldo se traduziria numa redução de 10% nas emissões sem impactar o volume de negócios.
A análise da consultora aponta uma série de medidas a aplicar na cadeia de aprovisionamento que podem gerar poupanças de custos suficientes para mais do que pagar os investimentos em energias renováveis e reciclagem de materiais. Estima que quase 90% da redução vai custar menos de 50 dólares por tonelada – cerca de metade do preço de uma tonelada de carbono no sistema de compensações de emissões da União Europeia.
Há muitos compromissos da indústria para tentar fazer avançar o sector, embora muitos tenham os mesmos membros. As 160 marcas que assinaram o Pacto da Moda comprometeram-se a usar 50% de energias renováveis nas suas próprias operações até 2025 e 100% até 2030.
O objetivo coletivo pode ser atingido, refere o artigo, mas está dependente dos esforços de cerca de um terço dos membros, que já atingiram o objetivo em 2020. Há ainda vários projetos em fase piloto pensados para desenvolver matérias-primas com menos impacto. A Sustainable Apparel Coalition (SAC) tem um plano de descarbonização para atingir uma redução de 45% nas emissões do sector até 2030. Desde este ano que está a pedir às marcas e retalhistas para se comprometerem com as metas baseadas na ciência – algo que afirma estar já a meio caminho.
Um objetivo baseado na ciência «deve ser não negociável para esta indústria», afirma Richard Wielechowski, que lidera o programa têxtil no think-tank Planet Tracker. Mas, acrescenta, depois há o desafio de cumprir. A iniciativa Science Based Targets (SBTi) exige uma redução das emissões de pelo menos 4,2% ao ano para se manter num caminho alinhado com o objetivo de manter o aquecimento global dentro do limite de 1,5 ºC.
Cerca de 96% das emissões totais das marcas de moda estão no chamado Scope 3, que ocorre na cadeia de aprovisionamento da indústria e na utilização e eventual descarte dos produtos.
Contudo, a SAC concordou que os produtores devem estabelecer objetivos apenas para as emissões de Scope 1 e Scope 2 – que são diretamente controladas por eles ou da geração de eletricidade que a empresa consome.
Alguns grandes produtores, como a YKK, estabeleceram metas baseadas na ciência, mas Andrew Martin, vice-presidente executivo da SAC, sustenta que muitas pequenas e médias empresas não têm o conhecimento, competências e recursos para as estabelecer. O plano é apoiá-las nisso, mas Andrew Martin sublinha que «muitos produtores têm uma capacidade muito limitada para influenciar as emissões de Scope 3, que são em grande parte determinadas por escolhas das marcas».
A coligação, que tem sido criticada no passado por falta de transparência, afirma que vai publicar os compromissos dos seus membros no próximo ano, embora não haja uma decisão final sobre se irá comunicar o progresso. O vice-presidente executivo da SAC reconhece que uma verdadeira mudança não poderá emergir sem «regulamentação ambiciosa e padronizada que nivele o terreno para toda a indústria».
A H&M tem sido transparente sobre os seus compromissos e é considerada líder na sustentabilidade em vários índices. No último Fashion Transparency Index da Fashion Revolution, a retalhista sueca ocupa o sexto lugar, com 71%.
O objetivo da H&M é uma redução de 56% nas emissões de Scope 1, de Scope 2 e de Scope 3 até 2030, em comparação com os números de 2019. Tal como na maior parte das empresas, as emissões de Scope 3 da H&M são 90 vezes as emissões das suas próprias operações. No seu último relatório, para 2022, a retalhista indica que terá reduzido em 7% as emissões, para cerca de 5,6 milhões de toneladas, em comparação com 2019. E este progresso não inclui a fase de consumo do consumidor, que acrescenta mais 1,4 milhões de toneladas.
Perceber o que se passa com a indústria e fazer comparações é difícil devido à falta de dados de boa qualidade e ao facto de muitos atores da indústria não revelarem o que está incluído, por exemplo nas emissões de Scope 3, ou a utilização de energias renováveis na cadeia de aprovisionamento, como revela a segunda parte do artigo.