Myanmar afirma-se no vestuário

O país que em novembro de 2015 pôs fim a mais de 50 anos de repressão militar está a cimentar a sua posição na cadeia de valor da indústria de vestuário. Depois de ter fixado o primeiro salário mínimo nacional, o Myanmar está a investir em infraestruturas e na produção de qualidade para atrair novos parceiros de sourcing.

No ano passado, as exportações de vestuário de Myanmar subiram cerca de 20%. Os números mais recentes da Associação de Produtores de Vestuário de Myanmar, citados pelo just-style.com, mostram que as exportações de vestuário atingiram cerca de 1,8 mil milhões de dólares (1,61 mil milhões de euros) em 2015, um aumento face aos 1,7 mil milhões de dólares no ano anterior.

As exportações de calçado também registaram um aumento significativo, atingindo cerca de 150 milhões de dólares no ano passado, em comparação com 110 milhões de dólares nos três anos anteriores. O crescimento súbito, afirma a associação, deve-se sobretudo a uma subida nos envios de calçado para os EUA, Alemanha, França e Reino Unido. O país beneficiou de novos parceiros de sourcing nos últimos anos, incluindo a gigante alemã de sportswear Adidas.

Anteriormente, Myanmar apenas produzia artigos de calçado como chinelos e sandálias, a maior parte para o mercado japonês. Embora ainda represente uma pequena proporção das exportações totais de Myanmar, cerca de 25% do calçado produzido para exportação inclui agora artigos mais complexos, como o calçado de desporto e sapatos clássicos. Estes, afirma a Associação de Produtores de Vestuário de Myanmar, são mais comummente produzidos por empresas completamente novas resultantes de investimento estrangeiro direto e para os mercados ocidentais.

O Japão continuou a ser o principal mercado de exportação de Myanmar no ano passado, com uma quota de 33%. A UE representou uma quota de 25%, enquanto os EUA e a China registaram ambos uma quota de 2,4% das exportações.

Há duas semanas, os EUA anunciaram planos para restaurar os benefícios comerciais a Myanmar depois de mais de 25 anos. A ação prevê que o país, anteriormente conhecido como Birmânia, entre no programa de preferências comerciais dos EUA, batizado Generalized System of Preferences (GSP), a 13 de novembro, repondo os benefícios ao país do sudeste asiático. Como resultado, a Associação de Produtores de Vestuário de Myanmar espera um pico nas exportações de vestuário para os EUA.

No início deste ano, o Office of Foreign Assets Control dos EUA tirou sete empresas estatais e três bancos de Myanmar da lista de Specially Designated Nationals, muitas vezes referida como “lista negra”, que efetivamente impede as empresas americanas de estabelecerem negócios com as pessoas ou entidades listadas. Também liberalizou as licenças bancárias gerais relativamente a trocas financeiras com o país.

«Isto irá tornar as operações de negócios em Myanmar muito mais fáceis para toda a gente, não apenas para as empresas americanas», indica um porta-voz da Associação de Produtores de Vestuário de Myanmar, em declarações ao just-style.com. «O fardo das diligências das empresas será muito menor porque o risco legal será muito menor. Essencialmente, os EUA e Myanmar terão relações normalizadas. Isso deve significar um pico nas exportações para os EUA e também melhorias no geral na facilidade de transferências de dinheiro e bancárias para e de Myanmar», acrescenta.

Myanmar continua a testemunhar uma forte expansão industrial e no ano passado criou quase uma nova fábrica de vestuário por semana, elevando o total para cerca de 330 unidades de produção. Esta expansão e diversificação da base produtiva do sector prolongou-se em 2016, garante a Associação de Produtores de Vestuário de Myanmar.

Os salários também melhoraram e em setembro de 2015 foi criado o primeiro salário mínimo do país, que estabeleceu uma remuneração base de 70 dólares por mês, representando quase o dobro salário médio inicial de novos trabalhadores. Com bónus e horas extraordinárias pagas a duplicar – mais do que nos países vizinhos –, as costureiras em Yangon [a capital do país] podem esperar ganhar cerca de 150 dólares por mês.

Myanmar também investiu em infraestruturas, com a melhoria das estradas e dos transportes, com mais novas fábricas a moverem bens de e para a Tailândia e a China e sem estarem dependentes dos portos de Yangon. A Associação de Produtores de Vestuário de Myanmar criou ainda o primeiro Código de Conduta em fevereiro do ano passado, numa ação pensada para criar práticas de negócio responsáveis e éticas para a sua crescente indústria de vestuário.

A SMART Myanmar – uma iniciativa financiada pela UE para promover o vestuário “made in Myanmar” e práticas sustentáveis – foi lançada em 2014 e, desde então, a Associação de Produtores de Vestuário de Myanmar indica que o projeto aumentou «substancialmente» a sua abrangência. No ano de 2016 até agora, o projeto trabalhou com 79 empresas em questões como saúde e segurança no trabalho, gestão de recursos humanos e gestão ambiental, com planos para alargar a sua influência em 2017 e aumentar as exportações do país em 300% até ao final de 2019 (ver Financiamento europeu impulsiona Myanmar).