O primeiro presidente da recém-criada Federação da Indústria Têxtil e do Vestuário explica que não apoiou o MTV quando percebeu que se tratava de um movimento que juntava empresas, em vez de associações
Jornal Têxtil – Para se perceber o contexto da criação da Federação, é importante saber o que aconteceu desde as reuniões que se realizaram em 1998 entre associações e o Prof. Augusto Mateus. O que se passou desde então até agora? Joaquim Sousa Coutinho – A ideia de se constituir algo que reunisse as associações e as representasse nos assuntos comuns já existia há muitos anos. Há cerca de dois anos foi sugerido que o prof. Augusto Mateus poderia ser um elo de ligação importante para se constituir aquilo que era uma ambição antiga. Houve várias reuniões com o prof. Augusto Mateus, em que participaram os presidentes das associações, nas quais sempre foi expresso que a maioria das associações pensava que a única forma de fazer alguma coisa que as unisse era através de uma nova instituição que se criasse, mas nunca com o desaparecimento das actuais associações. Contra esta posição e com a ideia de uma associação única aparecia normalmente a APT. As restantes consideravam que as associações deveriam continuar e que deveriam ser esvaziadas do seu conteúdo em tudo aquilo que fosse de natureza comum, mantendo aquilo que fosse específico e a sua relação com os associados.
JT – Esse era o projecto aprovado por todas as associações? JSC – Sim, de certa forma, porque não é fácil de um momento para o outro levarmos os associados, nomeadamente as empresas mais pequenas, a aceitarem uma decisão para uma associação única. Depois deste processo, que não chegou a uma finalização, porque quando nós apresentámos o assunto aos nossos associados houve uma reacção muito grande no sentido de que o que se devia constituir era alguma coisa que fosse mais do tipo federativo e nunca um processo para uma associação única. Isto levou a um esmorecimento deste processo com o Prof. Augusto Mateus. Depois disso houve a criação do Movimento Têxtil e do Vestuário (MTV), que tem características que, nós associações, nunca apoiámos porque começa por ser um movimento promovido por empresas e não por associações. O que o MTV pensou criar foi uma nova associação em que se integrariam empresas, e possivelmente também associações, mas sem lhes dar nenhuma posição de representatividade especial, mesmo quando elas representam muitos associados. É claro que nós continuamos sempre a pensar que devíamos fazer qualquer coisa pelo movimento associativo. Não estamos numa época em que se possa deixar de estar unido para defender os pontos importantes do nosso sector.
JT – O processo do MTV não agradou portanto às associações? JSC – Quando nós vimos o que era o MTV, depois de conhecidos os seus estatutos, imediatamente tivemos que reagir porque não concordávamos com o projecto e por isso voltámos ao espírito da Federação e efectivamente ela constituiu-se. O espírito desta Federação é aquele que nós sempre pensámos que seria o ideal para esta primeira etapa: as associações continuarem a trabalhar na forma do costume, apenas passavam para a Federação aquilo que considerarem que é comum e ao mesmo tempo esta Federação seria a representante para já das cinco, com a esperança de que daqui a algum tempo sejam mais da voz única destas associações, tanto a nível nacional como internacional.
JT – Existe a possibilidade de as outras associações virem a integrar a Federação? JSC – A Federação é aberta, podendo entrar qualquer associação têxtil que queira.
JT – Os convites estão feitos? A porta está aberta…? JSC – A AICR está a estudar, e de fora só está a APT que será sempre bem vinda. Quando fizemos a primeira reunião convidamos todas as associações têxteis. A APT foi a única que não apareceu, respondendo em carta a informar que estava comprometida com o Movimento Têxtil e do Vestuário, que não tinha naquele momento cabimento vir a qualquer tipo de reunião deste género. Nós aceitamos perfeitamente essa posição.
JT – Como vai funcionar a Federação? JSC – Vai servir-se das estruturas das próprias associações. Nesta primeira fase, a Federação será presidida por um dos presidentes das cinco, com rotatividade de seis meses. Isto na fase de arranque, depois poderá ser dois anos. Nós queremos uma Federação leve, com representatividade e aquilo que se tiver de dispender será essencialmente naquilo que for necessário fazer no exterior e junto do Governo. Hoje é quase obrigatório fazer um acompanhamento permanente em Bruxelas, e isso terá que ser feito por um profissional capaz, e aí é que com certeza estará o maior custo da Federação. Quem estiver na presidência tem que colocar ao dispor da Federação a estrutura da sua associação. A Federação tem permanentemente como órgão de estrutura executiva os secretários-gerais de todas as associações que são a parte técnica e que depois será completada com alguém do exterior para lhes poder dar a força e a representatividade que interesse ao sector.
JT – Quais são as grandes preocupações e serviços a criar pela Federação? JSC – Quanto aos serviços, temos que ter uma preocupação de economia de escala. Não faz mais sentido que cada associação tenha por exemplo, um gabinete de desenho ou um gabinete de contratação colectiva. Todos esses serviços estamos já a juntá-los. Um dos primeiros problemas que vamos discutir é o Centro de Moda da Federação para estar ao serviço de todos associados, e até aos que não o forem.
JT – O Centro de Moda chegou a ser disputado entre algumas associações e o Centro Tecnológico? Chegou-se então agora a uma terceira solução: fica na Federação… JSC – Neste momento não preocupamos muito onde fica, preocupamo-nos muito mais que seja funcional e que trabalhe bem. De todas as associações que integram a Federação a que tem um centro de moda mais adiantado é indiscutivelmente a ANIVEC. Sendo assim, deverá ser esse centro o primeiro a ser aproveitado. Defendo que no futuro este centro deveria estar localizado no Citeve, mas não sei se será a opinião de todos os associados. O que me importa neste momento é que o Centro de Moda deixou de ser da ANIVEC e passou a ser da Federação. Não sei se vai já mudar das instalações ou não, já que esta associação está disponível para que isso aconteça já. Mas não sei se será boa política neste momento fazê-lo sair de lá. Como sabe hoje as apresentações da moda são sistemas altamente informatizados que são fácil de serem transportados para as outras associações. Desde que o Centro de moda passou a ser da Federação tem que estar ao serviço de todos e, assim, tem que ser funcional, prático, tem que nos trazer o mais que possa de ajuda ao nosso sector. Tem que ficar onde for mais funcional para todos e, para mim, o Citeve era uma solução, até porque continuo a defender a ideia da Casa Têxtil. Era no Citeve que deveríamos estar todos juntos… mas isso é o futuro que há-de encaminhar. Espero que quem me seguir na Federação faça aquilo que seja melhor para a indústria têxtil.
JT – Como é que a Federação se vai representar nas estruturas que foram criadas pelas associações, nomeadamente no Citex, no Citeve e no Cenestap? JSC – Acho que as associações vão continuar a manter as suas participações sociais, só que a política adoptada para esses centros será promovida pelo presidente da Federação. Naturalmente que o presidente da Federação não tem liberdade para fazer o que quiser. Quando houver algum problema, terá que reunir com as outras associações e que as auscultar.
JT – Qual é a representatividade da Federação no sector têxtil e do vestuário? JSC – Em número de empresas são três mil, em facturação 800 milhões de contos, em número de trabalhadores julgamos que serão cerca de 80/90