M&S em convalescença

Os resultados acima das expectativas da Marks&Spencer ainda não convenceram toda a gente. Alguns analistas acreditam que será preciso nada menos do que uma remodelação drástica da retalhista britânica, que conta já com 125 anos, como vender ou fechar as lojas Simply Food (com fracas performances) e abrir uma nova cadeia centrada em moda mais jovem. Outros avançam com uma possível parceria com o grupo de supermercados J. Sainsbury ou a cadeia de moda Next. Contudo, não é a primeira vez que os analistas anunciam a necessidade de uma mudança radical em empresas como catalizador de mudança e nem sempre essa é a única solução. O director-executivo da Wm Morrison Supermarkets, Marc Bolland, explica com orgulho como levou a cabo uma recuperação da empresa centrando-se em alimentos frescos, ao contrário da opinião dos analistas que o aconselhavam a ver-se livre dos balcões alimentares Market Street, a expandir-se para os produtos não-alimentares e a investir no on-line. A Marks&Spencer, o maior retalhista de vestuário da Grã-Bretanha, registou uma quebra de 4,2% nas vendas comparáveis (lojas abertas há pelo menos um ano) no Reino Unido nas 13 semanas até 28 de Março. Um resultado ainda assim positivo, depois da quebra de 7,2% no trimestre anterior, e que ultrapassou as expectativas, que apontavam para uma quebra entre os 6,5% e os 7,5%. O presidente-executivo da cadeia, Stuart Rose, sublinhou que o grupo não precisou de mudanças radicais e que pode construir a sua recuperação à volta das suas áreas tradicionais, atraindo a generalidade dos consumidores e apostando na qualidade, mesmo num quadro de abrandamento económico. Talvez as pessoas queiram comprar coisas que tenham mais qualidade», afirmou. Talvez as pessoas comam menos, mas melhor. Da mesma forma, talvez as pessoas não sigam pela via da moda descartável». A M&S, que serve 21 milhões de britânicos por semana nas suas mais de 600 lojas, revelou que começou por corrigir erros anteriores e que isso, embora o ambiente de consumo não se tenha tornado mais fácil, era provável que se reflectisse positivamente no negócio. Na alimentação, onde a M&S foi mais lenta a adaptar a sua oferta ao abrandamento económico, o grupo instalou uma nova gestão e teve sucesso com as suas promoções “Dine In”, que Rose considerou a promoção mais imitada de todas as promoções». Também prosseguiu a inovação com a gama “Cook Asian 1234” e refrescou a sua oferta com mais de 250 novas linhas no último trimestre. No vestuário, a quota de mercado de vestuário infantil está no seu máximo dos últimos sete anos, enquanto que os artigos para o lar estão a ter performances acima do orçamento, que Rose atribuiu a um factor de confiança» após o colapso de grupos como o MFI. A nova gama de vestuário feminino “Portfolio”, dirigida a mulheres mais velhas, está também a vender bem e o grupo está a realizar progressos na revitalização da “Per Una”, apesar de Rose ter admitido que há ainda muito por fazer. Apesar disso, o presidente desvalorizou as críticas de que a M&S estava a perder os compradores mais jovens. Nas últimas 12 semanas, tivemos 200 mil mulheres com idades inferiores a 35 anos, mais do que em igual período do ano passado», revelou. As opiniões dos analistas sobre a empresa, contudo, ainda divergem. Longe de beneficiar de uma “mudança para a qualidade”, acreditamos que a M&S está a lutar para manter os seus clientes, o que é uma grande preocupação para um retalhista maduro», considera Katharine Wynne, da Investec. Tony Shiret, do Credit Suisse, argumentava numa nota recente que a M&S precisava de um novo conceito de pequena loja para se voltar a ligar aos compradores mais jovens. Numa nota mais positiva, Luca Solca, da Bernstein Research afirmou que, embora falte ainda fazer muita coisa, a última actualização da M&S era bastante encorajadora, aumentando mesmo a sua apreciação das acções do retalhista atendendo, sobretudo, às melhorias registadas em termos de redução de custos e de um aprovisionamento do vestuário mais eficiente. Trabalhar muito para tornar a sua cadeia de aprovisionamento mais eficaz será crucial este ano, com os retalhistas a tentar mitigar o impacto da desvalorização da libra esterlina face ao dólar. Os analistas da JP Morgan são ainda mais optimistas: Achamos que a M&S será o próximo retalhista a ser reavaliado, tendo em conta a sua grande dimensão, a sua liquidez e o seu carácter cada vez mais internacional».