O rei estÁ morto., viva o rei. O mesmo é dizer que rei morto, rei posto. O vaticínio foi proclamado na Corunha por Pierre Bergé, um dos fundadores da casa de alta-costura Yves Saint-Laurent. Sem nostalgia, nem ressentimentos, Bergé reconheceu que estava na capital do novo reinado, que teve a sua ascensão com a saída do genial criador francês e com o desaparecimento do legado de Channel, Dior e Balenciaga. As criações da alta-costura não eram uma arte, mas sim uma maneira de acompanhar a arte de viver, e uma elite social com uma concepção que jÁ não existe, pois jÁ não faz mais sentido que um costureiro, a partir da sua torre de marfim, continue decidindo ou impondo se as saias devem ser curtas ou compridas. As mulheres de hoje querem ser livres, sem que nada nem ninguém lhes imponha formas de vestir ou de comportamento». Para o bem e para o mal, a moda de hoje é a Zara», sentenciou Bergé na apresentação da imponente e exclusiva exposição que durante três meses reunirÁ na Corunha 47 dos mais espectaculares modelos de Saint-Laurent, juntamente com as obras que os inspiraram, onde se incluem criações de Picasso, Matisse, Goya e Léger. A exposição serÁ uma mostra única e irrepetível, como o é também o diÁlogo entre a moda e a arte que Saint-Laurent soube transferir com mestria para os seus magníficos vestidos e criações. A mostra englobarÁ essas criações de moda em conjunto com quadros e esculturas originÁrias dos melhores museus europeus. Bergé, empresÁrio da alta-costura, mecenas e acólito inseparÁvel de YSL, tanto do homem como da marca que ajudou a criar, comenta com uma ponta de amargura que a moda, hoje, não necessita de ser criada por um artista. A verdadeira criação na moda, não é recriar uma fantasia de juventude ou o vestido das nossas avós. Só existe verdadeiramente moda com o diÁlogo entre esta e as ruas, entre todas as mulheres e o costureiro», algo que hoje em dia nem sempre existe nas colecções dos grandes desfiles. As mulheres não vestem as criações que são apresentadas nas passerelles, a moda hoje é cada vez mais Zara, mas continua, contudo, com o cunho e o legado de YSL. Muito da moda vestida pelas mulheres de todo o mundo, deve muito a Saint-Laurent, pois este desempenhou um papel determinante no que é a moda hoje em dia. Primeiro foi Channel quem libertou a mulher, anos depois YSL deu-lhes o mesmo poder que tinham os homens, fazendo-as vestir smokings e fatos». Foi desta forma que Bergé descreveu a cumplicidade entre o criador francês e as mulheres. O génio Saint-Laurent foi também pioneiro a mesclar intimamente» todas as criações artísticas, conseguindo transformar as peças de vestuÁrio em algo vivo e com movimento, reflectindo a arte dos quadros ou esculturas e aproximando a sua arte ao seu público. Yves Saint-Laurent, de 71 anos, jÁ quase nunca sai de casa devido à sua doença. Bergé abandonou a moda com YSL, quando o marketing substituiu a criação no mundo da alta-costura.