“Together”, o tema desta edição que celebrou 25 anos a trabalhar em prol da promoção da moda portuguesa, apresentou as coleções para a primavera-verão 2017, numa receita que juntou talentos emergentes com valores confirmados. «Together [juntos] sempre, porque é isso que nos move e é a única maneira de fazer as coisas», sublinha Eduarda Abbondanza, diretora da ModaLisboa. «Este tempo maravilhoso em Lisboa permite que a Praça do Município seja um pouco o bairro da moda, em que as pessoas circulam e não precisam de bilhete para isso. Tem muito a ver com a ModaLisboa ser uma marca nacional, mas ter nascido em Lisboa e ter tido sempre uma grande relação com a cidade», explicou ao Portugal Têxtil, acrescentando que «para além da missão de apoiar os criadores e as startups, [o evento] também tem uma responsabilidade sobre a cidade e de, como tal, proporcionar ao público em geral momentos e projetos engraçados». Foi o caso das Fast Talks, com entrada gratuita, que nesta edição foram dedicadas à forma como a moda pode mudar o mundo (ver Mudar o mundo com a moda).

A pensar em mudança e no futuro, a ModaLisboa reuniu os talentos emergentes na plataforma Sangue Novo no Pátio da Galé. A atuação dos Fandango – a banda de Gabriel Gomes e Luís Varatojo – deu o ritmo a um caleidoscópio de estilos, que consagrou João Barriga como vencedor do Prémio ModaLisboa. O jovem designer, formado pelo Modatex Lisboa, irá ter acesso a um Master Level Certificate in the Fashion Area, um workshop de oito semanas oferecido pela Domus Academy em Milão e uma bolsa de estudo de 5.000 euros atribuída pela Vulcano. «É ótimo ter acesso a esta bolsa», afirmou ao Portugal Têxtil, adiantando a vontade de «continuar a participar no Sangue Novo».
Deste grupo de novos talentos destacou-se ainda João Oliveira, que irá representar Portugal na próxima edição do festival de moda FashionClash, e, numa estreia no Sangue Novo, foi atribuída uma menção honrosa à marca Duarte, de Ana Duarte, focada no conceito de luxo desportivo, que irá agora apresentar as próximas coleções na plataforma LAB.
Nesta 47.ª edição, de resto, o LAB foi um dos espaços com mais novidades, entre a estreia da Morecco, a marca de João Magalhães, que se inspirou nos trajes budistas e tibetanos e na prática da meditação psicadélica e transcendental, e de Patrick de Pádua, que trouxe o fado para o sportswear. «O meu ponto de partida é sempre a música. Surgiu o fado e quis modernizar um pouco», revelou ao Portugal Têxtil. Denim, elastano, PVC e malhas mesh combinaram-se em 27 looks, «uma experiência nova» para o designer, que «nunca tinha feito tantos coordenados», afirmou.

O fado esteve ainda presente na apresentação mais emocional desta edição da ModaLisboa, com Olga Noronha a reinterpretar a filigrana para criar as suas esculturas vestíveis, que desfilaram ao som de música portuguesa, inclusivamente da fadista Marisa, que se sentou na primeira fila. «É uma pura homenagem às minhas raízes», confessou a designer.
Entre os nomes consagrados, a Saymyname regressou aos primórdios da marca, com o streetstyle a dominar, Christophe Sauvat manteve o espírito boémio das suas propostas e Lidija Kolovrat colocou os homens em contacto com o seu lado feminino, enquanto Ricardo Preto apresentou, pela primeira vez, a coleção de homem num desfile independente da coleção de senhora. «É um homem Ricardo Preto. Um homem que gosta de arquitetura, um homem minimal, simples e requintado, mas sem dúvida um homem contemporâneo», descreveu ao Portugal Têxtil.

Filipe Faísca, a celebrar também 25 anos de carreira, trouxe o lado mais comercial da sua marca para a passerelle, Nuno Gama voltou a pôr a moda na rua, com um desfile no Museu das Galeotas, em Belém, que se prolongou para a Praça do Império, e Dino Alves deixou um alerta importante sobre a conservação da natureza, com as flores criadas com folhos e tule do início do desfile, a darem lugar ao preto e à cinza no final da apresentação. «Este ano, no verão, estive uns dias muito perto da catástrofe que houve em Portugal com a história dos incêndios, que foram muito fortes e destruíram parte do país. Inconscientemente acabei por criar uma imagem que remetia para as cinzas e da morte das árvores», explicou ao Portugal Têxtil.

O pano desta edição da ModaLisboa encerrou ao som dos Blondie no desfile de Luís Carvalho, que foi beber inspiração à mítica vocalista da banda, Debbie Harry, com direito a bola de espelhos, cabelos volumosos e toda a imagética dos anos 70. «Quis fazer uma coleção mais rock, mais divertida, fugir da minha zona de conforto», admitiu o designer, que pela segunda vez consecutiva teve a responsabilidade de encerrar o evento. «É ótimo encerrar a ModaLisboa, é ótimo que me ponham nestas situações porque é um desafio», destacou.